ETERNAMENTE

A cerimônia de casamento de Maria de Lourdes e Télio foi de emocionar, o ano era 1926, enquanto se preparava para o sim, Maria de Lourdes relembrava o dia em que o Sr. Agenor entrou em sua casa acompanhado do filho, para pedir sua mão em casamento. Ela estava com a cabeça abaixada em sinal de respeito, mas quando viu de relance o rapaz, sentiu uma emoção única, seus olhos chegaram a lacrimejar, mal lhe dirigiu a palavra, só os homens proseavam, vez ou outra seus olhos se encontravam.

Dito o sim com emoção, a meiga noiva estendeu a mão para receber a aliança e esta sensação a levou de volta às recordações da primeira vez que Télio pegou em sua mão.

Depois de quatro meses de namoro na sala, com a presença da mãe e as irmãs mais novas que tagarelavam sem parar, o casal ganhou o direito a um passeio sozinhos pelo jardim da fazenda. Andaram lado a lado sem se tocarem. O namorado apaixonado, não cansava de elogiar a beleza da amada, que encantada com os galanteios, ruborizava e sorria com delicada devoção ao amado. Sentaram-se no banco que margeava o lago, quando neste momento, Télio pegou em sua mão, era a primeira vez que se tocavam, parecia que uma descarga de energia havia caído sobre aquele toque tão inocente.

Com a aliança no dedo, Maria de Lourdes sentiu uma lágrima rolar pela face, e quando seus lábios se tocaram, sentiu pela segunda vez a descarga de energia que eletrizava seu corpo e iluminava-lhe a alma.

A emoção maior foi quando Télio se despediu da noiva, após o almoço do casamento oferecido na fazenda dos sogros, pois precisava levar os pais de volta à cidade que ficava a uns duzentos quilômetros dali. Seu pai estava muito doente, e interrompeu o tratamento, fizera questão de ter a honra de ver casar seu único filho.

Sem consumar a união, Télio se aproximou da cadeira de balanço na varanda principal, ofereceu uma rosa branca a esposa, a beijou nos lábios e prometeu que voltaria para buscá-la antes que a rosa murchasse, seu amor estaria simbolizado na rosa branca até que se encontrassem novamente, e assim partiu.

Os anos passaram, levaram os pais de Maria de Lourdes, que criou as duas irmãs menores, depois curtiu as filhas e as netas de suas irmãs, que vinham sempre à fazenda visitá-la. As sobrinhas netas a adoravam e sentavam-se ao redor da cadeira de balanço da varanda para ouvir lindas estórias, que a doce tia avó contava sempre segurando uma linda rosa branca.

Já velhinha e consumida pelo desgaste impiedoso do tempo, Maria de Lourdes se lembrou do dia lindo do seu casamento e do acidente que vitimou seu marido, nunca mais quis namorar, manteve-se fiel, e todas as tardes de sua vida esperava por Télio na varanda, segurando a rosa branca que jamais havia murchado.

Até que numa tarde, enquanto ouvia o cantar dos pássaros, percebeu pela primeira vez, após sessenta e cinco anos, sua rosa branca sem vida sobre seu colo. Sentiu a vitalidade invadir seu corpo, e se viu jovem como antes, ouviu o chamado do seu amado, caminharam juntos pelo jardim da fazenda sob a luz radiante do mais belo luar.

Lilia Costa
Enviado por Lilia Costa em 23/09/2011
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