É carnaval

A primeira coisa que o Zeca disse quando conheceu a Bia foi:

- Adorei ter conhecido você, mas namoro sério só depois do carnaval.

Era dezembro. Bia coçou a cabeça, achando que não tinha entendido direito a colocação do seu candidato a namorado.

- Quer dizer que a gente não está namorando ainda?

- Não. A gente está só ficando. De rolo... O nome que você quiser dar.

- Bom, isto quer dizer que eu posso sair com qualquer um? Com você e mais dez?

- Pode. Mas a diferença é que eu não sou qualquer um.

O verão foi passando. E o rolo de Bia e Zeca também. Os dois foram para a praia, cada um com sua turma de amigos. Encontravam-se na noite, nas baladas, rolava beijo na boca, alguma intimidade maior. Quando a Bia estava imaginando que já era namorada do Zeca, ele veio com a novidade:

- Vou para Salvador com a galera.

Bia sorriu amarelo. Como assim? Que galera? E eu aqui?

- Aproveite bastante - respondeu ela, como se nada daquilo tivesse o poder de atingi-la.

Mas atingiu. No dia em que o Zeca foi para a Bahia, a Bia caiu na cama, chorando o pouco caso do seu amor. A mãe, penalizada, tentou primeiro consolá-la com doces palavras. Depois, aos gritos, mandou que a filha parasse de frescura e fosse tomar um chá de amor próprio. - Em pleno século XXI filha minha não chora por sem vergonha nenhum!

Dito isto, Bia secou as lágrimas, respirou fundo e foi para a noite. Era quase carnaval. Alguns blocos já pipocavam nas ruas. Bia se enfiou no meio do povo, encantou-se com um pirata e passou a noite toda beijando muito na boca. Do Zeca, nem lembrava mais.

Quando ela abriu a porta de casa às sete horas da manhã, deparou-se com a mãe preparando o chimarrão. Ao ver a filha descabelada, sem batom e com a minissaia torta, ela perguntou:

- A noite estava boa?

- Ô... - foi a resposta, segundos antes da Bia desabar na cama, de onde saiu somente às três horas da tarde, pronta para encarar mais uma maratona de trio elétrico.

E assim foram todas as noites. Nos braços do Pirata Bia passou o melhor carnaval da sua vida. Fevereiro nem tinha acabado e ela já estava de namoro firme com o outro. Quando o Zeca resolveu aparecer, pensando no inverno que se avizinhava e cheio de amor para dar, Bia o dispensou, sumariamente.

- Volta para as tuas baianas - disse ela, sem dó nem piedade.

O Zeca não entendeu nada, deu meia volta e foi embora. Sumiu. Escafedeu-se. E Bia voltou para os braços fortes do seu pirata, onde sempre navegou por deliciosas ondas.

Mas... por onde andaria o Zeca?

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Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 19/02/2012
Reeditado em 19/02/2012
Código do texto: T3508089