Dias [Per]Feitos (Romance Fragmentado: Parte 1 - Capítulo 2)

Capítulo II

Andréia caminhava pelas ruas com pensamento liberto, ou seja, não pensando em nada, vez ou outra se detinha observando as fachadas de edifícios, os aspectos arquitetônicos de moradias mais antigas. Um vira-lata passa correndo pela calçada, pelo todo arrepiado, tão pequeno e frágil, parecia ter medo do mundo com aquele olhar assustado. Qualquer movimento ou barulho fazia o pequenino dar um pulinho, como se temesse alguma afronta, afinal de contas, devia ter se acostumado com ponta pés do tipo “sai pra lá cachorro”. O dia estava ensolarado, o que a desagradava muito, preferia o tempo nublado, o céu acinzentado, aquele ar mais frio, atmosfera pesada, pessoas andando com modelitos menos extravagantes, tanto pelas cores como pelas partes expostas do corpo. Com fones nos ouvidos ia no ritmo da música que tocava, uma grande variedade de faixas que continham em seu tocador de áudio digital, uma das regalias contemporâneas, podendo selecionar uma sequência do seu agrado, ao mesmo tempo extensa, sem precisar trocar cd, o cassete então já parecia alguma recordação remota de infância. Um rapaz passara próximo a ela com perfume contagiante, era possível sentir no ar o odor que lhe agradara, neste instante tocava a música de uma banda alemã chamada Rammstein que adorava, o refrão insistentemente dizia:

“Du riechst so gut

du riechst so gut

ich geh dir hinterher

du riechst so gut

ich finde dich”

Como a esmagadora maioria de jovens de sua idade que escutava música estrangeira, nem mesmo se dera ao trabalho de traduzir o significado daquela letra de música, apenas se deixava levar pelo ritmo que era contagiante. Parou próxima a faixa de pedestres no semáforo, observava as pessoas seguindo as linhas brancas, o asfalto parecia uma zebra que desejava conduzir os transeuntes. Não quis ser mais uma guiada por linhas, desviou daquele trajeto, aventurou-se com uma corridinha pela avenida, alguns automóveis buzinaram, mas nem se deu conta pela altura da música que sequestrava sua audição, não permitindo regalias de sons externos. Chegando em sua escola, foi direto ao banheiro para verificar diante do espelho sua maquiagem, tinha o hábito de só sair de casa com o rosto retocado, pensava nem ter mais uma aparência própria que dispensava tais artifícios. Descobrira o quanto podia realçar seus traços, dando ainda mais impressão lívida à sua pele, uma sombra preta contornando seus olhos tornava-os ainda mais sombrios, o batom preto destaca seus lábios naquela altiva palidez, as unhas seguiam o padrão de cor dos lábios. Usava trajes que aparentavam aumentar o calor, mas não se renderia aos modismos que a temperatura provocava, nem se rendera a obrigação dos uniformes, mesmo já sendo repreendida por isso. Seu estilo servia de inspiração, mas muitos a consideravam extravagante, embora todas as impressões passassem com certa indiferença por seu filtro perceptivo. Antes do início da primeira aula, detinha-se do lado de fora da escola, sentada próxima a uma árvore, longe dos olhares do porteiro ou qualquer outro funcionário vigilante da instituição, provava um cigarro com bastante gosto. Aquela sensação de tragadas profundas, não mais engasgando como da primeira vez que tentara tal experiência, a fumaça que sentia percorrer seu corpo por dentro, além da nuvem que fazia sair de sua boca com um leve sopro, sentindo-se madura, apesar de seus dezesseis anos de idade. Ficava observando o fumo queimar, lia os dizeres no maço que advertiam sobre o risco de diversos malefícios que o tabagismo poderia proporcionar, fotos até demonstravam no verso casos trágicos da consequência de tal vício. Mas não se importava com nada daquilo, era jovem, não temia nem as ameaças de morte, o cigarro queimava feito sua vida que o tempo iria consumir.

