Julho Negro

Só queria a sensação de sentir a liberdade.

Eu só queria a felicidade no meu coração que ainda bate, mesmo contra minha vontade.

E a verdade triste de todos os dias veio me abraçar.

A saudade é meu consolo. A ilusão sonhada é minha realidade, defendida a punho e raça.

Nada é tão simples quanto parece, ou tão fácil quanto deveria ser.

Só me calei pra noite na esperança de um novo dia. Este foi meu pecado! O de me conformar.

Eu preciso sonhar para satisfazer o desejo que ainda permanece vivo em mim, forte! Como eu mesmo nunca fui!

Não entendo a verdade que se mostra notória e incontestável diante de meus olhos.

Preciso negar o óbvio pelo menos vinte vezes todos os dias, é este o meu mantra, meu jeito torto de encarar a vida.

Só queria a mentira da verdade habitando em meu ser novamente. Quem sabe assim eu poderia voltar a respirar tua ausência e, desta forma, ter paz uma vez mais. Porque se você se faz presente; eu sofro! Mas com tua ausência; eu morro minha morte diária.

E morrer se tornou comum pra mim, que já não tenho limites. Como um Prometeu, a meu modo e sem corvo, mas mesmo assim, na rotineira e violenta solidão. Somos iguais! Afinal, não somos todos semideuses?

E tudo agora é tão obvio.

Meu próprio e vasto infinito se perde nos teus olhos, tão longínquos dos meus, que pesados se fecham para a noite.

Meu eu cansado encontra consolo no improvável, e a fé se torna minha guardiã incansável para o resto dos meus dias. A minha esperança, antes tão aludida, agora descansa para sempre, esquecida no limbo desta cruel realidade.

E culpo a vida, por minha simples incapacidade de aceitar que, sempre fui eu o grande problema.

Contudo, percebo que tenho tempo suficiente para viver o resto da minha vida. E espero aproveitá-la, quem sabe na companhia de umas doses de tequila? Não sei ao certo, tão pouco tenho procurado a certeza. Rendo-me ao descompasso do tempo.

Há meses deixei de ser pragmático. E nem preciso olhar para o relógio pra perceber como o tempo passou. As horas voarão de mim para o dia que já rompe na aurora. É que hoje senti tua falta, precisei recorrer à antigas lembranças pra não te perder. E ao amanhecer, com o nascer de um novo sol neste julho negro, retomo ao desejo inicial de prosseguir.

Alguns passos em direção a porta da frente, um olhar receoso para além da calçada, e me lanço pro mundo, com a graça de quem não sabe esperar.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 12/07/2011
Reeditado em 06/12/2011
Código do texto: T3091096