Joária

Há muito tempo atrás, numa terra distante, longe da civilização, existia um jovem rapaz chamado: Fernando Vicente, essa é a sua história.

Fernando era um minerador pobre e solitário na pequena cidade de mundinho. Todos os dias Fernando acordava, preparava o mesmo café horrível, se vestia com as mesmas roupas sujas e maltrapilhas, saia de casa no mesmo cavalo fedido e ia trabalhar em uma mina escura e úmida. Ganhava apenas o suficiente para se arrastar por mais um dia nos túneis sombrios. Sentia que a mina tirava mais do que dava, sentia mesmo que ela o consumia. Na verdade, era a mina que cavava cada vez mais fundo na sua vida e retirava dele o ouro dos sonhos, os diamantes das conquistas e as esmeraldas dos sentimentos. A cada dia que passava, Fernando ficava mais e mais parecido com a mina que trabalhava: Sem sentimentos, sem vida, exaurido...

Foi então que um dia, talvez alguém do céu tenha ficado com pena do pobre mineiro, talvez estivesse escrito no livro do destino desde o inicio dos tempos, mas o fato é que um dia Fernando estava como sempre a martelar as paredes frias daquela mina, quando um perfume passou caminhando por ele. Atônito, olhou em volta curioso, aquela corrente de ar parecia vir de um lugar sem saída da mina, o que despertou ainda mais curiosidade. Tomou mais um gole da caipirinha em seu cantil, pegou sua lâmpada de gás e caminhou inseguro ate o corredor escuro que estava respirando suavemente. Parado entre as estalactites e o barulho das goteiras, o maltrapilho minerador contemplou um brilho que parecia quase um milagre no final daquele túnel escuro. Aproximou titubeando, e olhou dentro do brilho, era uma pedra morena, que brilhava como que sorrindo para ele, convidando-o a viver. “Preciso dizer uma coisa séria pra você...” disse Fernando ao sentir um calor no coração. Aquela pedra, além de linda, emitia um calor único e naquela noite o mineiro não teve olhos e ouvidos pra mais nada, nem pra os sons Belong Beatles do corredor.

Fernando levou a pedra pra casa, e começou a estudá-la. Passou seis meses lendo sobre aquela jóia, estudando seu contorno, sua cor, seu brilho, seu calor. Depois de seis meses soube que o nome daquela preciosidade era “Joária”, sabia seu passado, sabia que era uma jóia da região do sul da Bahia, sabia o motivo do nome exótico, sabia que não era uma pedra rica, mas era muito preciosa. O que ele não sabia era porque aquela jóia o fascinava tanto e do que a ela era capaz, mas logo iria descobrir.

De repente, como num passe de mágica, as coisas mudaram. Não, não, as coisas não mudaram, Fernando tinha mudado. Acordou de manha e fez um café ótimo, arrumou roupas novas e bonitas, lavou o cavalo e decidiu sair de mundinho, agora Fernando queria algo melhor. Por quê? Alguma coisa dentro dele dizia que conseguiria tudo o que quisesse, alguma coisa falava que ele era capaz, essa chama que impulsiona os homens a serem melhores estava em combustão dentro dele. Viver passou a ser algo diferente, viver passou a significar mais do que se arrastar de um dia para o outro, viver era lindo, era esplêndido e Fernando estava vivo.

Fernando arrumou um trabalho na Cemig, passou a acordar cedo e fazer faculdade, estudava muito porque queria ser funcionário público e a Jóia sempre estava perto do seu coração, o calor daquela preciosidade morena fazia tudo valer a pena, tudo agora fazia sentido, finalmente ele via o caminho a seguir, graças ao brilho da Joária.

O tempo passou, Deus foi muito bom com o mineiro e a jóia baiana, hoje a situação dos dois esta bem diferente, Fernando é funcionário publico, a Jóia também faz parte do tesouro nacional brasileiro, mas um dia, quando a correria der trégua para os dois, Fernando vai lapidar a jóia e transformá-la em um anel que carregara para sempre na mão esquerda...

Feliz aniversário Moreninha.

Fernando Gabriel
Enviado por Fernando Gabriel em 31/03/2011
Código do texto: T2882391
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.