Laço de fogo

A jovem morena havia se surpreendido com a declaração de amor do deslumbrado engenheiro. Ficara contente, afinal, era um belo homem, o Antônio. Bom partido, educado, freqüentemente cobiçado pelas damas do convívio, deveras frustradas das tentativas de demovê-lo da boa conduta. No inicio, surpresa, depois contente e de repente, apaixonada. A sedução envolve, amordaça a ética, dissolve o compromisso como açúcar num copo d’água. Juliana havia desconsiderado um pequeno detalhe: era casada, assim como ele que perdera o juízo e não tinha a menor idéia da tamanha confusão em que se metera.

Ludwig era muito ciumento. Tanto que tão logo soube da traição da mulher, saiu como um louco à procura dos dois. Quando os viu a caminhar de mãos dadas pela rua, com uma coragem emprestada, passou por cima do casal e ainda deu ré no caminhão.

Melina ficara viúva e a sensação de que fora vingada ainda que por outras mãos, lhe dava certo alívio. Não era mais dela o marido, no entanto, morto, não seria de ninguém. Juliana, que deu à terra os seios onde Ludwig adormecia depois do amor, não mais os daria a outros lábios, fato que servia de consolo ao assassino, que na cadeia, estava livre do ciúme para sempre.

À época, mais exatamente nas horas que sucederam a desgraça, caiu uma chuva mansa sobre a tarde. Houve certo alarido, dizem, pois algumas bocas juraram ter visto em pontos distantes do céu os dois enamorados, chamando um ao outro como a perguntar o que havia acontecido.