Por acaso foi eu

Dezembro de 2012

- Todos aqui?

- Sim, Podemos começar.

- Muito bem. Por favor, amigos aqui presentes, nós agora nos concentraremos para o início da sessão de psicografia.

“Concentrar? Essa é boa! Eu quero ir embora daqui!”

(...)

“Alberto vai psicografar.” “será que isso é verdade? Ai, caramba! Só eu mesma pra me meter numa coisa dessas, vou te falar...”

(...)

“Imagina se alguém descobre que vim num negócio desses?! Acabou minha reputação na faculdade!”

“ Que coisas esquisitas que ele ta falando, cruz credo!”

(...)

“Caramba! Que isso, gente?! To toda arrepiada!”

(...)

“Gente, que cheiro é esse? Odeio cheiro de flor! O que que eu to fazendo aqui?!”

“Nossa! Ele escreveu alguma coisa!”

“Ai, ele voltou a escrever!” “A mão do menino parece uma máquina, ele ta escrevendo rápido pra cacete” “Ele ta chorando!” “ Meu Deus, o que é isso? Já escreveu seis folhas. (...) Gente... menino, para de chorar, que agon...” “Ah! Ele largou o lápis.” “Ele vai ca...”.

- Vai cair! “tive que gritar, né, ninguém se mexeu!”.

“que vergonha!”

“Caramba, ele parece um defunto. Deve ta exausto, tadinho” “ta suando frio!”

“É claro que ele ta mal, minha senhora, não ta vendo?! Velho é foda!”

“Ele começou a chorar de novo.” “não para de chorar, eu to me sentindo mal, já!”

- Se acalma Beto, isso vai passar. Disse uma das moças que estavam à mesa com o menino que psicografava.

“Sei não, heim!?”

(...)

“Até que enfim seu José vai ler o que o espírito escreveu ai.”

- Temos aqui uma pessoa de grande valia no mundo científico que veio prestigiar essa prática tão importante do espiritismo, a professora Laura Jacques. Disse seu José cheio de orgulho.

“Que vergonha!”

“Tive que agir com a famosa falsa modéstia, né?!”

(...)

“O quê?!”

- Claro, seu José, leio com o maior prazer. Disse a professora da Faculdade de Belas Artes, Laura Jacques.

“não acredito! Que vergonha! (...) Eu? Justo eu que vou ler esse troço? E se o espírito vier pra cima de mim. ‘putisgrila’!”

(...)

- “Era 2000 e eu tinha dezoito anos. O primeiro dia de universidade foi numa terça-feira. Inúmeras perguntas e curiosidades pairam nos pensamentos dos calouros. Algo desde o início daquele dia estava errado comigo, uma euforia inexplicável tomava conta de mim. Eu, que sempre fui calma e conformada com tudo o que acontecia ao meu redor. Estava prestes a iniciar a graduação de Artes Cênicas, mas desde muito tempo havia aceitado que ser invisível era a minha profissão. Contudo, eu gostava de atuar, também gostava de escrever e, modéstia à parte, eu fazia as duas coisas muito bem. Pensava em publicar meus textos ou virar escritora de peça de teatro, mas a única obra que tornarei pública é esta agora que estou a contar.

O primeiro tempo de aula já havia acabado fazia alguns minutos. E eu já me preparava para o segundo tempo: História da Arte.

Eu estava sentada quase na última carteira, meus cabelos longos e lisos, cobriam meu rosto. Com certeza eu era a figura mais estranha da turma.

Tudo estava acontecendo dentro da sua normalidade, porém, meu dia acabou quando finalmente a professora entra na sala. Eu não acredito em amor a primeira vista, e para falar a verdade eu nunca acreditei no amor, mas algo de muito grande explodiu dento do meu peito e contaminou todo o meu corpo.

Era ela, a bela, ou a fera, que se apresentou como Laura Jacques.

Dali por diante, minha vida ganhara sentido: tinha motivo para estudar, para me arrumar e inspiração de sobra para escrever meus textos e até poesias. Comecei a fazer amizades com pessoas de períodos mais avançados e, de forma discreta, perguntar sobre ela. E, assim, descobri muitas coisas de sua vida: onde morava, trabalhava, coisas do tipo.

Os anos passavam e eu a amava mais e mais. chorava tanto que um dia disse pra mim mesma que ao invés de chorar escreveria poesias, sonetos e a esconderia em cada verso.

Mas meu corpo de aluna está morto e eu te amei tanto.

Estefani Fernandes.”

“ Estefani Fernandes?”

(...)

“Puta merda! Minha aluna!”

Helena de Castro
Enviado por Helena de Castro em 11/09/2011
Código do texto: T3214247
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.