AMOR SILENCIOSO

Núbia já não se sentia à vontade dando aula naquela turma. Aquele moço de ar compenetrado, quieto a olhava de forma insistente e diferente dos demais alunos. Isso a perturbava, lhe intrigava, mas de certa forma, a possibilidade de um jovem tão bonito está interessado por ela inflava o seu ego feminino.

No entanto, continuava a não demonstrar que estava percebendo tal comportamento do aluno e não se permitia deixar que esse sentimento aflorasse. O senso de responsabilidade falava mais alto. Além do mais estava noiva há mais de um ano, com o casamento marcado para o final daquele período escolar. Entre explicações e exemplos ela falava sempre do noivo, pra indiretamente chegar a informação ao aluno enamorado. Não poderia se deixar levar.

O rapaz ousou e na atividade entregue certa noite, discretamente escreveu no rodapé da folha: “você é linda!”

Ela resolve que irá evitar dar a entender que estava sendo abalada por aquilo e demonstra indiferença. Ao sair da aula ver um sinal de mensagem no seu celular que dizia: “porque não dá uma chance. Sei que também se interessa por mim!”

Só podia ser ele. Resolveu se abrir com a coordenadora do colégio e pediu para ver a ficha do aluno. Ficou sabendo de que se tratava de um aluno bem conceituado e que estava na escola desde o ensino fundamental.

A partir daquela dia Núbia evitou cruzar olhar com o rapaz, mas não conseguia parar de pensar nele e a sua relação com o noivo já não era mais a mesma depois disso.

Próximo ao final do período o aluno tímido finalmente a procura no intervalo e com a voz embargada pergunta por que tanta indiferença e com uma lágrima discreta pede a ela para lhe dar uma chance. Núbia não tinha percebido ainda, mas descobriu que estava gostando daquele “menino” – eram quase dez anos de diferença em suas idades. Atônita, nada respondeu.

Durante as férias Núbia percebe que o seu casamento era um engano e rompe o compromisso faltando um mês para o enlace tão preparado.

Passou então a contar os dias para a volta às aulas. Iria ensinar outra vez na turma de quem dominava agora o seu pensamento e as suas emoções – não via a hora de vê-lo outra vez...

Logo no primeiro dia, dá aula na mesma turma e não consegue esconder a decepção ao perceber que ele havia faltado. Já no final do seu horário, pergunta sobre ele e fica sabendo que o mesmo havia pedido transferência e tinha ido embora da cidade.

Damísio Mangueira
Enviado por Damísio Mangueira em 15/06/2011
Reeditado em 15/07/2011
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