A sineta tocou esganiçada, entrou pelos corredores da escola, subiu até sua classe, sentou-se nas últimas fileiras como de costume, desligou a música e retirou os fones para evitar repreensões, deixou o caderno em cima da carteira, começou a desenhar algo, adorava ilustrar as folhas dos cadernos com sua arte. Suas personagens eram sombrias, procuravam imitar sua forma de ser, rostos lívidos, expressões sérias, trajes taciturnos, além do gosto pelas tragédias do cotidiano. Sua cabeça latejava, passara a noite em claro, em frente ao computador navegando pela web, suas companhias eram, um maço de cigarros e uma garrafa de vodka popular, suas olheiras denunciavam a noite em claro aos olhares mais atentos. Nem sabia aula de que assistiria naquele momento, desejava apenas que acabasse logo. Entra o professor, justo o de História, matéria que a chateava, com aquelas informações que não lhe interessavam nem um pouco. Como aquele homem falava, ainda fazia piadas que não achava a menor graça, preferia o ar austero dos outros educadores, já assumiam o papel real, representando a desgraça da Educação que os moldava conforme um padrão de subordinação caricata. Só cumpria sua função ali, passava de ano como seus pais desejavam, mas não se importava com notas altas ou méritos que alguns alcançavam por se destacarem em algo, pois odiava estar ali, passara grande parte de sua vida enfurnada naquele tipo de educandário prisional, não via a hora de se desvencilhar daquilo tudo, mesmo sabendo de outros tipos de cárcere que provavelmente sofreria, como o vínculo empregatício. Pensava que a sociedade costumava criar formas de aprisionar cada indivíduo, cabendo a eles formas de se libertar de cada uma delas. Um jogo de gato e rato que dura uma vida inteira, onde no final acabamos perdendo por termos sido subjugados pelo tempo, que ignora todo o vivido e segue com autoritarismo sua forma de ceifar vivências, um Chronos de coração duro. Se Zeus não tivesse sido corrompido por essa doutrina monoteísta de agora, eu louvaria esse deus garanhão sem hesitar, pelo simples fato de não se curvar a Chronos, não importando que fosse parricídio. Os filhos quando nascem já demonstram o fim dos pais, até pela lembrança de renovação que representam. Todo nascimento deveria ser considerado revolucionário, por apresentar uma transformação patente em seus progenitores, o legado genético é transmitido, mas darwinísticamente falando, o processo evolucionário acaba alterando de alguma forma aquela estrutura genealógica.

O professor começava a aula de forma empolgada, desejando transmitir aquela mesma empolgação, mas naquela manhã os alunos estavam sonolentos, sem ânimo para tais falatórios. Ainda assim com uma entonação mais grave o educador disse que o tema seria Revolução Russa, Andréia já havia lido algo a respeito, não entendia muito bem como se passara tal fato, ainda mais nas ditas influências que repercutiam até hoje, segundo especialistas no assunto asseguravam. Ela resumia tal evento como um fenômeno de envolvimento popular que deveria ter seu sentido quando foi executado, mas agora tornara-se obscuro perante as diversas interpretações acerca do mesmo. Aquelas bandeiras levantadas, aquela coloração vermelha por tanto tempo associada a algo que denominavam revolucionário, pra ela não passavam de agitação que arrefecera com o passar do tempo. Faz-se tudo para conseguir algo, conseguindo os ânimos se esmorecem, exaltam os heróis do passado por não compreenderem novos guerreiros, tão visíveis no cotidiano, pra ela uma mulher sobreviver com a baixa renda de sua família em um mundo de tão vasta gama cosmética era algo apocalíptico. A política que os homens tanto exaltavam apenas fazia aqueles barrigudos fanfarrões morrerem de enfarte, deixando suas esposas desconsoladas por terem seus maridos presos em rodas de conversas do tipo, com cigarros nas bocas, muitos desfrutando de outras dádivas do tabagismo, um charuto, alguns até mantinham o hábito do cachimbo. Mas nos lares residia o caos, alguns diziam ser uma herança burguesa, mas esse chamado proletário também deixara suas marcas nessa atmosfera caótica, pois toda ação acarreta reação, por mais newtoniano que seja.

