Romance proibido

Romance proibido

Edivandro vivia na Bahia, tinha o gingado da capoeira nos pés e o gingado da música nas cadeiras, era um rapaz formoso, na Bahia não lhe faltavam pretendentes, moças pobres ou moças ricas, todas, sem exceção, acabavam se encantando pelo mulato brejeiro, pelo gingado excitante e olhos de mistério.

Mas o que as baianas não sabiam, era um dos mistérios que Edivandro carregava não só no olhar, mas também no coração, fora um menino de rua, menino moleque que chegara à Bahia aos dez anos de idade, sabe Deus em que estação, mas Edivandro fascinava de cara, ganhando afeto, carinho e atenção de um povo que não era o seu povo, mas que o recebera de braços abertos em qualquer situação.

E o mistério da chegada de Edivandro, aos poucos foi ficando para trás, o tempo foi apagando as marcas da Memória da criança que hoje se tornara um lindo rapaz.

Edivandro tinha olhos esverdeados, o que o tornava ainda mais fascinante e quando Lais Mendes o avistou, seu coração não poderia disfarçar e Edivandro meio que timidamente retribuía seu amor com o olhar.

Lais Mendes era linda, filha de um famoso senador, Edivandro sabia que um problema ali se instalava, seja no Brasil, na França ou na China, moço pobre de pele escura perto de menina rica não chegava.

E assim começava como tantas outras uma história de amor que fazia a terra estremecer com uma simples troca de olhar e fazia as palmeiras se calarem quando as bocas conseguiam se tocar.

E as ondas embalavam aquele amor, dizem que na Bahia a comida é afrodisíaca, mas te digo que na Bahia só a miséria que não é, porque no mais, tudo é um convite para amar, sejam as noites de calor, seja o ritmo da folia, sejam as ondas do mar, pelo que vi por ali, até a água de coco na Bahia tem sabor de namorar.

E com Lais Mendes não foi diferente, Edivandro se apaixonou pelo sorriso matreiro, pelo jeitinho sapeca, pela carinha de boneca, e Lais Mendes se apaixonou pela fala mansa, pelo belo balanço mulato, pelo cheiro de mar, e por aqueles olhos misteriosamente verdes que lembravam as águas de Itaparica quando o vento sudoeste queria entrar.

E eis que o que aconteceu era mesmo de se esperar, a menina de família tradicional acabou por engravidar.

A notícia caiu como uma bomba, a família não sabia o que fazer, o pai queria Edivandro matar, mas a mãe por compaixão e vendo o amor da filha, virou para o senador com autoridade e disse: - Se matá-lo, eu lhe mato.

E a poeira foi baixando e Edivandro e Lais resolveram se casar, em uma cerimônia intima e singela, as bênçãos de Deus os dois receberam, mas o que Lais Mendes não sabia era o porquê do marido não falar nem para ela que o amava de verdade, de onde ele tinha vindo, de que cidade?

Mas Lais resolveu deixar pra lá, nove meses se passaram e as dores do parto começaram Laís não sabia o que fazer, se virava para um lado e para o outro, mas uma posição pra ficar não encontrava, não tinha mais jeito, era a hora do bebê nascer que chegava.

O senador estava orgulhoso, apesar de no inicio implicar por conta da situação social do genro, agora estava feliz com o mulatinho que ia chegar.

E as dores iam aumentando e o momento de dar a luz chegou, Edivandro e Laís eram só felicidade e aumentava a cada dia o amor dos dois.

E para a surpresa de todos, um lindo bebê nasceu, não era mulato como Edivandro, nem moreno como Lais e os avós da criança acharam que o bebê havia sido trocado.

Fizeram um reboliço no hospital, foram chamados a TV, a policia, e o jornal, foi quando Edivandro acuado teve que falar:

_ Pode esquecer meu sogro, esse menino não foi trocado.

Os presentes estranharam a certeza do rapaz, que explicou sua história de como acabou parando ali.

Edivandro era filho de uma negra com um alemão, acabou fugindo de casa, no sul do Brasil aos dez anos por não agüentar o preconceito e a descriminação e até o pai que o amava acabava sofrendo com a situação.

E estava lá, para comprovar sua história, o menino de cor branca, alvo como a neve, de olhos verdes como os do pai e o cabelo infelizmente, dos pais teve que puxar, mas conseguia ter o nariz de português do senador e um sorriso brasileiro encantador.

E todos ficaram felizes que o bebê não havia sido trocado, e quando os pais saiam com a criança, perceberam que no Brasil, uma misturinha de cor que mal há?

Se ninguém aqui é puro mesmo, não seria seu bebê que aqui iria ser.

O amor aqui ultrapassa a segregação, a descriminação e as barreiras fazendo um povo tão bonito e colorido que só posso mesmo dizer:

_ Viva a miscigenação brasileira.

Izabelle Valladares Mattos
Enviado por Izabelle Valladares Mattos em 31/01/2012
Código do texto: T3471728
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