Apenas mais uma de amor

- Rael! Por favor! - Pediu incansável para o chefe que apenas revirou os olhos não entendendo todo aquele desespero de sua melhor e tão equilibrada jornalista, Marina Costa.

- Você parecia tão empolgada em trabalhar nessa matéria... só foi você saber quem é o lutador que você ficou assim... - Ela sentiu o tom maldoso do chefe, mas ignorou.

- Eu só estou te pedindo para colocar o Pedro dessa vez, ele gosta de esportes, e você sabe, não tem nada a ver comigo.

Em resposta, Rael jogou na mesa três jornais com matérias de esportes assinadas por Marina. Ela caiu na cadeira, suspirando em derrota.

- Amanhã, às 20h00 na entrada do Night Club, e por favor, ouse! Você de uns tempos pra cá anda mole pra caramba.

Sem mais respostas a dar, Marina saiu da sala de seu chefe e foi para sua que se localizava ao lado. Era 21h00 de um dia terrivelmente cansativo e a garota estava com um humor péssimo.

Saber que teria que escrever a matéria de seu ex-namorado a deixou com a velha sensação de estar voltando aos 15 anos e vivendo a mesma vida no Rio Grande do Sul, onde conhecera e protagonizara um romance que a marcou pela vida toda.

- Talvez ele não me reconheça. - Murmurou, esperançosa.

Mas Emanuel jamais se esquecerá da única mulher que amou de verdade.

São Paulo, Night Club - 22h00

- Ele é bem simpático e lindo, muito lindo. - Ouviu uma colega jornalista concorrente dizer. Revirou os olhos e voltou a murmurar mentalmente

“ele não vai me reconhecer, ele não vai me reconhecer”, na adolescência. Marina no passado tinha cabelo liso e castanho, aos 22 anos de idade, seus cabelos estavam lisos e com a cor preta.

“É uma grande diferença.” - Disse em pensamento.

Ao ouvir gritos histéricos de adolescentes e um grande burburinho dos jornalistas que faziam cobertura da vinda do campeão de judô gaúcho, ela soube que Emanuel tinha chegado. E ao se virar lentamente e com um grande aperto no coração, viu que estava certa.

O carro dele parou, seus dois seguranças abriram a porta e ele desceu do carro sob fortes flash's e gritos. Não deu nem tempo de Marina tentar se aproximar da estrela, ele fora rodeado de jornalistas.

Claro que Emanuel ainda mantinha a mesma beleza de antes o mesmo físico bem feito, tudo no mesmo lugar. Marina se perguntou se ela ainda tinha o mesmo lugar na vida dele, mas preferiu não tentar formular uma resposta.

“Talvez se eu ficar afastada e mentir para Rael ele acredite... Droga.” - Ela sabia que seu irredutível chefe não acreditaria.

Ligou o gravador e se aproximou sem muita vontade, não sabia por que estava com tanto medo, mas estava. Era como se vê-lo, fosse relembrar de tudo o que custará a superar.

Sua história com Emanuel fora marcada por amor, paixão e muito sofrimento, ela se lembrava de tudo como se tivesse vivido ontem.

“Emanuel! Emanuel! É verdade que você pretende morar um tempo aqui em São Paulo?” - Ela ouviu uma jornalista afobada perguntar e aproximou o aparelho de gravação, ao ouvir a voz dele sentiu as pernas bambearem, e sentiu-se tonta. Tinha que sair dali.

“Eu ainda não tenho certeza, mas eu sempre tive uma grande vontade de morar em São Paulo.” - Respondeu Emanuel sorrindo, seus seguranças davam passagem para ele passar. Marina já respirava com dificuldade.

“Eu vou morrer, Deus do céu.”

O tumulto continuava, então Marina decidiu fazer uma pergunta, iria falar baixo, sabendo que ninguém escutaria, porém Emanuel a escutara e olhou em sua direção.

Marina manteve o olhar, Emanuel estudou seu rosto e sentindo-se confuso, se aproximou.

- Tu poderia repetir a sua pergunta? - Perguntou com o sotaque forte de um típico nascido no Sul.

- Claro... Como você se sente recebendo mais esse importante prêmio? - Ao ouvir sua voz com clareza, ele lembrou de onde a conhecia e tudo ficou silencioso, pelo menos para eles dois.

Marina quis fugir, Emanuel quis olha-la de perto, toca-la para ver se era verdade tudo o que acontecia sob seus olhos.