Andréia ouvia as palavras do historiador sem impressionar-se com aquelas informações tão repetidas nas salas de aula, uma história fossilizada, narrativa repetitiva que desanimava, a própria Revolução Russa tornara-se apenas mais uma repetição, nada de extraordinário, já que fora reduzida a mais uma lista de nomes, datas, fatos desconexos que tentam dar uma liga para impressionar os alunos que ouvem apenas por exigência da disciplina. E aquele monte de nomes de partidos, um amontoado de palavras com pronúncia esquisita, sendo que o próprio idioma português apronta das suas, com palavras que dão nó na língua, não bastasse isso, ainda teria que eclodir em sua mente palavras de sonoridade russa. Aliás, bem engraçadas ao serem proferidas pelo aportuguesamento do professor que se esforçava por tentar deixá-las com alguma dignidade auditiva. Uma vez lera uma obra de Bakunin, palavras fortes, para ela que não se apegava a fins religiosos, parecia algo até simpático, além de causar escândalo ao repetir frases decoradas que eram impactantes para sua mãe, mulher de muita devoção religiosa. Pensou por um instante que deveriam talvez promover a sua própria revolução contra aquele sistema educacional, mas cada um deles estaria disposto em qual categoria de reinvindicação, seriam todos proletários? Ainda que fossem, os interesses distintos talvez não consolidassem o grupo, mas na Rússia deveria haver o mesmo tipo de discordâncias, talvez isso explique a imensa gama de partidos, líderes com princípios diversos, discursos que se multiplicavam. Voltou a desenhar no caderno e por via das dúvidas fez personagens de cores vermelhas, pois, ao mesmo tempo que relembrava a aula também possuía a associação com o sangue, pois com certeza muito dele fora derramado em tal evento, muitos deram suas vidas em nome de uma causa, guiados por um ideal. Não se considerava uma idealista, no máximo uma consumista, mas esse tal consumo também lhe parecia uma idéia adotada, mas este pelo menos satisfazia sua vaidade, podia sair satisfeita de casa ao olhar-se no espelho, talvez por uma boa maquiagem valesse uma revolução, já que as mulheres queimaram sutiãs, porque não poderiam agora se maquiar unidas em passeata e serem as verdadeiras caras-pintadas?

Até que Andréia poderia ser mais paciente, mas três aulas seguidas de História, até historiadores deveriam se entediar. Era algo para no mínimo tirar alguns cochilos, deixar a mente vagar em meio aquela rotina de falas, escritas no quadro negro que era verde, ou aqueles exercícios de livro didático que eram insuportáveis. Começou a escrever alguns bilhetes e entregar para sua melhor amiga Amanda, pelo menos a melhor da escola, ambas trocavam informações que concordavam em estarem saturadas da aula. Uma tentativa de conversa era logo reprimida com o professor que fazia alguma ironia para constrangê-las diante da turma, tática que não era exclusiva desse educador, assim como a capacidade dos alunos em driblar tais vigilâncias. Olhava aquelas carteiras, uma atrás da outra, só via as costas do aluno na sua frente, vez ou outra ele se virava e podia contemplar um pouco de seu perfil, imaginava que se não estivesse na última fileira talvez alguém atrás dela fizesse o mesmo, quem sabe tentaria ver um pedaço de sua bunda, caso a calça estivesse baixa ao sentar-se. O barulho do ventilador de teto criava um clima ainda mais depressivo, era algo irritante, contínuo, algumas vezes um som de fora interferia, como freadas de automóveis, sirenes, até mesmo um grito de alguém mais exaltado que passava pela rua. Chegou o momento de fazer as lições didáticas, o professor permitiu que fizessem em grupo, uma ótima deixa para conversas, aproximou-se de Amanda, entre sorrisinhos contavam as últimas novidades. Andréia relatava a madrugada de bebedeira e distração virtual, já Amanda dissera algo bem mais interessante, havia feito sexo, nem precisava dizer com todas as letras, bastava um olhar para saber do que se tratava.

