Amor salpicado de outono
O chão se salpica de outono enquanto aprecia o frio vento soprar a árvore. Ela lacrimeja, respinga e, se for da natureza, prepara-se para secar.
Ah, sim, no inverno, algumas secam! Voltam-se totalmente para dentro e se fortalecem nas raízes. Renascem na primavera!
E eu, enquanto observo Gaia, a deusa da terra, abrir seus poderosos braços para asilar as folhas agora órfãs, debruço-me sobre seu rosto tão querido e roço minha face na sua. Célere, o calor eleva-se, corando o que não tinha cor.
O parque era meu. Só meu e seu...
A paixão se emoldura empoando fagulhas nos fragmentos de terra seca, muito seca. Nada existe além do desenho das silhuetas no crepúsculo. Minha alma desprende nós de outros enlaces e sai em busca da sua.
Por longos anos não soube dizer onde havíamos nos perdido...
Implacável, o tempo trespassa as suaves chuvas de folhas douradas, coroa nossas cabeças de fios brancos e desmedidos vazios.
Raras são as folhas que por mero acaso sobrevoam agora... nossos corpos. Algumas derramam fiapos de alegria e outras, enfim, lamúrias sobre nossa história.
Enquanto cai uma a uma, fito o horizonte, como se uma tela me remontasse ao passado. De quando em quando, num átimo, ainda arrebanho um tolo, quase invisível fragmento desse amor de ontem.
Respiro profundamente e mergulho no efêmero lampejo antes que desapareça. Minha vida, não é vida... sem o outono.