Briga de Amor

Sexta feira eu nem quis saber “dela”. Sai com minha namorada e meus colegas. Eu “a” tinha usado quinta-feira e agora “ela” não passava de uma vaga lembrança do fundo da minha mente. Sexta feira eu nem me lembrei do seu nome. Ri, bebi, beijei na boca, nada em meus pensamentos, apenas o amor que tenho pela vida. Eu venci.

Sábado acordei. Rapidamente “ela” cortou meus pensamentos, sacudi a cabeça e me enganei: “Ressaca...” ri sem graça e sem vontade, como se “ela” pudesse me ver desdenhando “dela”. Levantei, fiz café, fui almoçar na casa do meu avô, dormi ate as quatro. Sonhei com “ela”... Acordei ansioso, queria tira-la da cabeça, então pensei na namorada, achei que isso pudesse me ajudar... em vão, acabei pensando mais e mais.... “nela”. Levantei de sobressalto, liguei o computador e comecei uma musica eletrônica louca. “Ânimo! Está na hora de arrumar essa casa, escalar aquela montanha de pratos vai me fazer esquecer essas futilidades”... em vão... algo entre o ensaboar e deslizar na louça branca e lisa me lembrava, lembrava e lembrava....

Noite de sábado, sozinho em casa: “Sou presa fácil hoje, na verdade, agora nem quero fugir, nem vou lutar”, foi assim, com meus ímpetos, meus desejos já me arranhando, chamei por ela: “hoje é sábado, o que há de fazer melhor num sábado...”, porém, “ela”, fria e vaga, eu desiludido e atônito. Ela, cínica e metida, eu fervoroso perdia a paciência. Ela nada fala, não conversa, eu, vencido, com raiva, fui dormir, sonhei com ela sorrindo, linda, junto a mim, como na quinta-feira.

Domingo! “Ah domingo! Meu domingo, hoje é meu dia, obsessão eu te quero, não entende, venha, mais uma vez venha, eu te espero, obcecado, já te sinto, te quero, vem, mais uma vez venha!” Mas ela não me retorna... “Por quê? Porque você não fala comigo? Você se esqueceu de quinta? Quinta feira você estava feliz, não minta” Não havia mentira, apenas indiferença, ela sequer ligava para minha existência. “Você me usa assim e acabou? Você acha isso certo? você é louca? Como nem fala comigo?” Nem riso, nada, eu estava jogado no poço da indiferença.

Domingo de manhã foi quando ela se esqueceu de quinta feira e foi embora. Não só desta quinta, mas todos os outros encontros em que a fiz feliz. Não me dera direito de despedida, não me dera nada, nem uma ultima vez, nada. Ela apenas me usou e domingo de manhã ela se foi, como já estava acostumada a fazer tantas e tantas outras vezes, e eu acostumado a ver-la ir tantas e tantas vezes, esperava apenas quando ela iria voltar, como voltou tantas e tantas vezes...

Segunda feira acordei: banho, trabalho, faculdade, casa, jantar. Arrumo minha cama, existe a esperança, a ânsia, a raiva e o desejo. A paciência mantém a razão, afasta o desespero. “Ela é livre, ela pode ir pra onde quiser com quem ela quiser, não sou dono dela, deixa ela viver, eu sei que ela v...” Um frio, rápido, profundo. Eu sentia pela primeira vez o que senti varias vezes antes, como é possível? Como era possível isso, toda vez que ela chegava eu sentia como se fosse a primeira vez! Por quê?

Sim, ela chegou. Não disse nada, somente foi entrando, o que queria de mim? “Oi linda, senti muito sua falta, você sentiu a minha?” Nenhuma resposta. Respiro... calma, ela está aqui, deve querer o mesmo que eu, devo apenas ser cuidadoso. “Nesse final de semana minha mente foi sua, só queria saber de você.” Nem me olha, seus olhos nem me olham, tampouco olham para baixo, ela esta indiferente, ela sabe ser indiferente como ninguém. “Te quero no meu quarto! Vamos, estou esperando você desde sábado, vamos, antes de dormir, vamos!” Ela senta no sofá, delicada, olha em volta, como se não me visse, nem por um segundo eu existo pra ela, olha como se sentisse pena do lugar, nada ali a interessava. “Você quer um vinho? Sei que você adora vinho!” Ela não quer, eu também não posso tomar. “Tequila? Você fica louca com tequila e estou guardando pra você.” Ela olha pra porta, está entediada, esta pensando em ir embora. “Acabei de comprar cerveja...” estou suando, ela não pode ir, estou perto, tão perto, porque não posso tocá-la? Eu quero mas ela não sente nada. “Tem muita cerveja ali, lembra de quinta-feira? Lembra como foi bom?” Ela levanta, não há nada ali pra ela, então ela quer ir embora sem nem me olhar, sem falar nada, sem me dar o que eu quero... metida, desgraçada, desta vez não! “Senta ai sua filha da Puta! Fiquei te esperando a porra do final de semana todo e você ficou por ai sua desgraçada! Aonde Você pensa que vai? Senta ai sua Filha da Puta!” Desta vez ela me olha, e sorri. Desgraçada sorri e vem pra perto, olha o ódio do meu coração e pula em cima de mim, me beija, seu corpo áureo não pesa nada, alem de um milhão de pensamentos! Aquela fagulha do tamanho de um sol na minha cabeça esquenta minha alma e o ambiente ao redor, sou o dono de tudo agora. Carrego-a para o meu quarto, na frente do computador me equilibro e sento na minha cadeira, ela esta no meu colo, me deixa louco, minhas mão sabem o que fazer, meus dedos sabem quais caminhos seguir. Começo sem pudor, eu começo sem querer parar, eu começo sem fim, ela me passa tudo o que eu queria, ela me beija na boca e sua beleza entra pelos meus olhos, encontra o sol em minha mente e eu não tenho fim, meus dedos não param. Cada palavra é linda, cada linha tem um sabor, cada frase volta pra mim como se toda a beleza do universo coubesse aqui, tudo é perfeito, tudo se encaixa, tudo flui. Ela me usa, ela esta dentro da minha cabeça, mais uma vez ela consegue, estou escrevendo, ela é linda, ela é magnífica, escrevo, escrevo e tudo é fácil.

Acabei, ela se foi. De novo sumiu, só ficou um pouco de seu cheiro. Vou reler o que escrevi, ela é muito forte, não tive tempo pra pensar. Vou corrigir os erros, vou refazer a perfeição, vou olhar para o universo que criei, vou regozijar. Quero agradecer mas ela já se foi, ela não precisa das minhas palavras, foi seduzir outro, eu não sou dono dela, mas eu a amo, eu amo a inspiração.