Amanda era experimentada, perdera a virgindade com treze anos, gostava de aventuras amorosas, ou seja, sexuais. Sempre comentava seus feitos, era fiel no relato que costumava ser rico em detalhes, tinha um gosto especial e um sorriso malicioso ao compartilhar suas experiências íntimas. Não poderia competir com ela, mesmo porque apesar de meu jeito expansiva, ainda não tivera uma experiência do tipo para também poder me gabar, mas era gostoso ouvir aquela intimidade, imaginar, embora causasse repugnância certas coisas. Um dia no banheiro fez questão de mostrar roxos e outras marcas de uma “transa selvagem”, conforme ela dissera, ainda orgulhosa dizia que preferia os homens com atitudes de homens, aqueles meninos afeminados com jeito de emo não eram pra ela, embora eu discorde de suas palavras, pois a feminilidade não é frágil, eu que não me deixo ser sacudida por um garoto apenas para mostrar que é machinho. Eu que domino, não me curvo diante desse machismo barato, nem vou servir de Amélia, conforme canção que minha mãe vez ou outra cantarolava pela casa, estou com as incineradoras de sutiã e disso não abro mão. Não sou contra o sadomasoquismo, a idéia até parece interessante, mas porque precisam ter papéis definidos, pra que esse rigor hierárquico, onde na maioria dos casos é a mulher que deve se sujeitar aos caprichos do homem, talvez eu esteja mesmo me tornando uma feminista, se é que isso ainda existe. Uma vez, certo colega de classe, chamado Raul, que adorava História, acredito que entendia mais do que nosso próprio professor, disse que os nomes que ele chamava de conceitos, mudavam com o tempo. Talvez o feminismo tenha existido apenas na época que eclodira, agora as mulheres talvez sejam uma outra coisa, mas ainda creio que possuem esse ato feminil. Pra mim esses nomes não passam de bobagens, provavelmente o que as mulheres sentiram e sentem jamais conseguirá ser definido.

O nosso grupo composto de quatro componentes, eu, Amanda, Júlio e Clayton, sendo que apenas os garotos estavam empenhados em concluir a lição. Logo veio o intervalo, que alívio, saímos direto para o banheiro, a necessidade de urinar era imensa, além de visualizar a maquiagem no espelho. Alguns poucos retoques e refiz os traços do rosto, enquanto Amanda urinava, depois foi minha vez. Banheiro limpo mas com aparência de sujo, sempre tive essa impressão do sanitário público, sempre fica alguma gota, um pensamento de doença venérea no ar, sem contar aqueles produtos baratos e com odor forte, comprados em grande quantidade para aplacar o mal cheiro constante nesse tipo de lugar. Por ser mulher preciso me sentar neste assento, embora tenha desenvolvido uma técnica de fazer de pé, mataria de inveja muito garoto que se gaba de poder fazer isso. Ainda somos mais privilegiadas, pois ao nos sentarmos na privada ainda assim mantemos nossa genitália afastada, enquanto a deles costumam roçar nas bordas desse fétido recipiente de escatologias, pelo menos foi o que Raul relatara uma vez. Amanda começara seu novo relato de experiência sexual, contando sobre o Pedro, já desejava ter algo com ele fazia algum tempo, finalmente ocorrera, mas disse ter ficado decepcionada, esperava mais pela expectativa que havia formado em sua mente. Fomos até a cantina, os melhores salgados da cidade, não há quem duvide, provamos a famosa pizza frita, quem se importa com problemas calóricos em nossa idade, ainda mais eu que possuo um organismo que dificilmente se deixa seduzir pela obesidade, se as doenças vierem, que importa, elas acabam vindo de uma forma ou de outra, o importante é aproveitar enquanto podemos. Dividimos um refrigerante, visualizávamos o pátio, até que ocorreu algo extraordinário, acabara de ver Ruan, agora todas as atenções eram pra ele. Andréia apaixonara-se de forma instantânea pelo garoto, apesar de serem de turmas separadas, não foi difícil colher informações, sabia que eram da mesma idade, que ele também possuía predileções parecidas no que se refere a música, vestimentas e até livros. Era diferente dos outros garotos que se gabavam de seus corpos, ficavam com todas as garotas e diziam coisas estúpidas, ele lia poesias de Fernando Pessoa, tinha uma memória para decorar esse tipo de coisa, era bem reservado, não se importava com os grupinhos e o convívio social na escola. Seu ar misterioso causava suspiros, mas costumava rejeitar as garotas fáceis que se insinuavam, alguns até diziam que devia ser homossexual, mas para Andréia, era evidente que era hetero e se não fosse ela o faria tornar-se.

