O conto de um pincel e uma viagem
Bem, estou pintando um quadro seu. Investigando cada centímetro do teu rosto, verificando tuas curvas, teus pêlos e teus declínios. Me apaixonando mais pela tua imagem a cada polegada de tinta.
Lindos traços traçam os pincéis porque o teu lindo rosto reproduzem. Eu não faço nada senão procurar imprimir em tela algo que a sempre sábia natureza criou. Porém em teus olhos está meu desconserto... Há algo indesenhável. Teu olhar irreproduzível hipnotiza meu ser. Teus olhos negros são meu céu e meu chão. Minha luz e minha escuridão, minha paz e meu desespero; todos cabíveis dentro dos teus dois círculos infinitos. Eis o abismo para o qual pularia para uma queda livre de braços abertos e sem medos, apenas amando pensar no que encontrarei do outro lado.
Chegando pois os pincéis à teus ombros, és agora o meu delírio todo.
Pois quando teus cabelos encaracolados estão caídos sobre teus ombros nús, eis aí a minha tormenta! Teus cabelos enrolados são para mim a representação máxima do que é belo, do que é contemplável. Se teus cabelos estão a dançar com o vento, ah... Naquele exato segundo eu deixo de existir no plano físico e sou apenas poeira dos encantamentos... como um bug, um erro de programação, explodo em espasmos por excesso de formosura, torno-me a criança que já fui, sonhadora, ventríloca das próprias emoções, uma boba da corte em reverência abobalhada, um espirro envergonhado, um borrifo de perfume no ar
RF22112011