SAUDADE; SUAVE MELODIA.

Saiu apressadmente sorrateiro da faina diária,era sexta-feira de um final de tarde mesclado de coloridos sons distribuidos no firmamento e de alegres cores ouvidas no badalar dos sinos distantes que anunciavam a Ave Maria.

Preferiu seguir andando por entre as flores que emolduravam os canteiros da antiga praça e envolviam o coreto já em desuso nos dias modernos de hoje.

Abriu a carteira e lentamente como que em oração,retirou de uma das partes mais secretas ( talvez uma espécie de compartimento da alma de forma materializada em um acessório de couro e plástico),um pedaço de papel,quem sabe até um guardanapo ou um rasgo de folha ao alcance do momento.

Nele pode ler quase que sussurando,mas desejando que todo o mundo pudesse ouvir :" Amada minha,comporemos versos de amor,ao

som de suave doce melodia, numa inacreditável viagem,por encantadores lugares,universo afora,eternamente,razão única de minha alma existir".( Interação da amiga escritora Marllene Borges Braga).

Secou as lágrimas que brotavam dos olhos,boca seca,garganta apertada e uma vontade enorme de voltar no tempo ( como seria bom se tivéssemos esse poder não é mesmo?) e se (re)fazer dos laços que

deixou se afrouxarem,se (des)compor das palavras que deixou ecoar na alma,das feridas que causou e que se impôs por orgulho.

Guardou lentamente o bilhete,a carteira e a saudade.

Parou em um bar, bebeu um chopp e afogou as lembranças que queimavam feito fogo e ecoavam em (des)feitios invadindo sua mente.

Olhou para o manto de estrelas, sentiu a brisa suave no rosto e apenas se deixou levar. Talvez por instinto, ato falho sei lá,apenas foi caminhando e quase sem querer chegou em frente da casa que tantas vezes frequentou.

Sentiu uma dor no peito,uma sensação de morte em vida e não mais em si pode vê-la chegar suave e intensa,mais velha e mais doce talvez.

Por uma dessas coincidências da alma se olharam como se um imã atraísse e unisse seus olhos além dos corpos e das explicações.

Tentou sorrir, acenar,caminhar até ela ... em vão.Se manteve parado apenas olhando para áquela amada que deixou partir sem querer,tal qual água que escorre e corre por entre os dedos.

Ela quase que em um ato mágico abriu a bolsa ,caminhou até ele e talvez sem nem saber a razão exata do ato/fato, lhe estendeu o que parecia ser um pedaço de papel e se afastou quase misticamente desaparecendo pelo portão.

Ele abriu o bilhete e pode ler quase soluçando " Amado meu,que bom que posso chamar-te deste jeito,não pudemos compor versos de amor, a viagem que desejei inacreditável pelo universo afora,não pode passar da primeira estação e hoje a única razão de minha alma existir é a certeza de que apesar de findo, esse amor valeu á pena".

Novamente chorou e dobrou aos poucos o tal papel. A propósito era um bilhete escrito em um rótulo de uma garrafa de vinho...que juntos sorveram e após se amarem fizeram dela uma missiva a qual encarregaram o mar de dar direção.

Acordou com uma saudade latente e uma (in)certeza de que havia se encontrado com aquela que já havia sido sua maior realização de um sonho...podia ainda ouvir uma suave e doce melodia chamada saudade.

OBS; Esse conto é em homenagem a amiga Marllene Borges Braga, a quem agradeço a linda interação ao texto Amor á Deriva que postei em 19/08/2011.

Márcia Barcelos.

19/08/2011.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 19/08/2011
Código do texto: T3169987