Na primeira vez que o vira no corredor da escola sentira o coração pulsando de uma forma que parecia a qualquer momento escapar do peito, ficou ofegante, as mãos começaram a suar, uma ventania invadiu sua barriga, foi algo estranho, talvez seja por influência dos filmes românticos que adorava assistir. Ele caminhou até Andréia, perguntou onde era a sala da coordenação, a voz era delicada, apesar de grave. Claro que a informação saiu de forma gaguejada, muito tímida pelo embaraço, mas ele também parecia intimidado, agradeceu com um sorriso que parecia uma dádiva, saiu caminhando enquanto Andréia acompanhava com os olhos seus passos. Dali em diante o ensino passou a ter outro significado, era a tortura de aguentar toda a chateação escolar até o presente de reencontrá-lo, começou até mesmo a forçar o acaso, fazendo amizades com pessoas da turma de sua paixão para poder ter motivos em estar por perto. O dia mais empolgante foi quando estava sentada na escada, lendo “As Flores do Mal”, de Baudelaire, um dia péssimo, a tristeza invadiu-lhe por inteira, só desejava não ser incomodada. Ruan parece ter adivinhado, chegou de mansinho, elogiou o livro, comentou que mais lhe agradava “As Litanias de Satã”, que coincidência, ela também adorava essa parte, sua angústia foi reprimida na hora, sorriu sinceramente e eles conversaram por alguns minutos. Sensível à sua fragilidade, Ruan levou a ponta do dedo até seus olhos e enxugou o resquício de lágrima que restava. Andréia quase beijou aqueles dedos, embora sua vontade fosse ir direto aos lábios, mas conteve-se. Apenas abraçaram-se e esqueceram de qualquer realidade que não fosse aqueles dois seres distintos que se tornaram um momento. Naquele dia compreendera o sentimento em sua plenitude, os dois juntos eram a combinação que sempre imaginara, mesmo mudos se completavam, o gesto precedido era antecipado por outro que impulsivamente compreendia o que viria.

O sinal de término do intervalo soava bem alto, não podendo nenhum distraído servir-se da justificativa de ter passado despercebido. Andréia subia as escadas de forma vagarosa, desejava por alguma sorte do destino ser recompensada pela presença tão esperada do seu apaixonado Ruan por aqueles corredores. Mas ao contrário da cegueira do deus Destino, ela procurava agir sobre os fatos para que estes a favorecessem, e com desculpa de empréstimo de um livro didático foi até a sala de aula do seu amado. Chegou à porta da classe perguntando para um dos garotos se a Ludmila estava, mas já perscrutara o ambiente à procura de Ruan, nem um e nem outro se encontravam, ficou de prontidão no corredor aguardando. Eis que surge Ludmila, se cumprimentam, pergunta sobre o livro, mas acaba dizendo que foi bobagem ter desejado tal coisa, pois recordara-se que naquela aula não precisaria desse material e foi cabisbaixa se dirigindo à sua turma. Ao caminhar pelo corredor levantou o olhar como se este estivesse perdido em meio a sua tragédia momentânea, eis que encarou os olhos de Ruan, que se detivera. Disse um oi de forma tão simples e ao mesmo tempo encantadora que suas pernas bambearam por um milésimo de segundo, embora tenha parecido uma eternidade, agora compreendia bem a relatividade de Einstein. Passou por ele, parecia ter entrado em outra dimensão, da tristeza que trazia no peito, logo a seguir um sorriso invadiu-lhe mais que a face, voltou revigorada para as aulas de Matemática. Tornara-se ativa frente aos problemas expostos pelo professor, participou junto com outros alunos, claro que não faltou a conversa com Amanda, pois ninguém é de ferro, e as aulas são longas demais com toda aquela teoria que não utiliza no seu cotidiano, salvo para apresentar aos pais os resultados que tanto desejam por seu investimento à longo prazo. Logo veio o último sinal, se despediu dos amigos e foi embora rapidamente pra casa, sabia que Ruan havia saído mais cedo, não havia motivos para permanecer ali, precisava refugiar-se.