E ele me amou até mesmo quando já não tinha vida.

Ele me olhava como se já me conhecesse e podia ver nos seus olhos que tinha a impressão de que eu não conseguia vê-lo. Suas mãos brancas deslizavam na minha face desenhando meu rosto. Não consegui me mexer, nada em mim obedecia, por mais que pareça loucura eu não me mexi, queria urgentemente abraça-lo, mas no entanto eu fechei os olhos. Acordei em uma cama forrada com ceda, a coberta de plumas, o quarto estranho e silencioso, gelado e seguro. Aquele homem me segurou enquanto tentei levantar, me abraçou como se tivesse medo de me perder, me olhou como-se me amasse loucamente e só consegui por algum motivo dizer que eu estava bem e que as cicatrizes desapareciam.

Dias se passaram, descobrir que aqueles olhos eram falsos, que aquele corpo já não tinha vida, que suas palavras; eram de anos e seus versos eram desesperados. Sim, ele existia mesmo não estando ali, meu corpo tremia, lembro que ele cuidava de mim e toda vez que ele iria embora eu podia sentir medo de perde-lo. Quanto mais o tempo passava, eu podia senti as minhas pernas, com mais tempo senti minhas mãos e quanto mais o tempo passava, suas visitas deixavam de ser frequentes, seu rosto parecia se tornar cada vez mais transparente. Vi muitas pessoas e muitas choravam, algumas me sacudiam, outros gritavam e eu ficava ali parada admirando tudo e não entendo nada.

O homem de mão gelada , de corpo robusto desapareceu e todos me contaram que eu estava no hospital que os médicos não acreditavam mais na minha recuperação e que eu havia sofrido um acidente junto com '' o homem da minha vida '', quando me amostraram a foto eu gelei e me dei conta de que ele esteve ali o tempo todo e graças a ele eu voltei a vida, tive outra chance. Me contaram também que quando fiquei presa as ferragens, alguém me tirou de lá e ninguém consegue explicar como aconteceu se só tinha eu e '' Eduardo '' e ele estava morto.

Os dias iam se passando e eu tinha esperança de que ele voltaria do trabalho e eu poderia dizer que '' o amo '', pedi desculpa por todas as brigas e agradecer por todas as vezes que seu amor foi imenso ao ponto de sempre esta do meu lado, sempre torcer por mim, quando já perdi tudo, até mesmo a esperança. E o máximo que consigo é vento batendo as janelas e todas as vezes que vou a fisioterapia há uma força maior que me faz levantar, tentar e não desistir. Ao chegar em casa encontrei flores, havia um lindo cartão, andava, sorria e por algum motivo sai correndo subindo as escadas e quando abri a porta lá estava ele tirando o paleto, e quando me viu assustada, me abraçou forte ao ponto de me desestabilizar e então acordei o relógio marcava seis da manhã, lá estava o homem da minha vida ao meu lado, onde sempre esteve e nunca deveria sair. Percebi que o amava mais do que nunca, acordei ele desesperadamente e ele sem entender sorrio e quando me dei conta apertava o travesseiro e a verdade é que quando cheguei da fisioterapia só tive animo para dormir. E tentei fazer isso sempre, para ter-lo nem que fosse por alguns instantes e me culpo por não tê-lo amado mais, por não ter dito a ele o quanto era importante viver ao dele e que ele estava certo, quando disse que eu era forte, pois de alguma maneira sempre o tinha dentro de mim e isso me tornava invencível.

Milena Miranda
Enviado por Milena Miranda em 24/03/2012
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