O ultimo suspiro

Tentei vencer toda essa escuridão que me deixastes

Acendendo o fósforo,

Mas aí surgia um novo medo:

Que a pequena chama apagasse.

E voltasse a memória anterior de uma não existência…

Filhos que são criados sem pais amadurecem observando

Outras vidas, imitando gestos, desvendando segredos.

As vezes me confundi com a história de outros, sem saber

se era a minha voz que falava ou se apenas ouvia.

Meu coração ainda estava inquieto, eu não consegui te traduzir

Imaginei que fosse amor, as pedras que me prendias ao pescoço

E afundava graciosamente a espera de tua mão ajudadora

Mas tua mão nunca quis me salva, quando tu impunhas teu braço na água

Era pra afundar-me … Ainda mais…

E salvar a ti.

Quase cai em sono profundo quando as lembranças das dívidas me despertaram.

E já não tinha mais fósforos, acabaram-se todos.

Inexistência obtusa!

Vaguei olhos na escuridão ao meu redor

Lembrei que no telhado havia uma pequena fenda

Por onde a luz da lua costumava entrar

Acontece que essa noite chove

Os figos logo amadurecerão expostos a beira da estrada

E quase serro novamente as pálpebras

Quando escuto uma voz no meio do escuro.

Um homem muito grande a minha frente

Olhos e cabelos vermelhos como fogo…

Suas mãos são enormes, porém são frias

Frias como o vento que traz a chuva...

Ele diz: “Você tem uma nova chance!”

E meus olhos começam a ver paredes caiadas

Uma menininha de cabelos longos a sorrir

Ela viu nascer uma manhã leitosa

E estava salva do crepúsculo, lúcida, infinita…

E eu também sorri…

O homem de fogo também sorriu cheio de infância

Estávamos em sinestesia

Deu-me um abraço, olhou nitidamente em meus olhos

Fez amor comigo, como nunca antes fiz

Senti ainda seus dedos emaranhando-se entre os meus cabelos

Enquanto morria cálida, lívida e lentamente.

Janaina Cruz
Enviado por Janaina Cruz em 27/07/2011
Reeditado em 14/05/2013
Código do texto: T3122006
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