Um futuro

Ano 2095. Como uma andróide replicante que estivesse com as baterias e componentes vitais se esgotando e ainda com uma consciência tranqüila de seu próprio fato morte, ela contava com a companhia dele naqueles seus prováveis últimos momentos. Sala quase escura. Ela falava a ele do sono que já começava a sentir como prenúncio do fim. Estavam tristes, mas não desesperados: já sabiam, sim, na verdade, que aquilo ocorreria num breve dia. Em alguns momentos de sua vida, ele podia até ter lutado contra essa realidade fidedigna limite de estar com ela até o fim, mas não adiantava... Não adiantavam os haréns imaginários como se muçulmano fosse, não adiantavam os eventuais casos com mulheres de pensamento livre, não adiantava apaixonar-se por elas, não adiantava espernear, gritar e nem encher o porta-mala... não adiantava... ele sabia que a amava e que estaria com ela até o fim.

Da sacada do apartamento lá naquele alto, olhava para os veículos. Do umbral para a sala o leve sorriso dela, muito bonita e serena no sofá, respondendo ao olhar dele, com um olhar de carinho infinito. A Terra fervia.