- Marina...

Ela se afastou, perplexa e seu lugar fora tomado por jornalistas. Emanuel ainda procurava o rosto de Marina, mas já a perderá de vista.

- Merda. - caminhou até uma árvore e sentou-se com o gravador em mãos. Não estava bem, sua pressão caíra e seu corpo estava gelado. - Boa hora para morrer... trabalhando.

- Você está bem? - Ouviu alguém perguntar e levantou a cabeça, um rapaz moreno e de feições suaves a olhava com preocupação. Os olhos claros eram distintos.

- E você se importa? Ou veio aqui só para saber se uma jornalista concorrente está prestes a morrer? - Levantou-se, irada e pegou o crachá do rapaz e viu pra quem ele trabalhava. - Ah claro, da Diário, tem que ser um vermezinho abelhudo mesmo.

O rapaz não soube o que responder. Marina não quis ser grossa, porém, era impulsiva.

- Olha, desculpe tá legal? Eu vi você ai toda gelada e mais branca depois que viu o playboy e só quis ajudar. - Disse ele, sem jeito.

- Tá... - Ela respirou todo o ar que segurava desde que vira Emanuel. - Me desculpe, estou num péssimo dia.

- Tudo bem. Gabriel. - Estendeu a mão. Marina o cumprimentou.

- Marina.

- Vamos entrar? Tão liberando as credencias pros comes e bebes, esse cara ai é bacana, se fosse o tal Ryan lá do Maranhão ele não deixaria.

Marina travou, jamais entraria nessa festa.

- Não... Eu acho que já estou boa... - Seu celular vibrou, era o toque de mensagem. Temia que fosse Rael. Ao pegar o aparelho, bateu a mão na testa. Era mesmo seu chefe.

“Marina, soube que estão liberando credencias pra premiação. Te quero lá dentro perseguindo o gaúcho. Até amanhã.”

- E ai? - Perguntou Gabriel. Marina forçou um sorriso e puxou o novo amigo pelas mãos rumo a entrada do Night Club.

O salão era o mais chique o possível, e claro, estava lotado de jornalistas famintos por uma boa notícia. Gabriel fora entrevistar o dirigente do campeonato paulista e Marina foi ao banheiro lavar o rosto, tinha que ficar bem, Emanuel já nem devia se lembrar dela.

- Eu odeio o Rael, odeio, odeio, odeio e o d e i o!!!!!!!!! - Disse, secando o rosto com uma toalha de papel e ajeitando os sapatos no pé. - Que merda de dia.

Saiu do banheiro devagar quando viu dois homens altos que ela reconheceu ser os seguranças de Emanuel. Deu um passo pra trás, mas, os um deles a puxou pela blusa (que fora destruída pela força bruta)

- O QUE? EU NÃO FIZ NADA!!!! - Berrou, mas o segurança tapou sua boca, apesar que ninguém ouviria seus gritos, estava bem longe da concentração da festa.

Marina fora levada pra uma sala que lembrava a camarim de músico, eles a jogaram lá dentro e fecharam com chave.

- Porrrrra! - Gritou, levantando-se do chão e correndo até a porta.

Ouviu passos e não quis que sua intuição estivesse certa.

- Bah... Quanto tempo. - Marina travou na entrada da porta. - Marina.

Emanuel se aproximou dela e a virou rapidamente, tinha ânsia em toca-la, senti-la. Era como se eles fossem os mesmos adolescentes de 8 anos atrás.

- Não me toca. - Ela disse, ríspida. O rapaz não se assustou, conhecia o jeito dela. - Droga Emanuel! - Tentou empurra-lo, ele segurou sua mão e puxou seu rosto para olhar nos olhos dela.

- É assim que tu me trata depois de tanto tempo? - Perguntou, um tanto sentido.

- Me poupe, sério. Você me dá nojo.

- Nojo? Tu me largou no Rio Grande do Sul! - Marina riu em total deboche, Emanuel já sentiu o punho fechar, de raiva.

- Depois de você ter me traído com cinco vadias! - Rebateu, tentando soltar sua mão da de Emanuel.

- Eu te amava! Tu se enroscou com mais de dois piá, nunca me deu chance. - Ele a soltou, tremendo de raiva.

- Só se eu fosse adivinha, você queria o que?

- Eu queria era ficar contigo. - Respondeu, calando Marina por alguns instantes.

Ela abriu a boca tentando formular alguma resposta.

