Inócua Sensação (Desejo Falido)

O titilar dos copos em um dia normal, e algumas doses de tequila pra colorir de cinza o tarde que já se foi.

O negrume da aurora que nem mais me namora, acompanhado dos berros discretos de quem vive a intensidade do momento, encerra o expediente.

E eu canto.

Doou-me para a dor de maneira tão ingênua que; uma garotinha, brincando com sua boneca de pano no lado oposto da rua, apieda-se de mim.

Inclinado ao riso, permito longas e delongas gargalhadas para um verão escaldante. O suor me refresca a pele sedenta de desejo. A emoção domina meu estômago, que já não é mais o mesmo.

Também não sou mais o mesmo.

É que tudo já perdeu o encanto.

E meu corpo, agora quente, põe-se a caminhar passos contraditórios.

Os calcanhares, cheios de autonomia, meio que se encontram, e ensaio uma queda.

Num abraço, o chão sugere-se tão aconchegante. E comemoro as escoriações desse momento ansiando pela lucidez na manhã vindoura.

Nada mais importa.

Mesma dor...

Não fará diferença pra mim que me levanto.

Novos passos na noite amarelada pelas luzes ofuscantes, admiro o relógio e me apago.

Agora o silêncio, o olhar fixo no embaçado espelho do banheiro.

Uma leve angustia petrifica minha saudade que congelada, dorme em meu peito de forma inconsciente, inócua e insegura outra vez.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 25/07/2011
Reeditado em 25/07/2011
Código do texto: T3118666