Antes do Adeus

O caminho mais difícil nem sempre deixa boas recordações.

A verdade é sempre a mais difícil de ser encarada, mesmo quando parece ser o contrário. E mesmo assim, em meio ao caos, foi olhando nos teus olhos que encontrei vida. Foi sobrevivendo a nossas desavenças que aprendi a te amar. Algumas palavras depois e a resposta sempre se mostrava mais dura do que o esperado.

É que antecipando o futuro, pude perceber que a simples suposição de não estar ao teu lado é tudo o que eu não preciso pra hoje. E sobreviver deixou de ser prioridade se você não está aqui.

O cais vazio revela no escuro da noite a solidão do luar. Contemplo minha face tremula nas ondas do mar agitado. O sabor salgado de uma lágrima que alcança minha boca.

Tento lançar algumas palavras ao vento, contudo elas parecem demasiadamente pesadas para ele carregar. Então recebo novamente, contra minha vontade, o que fora meu noutros tempos e, disponho-me a encarar com peito erguido a felicidade camuflada de tristeza. Ou será o inverso? Outra vez o reverso.

O sal parece intragável.

Não preciso de outra lágrima para ser feliz.

Já não me preocupo com a ordem das sentenças... Não vejo mais razão da objetividade. Ela só me trouxe sofrimento.

As paixões segregadas, defendidas com o silêncio, perderam o charme de outrora. Aquele do segredo, que autosuficiente justificava o meu contentamento, e demonstram na dor desse momento minha dura realidade, a do não amor. Melhor dizer: o amor não amado.

E me canso de ser eu. É que muitos passos na mesma caminhada findam com o cansaço. Quem sabe um último suspiro e a boa e velha desculpa do adeus? Seria a escapatória perfeita. A solução mais viável. Ele, o adeus, parece sempre justificar o que não precisa de explicação. Afinal, nestes momentos, apenas dizer adeus basta.

Entregado ao romance da fantasia, projeto-me para fora do mim, para além do eu, e me perco. Uma visita breve ao Campo de Lauro pra sobreviver ao caos. A possível recompensa final proporciona certo conforto, e meu mundo parece tão mais bonito agora. Depois de tudo, os sorrisos são mais sinceros, e você me faz companhia no por do sol, que não é o mais bonito do mundo, mas é tão especial quanto. Pois estamos juntos, e a tua simples presença é o suficiente.

De repente a caixa de pandora se mostra saliente na mesinha de centro da sala, a crua e notória realidade me permite mais uma lágrima. Desperdiço mais umas frases para o espelho e, antes mesmo de dizer adeus, você já partiu de mim.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 15/07/2011
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