- Isso não importa mais.

- Para ti, não é?

- Você só me trouxe mágoas, Emanuel.

- Marina... - Outra aproximação. Marina odiava aquele tom de voz manso, suave, desarmava ela. A deixava sem defesa.

- Não. - Foi para o lado, e depois sentou-se no sofá. - Porque você fez tudo isso? Porque?

- Eu queria ter certeza de que era tu mesmo. - Respondeu, dando de ombros. - Estais diferente guria, só o mesmo jeitinho arrogante que não mudou.

Ela deu um leve sorriso, talvez sorrir diminuísse sua dor perante a tudo aquilo. Depois de tanto tempo aprendendo a superar um amor mal resolvido, viver uma situação daquela não estava em seus planos.

“Reencontros machucam.” - Pensou, vendo Emanuel se ajoelhar em sua frente. As feições de menino iluminando seu rosto.

- Me perdoe. - Pediu Emanuel, segurando sua mão. - Tu não tem noção do quanto eu me senti mal por tudo que lhe fiz.

- Não faz diferença. - Respondeu, tentando soar indiferente. Tentando, claro.

- Eu sei que faz. Sei que apesar de 8 anos terem se passado, eu marquei em tua vida, eu fui seu primeiro homem, o primeiro piá que tu amou. Tu sempre será minha.

A forma com que ele falou, deixou-a completamente boquiaberta.

- Emanuel... Tanta coisa mudou. - disse com a voz chorosa, não dava mais pra se controlar.

- Só não o fato de que tu é minha.

- Não... - Emanuel avançou lentamente sobre Marina e beijou-lhe os lábios macios, ele foi deitando-a para o lado no pequeno sofá sem deixar de beija-la.

- Fica comigo essa noite. - Pediu ele, sussurrando em seu ouvido. - Só hoje...

- Sim... - Envolvida por aquele momento, ela o beijou com volúpia. Era inquietante como Emanuel ainda a conhecia depois de tanto tempo. - Fico.

O beijo tinha um sabor doce de reencontro, de desejos, de palavras que nunca foram ditas, Marina segurou o cabelo meio arrepiado e meio bagunçado de Emanuel e ele tocava-lhe a pele, marcando e guardando minuciosamente cada parte daquela mulher, de sua mulher.

O tempo parecia banal perto de tudo o que eles sentiam e precisavam demonstrar um ao outro. Emanuel sentou-se com Marina em seu colo e sorriu ao ver a forma sensual e felina que ela estava, os cabelos longos e pretos estavam bagunçados, e no rosto, esbanjava um sorriso de quem estava completamente presa aquele momento.

- Como pude ficar tanto tempo sem tu? – Perguntou, alisando o rosto de sua menina.

- Foi um tempo de muito aprendizado pra ambos. – Marina disse, fechando os olhos sob a caricia de Emanuel. – Eu acho que te amo.

Ele riu, alisando o rosto dela carinhosamente.

- Eu acho que te amo mais. – E com suavidade, puxou o rosto de Marina para mais um beijo, que foi descendo até o colo dela, onde ele parou, a olhou, esperando alguma intervenção, porém Marina fechará os olhos, em total entrega.

Um barulho na porta, fez com que Marina pulasse do colo de Emanuel, que frustrado, jogou a cabeça pra trás.

- Emanuel, em 5 minutos você entra. – Alguém avisou, saindo logo em seguida com passos rápidos.

- Vai... – Marina disse, suspirando. No fundo, queria terminar o que haviam começado. Depois de tanta indefinição, o que estava prestes a acontecer, seria cheio de certezas, ela sabia, tinha fé nisso.

- Fica aqui... Por favor? – Ele se levantou, ajeitou seu smooking. Marina não teve como negar aquele pedido, não com Emanuel a olhando com um olhar tão apaixonante.

- Fico, você sabe que eu fico.

O sorriso que ele teve em resposta foi tão lindo que ela correu pra abraçá-lo. Naquela noite, a premiação fora rápida, Emanuel estava tão ansioso para ficar logo com Marina que não se demorou nos compromissos.

Ele a levou para o hotel onde ficaria uma semana. Já no corredor, se amavam de maneira intensa, ardente, resgatando todo o tempo perdido. Emanuel a carregou no colo até a cama, grande e redonda onde até o pôr-do-sol, amaram-se pra valer.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 25/02/2012
Reeditado em 14/06/2014
Código do texto: T3518608
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