"AQUELE SORRISO INFANTIL"

"AQUELE SORRISO INFANTIL"

Valdemiro Mendonça

Não é a única coisa que me lembro da infância, mas a recordação que mais marcou minha vida! Penso que tínhamos cinco ano, ”talvez menos”, lembro-me do seu rostinho pequeno de tez delicada, que se iluminava com o sorriso fácil sem timidez quando me olhava e eu devolvia o sorriso... Se no olhássemos cem vezes durante o dia, sorriamos, “os dois” cem vezes cada.

Perdemo-nos um do outro, eu no mundo citadino, você na pujança da grande fazenda dos seus pais. Vimos-nos novamente aos dezesseis anos, num dia de festa. “Era o casamento da minha irmã mais velha”, me lembro de que comprara uma camisa de mangas compridas para assistir o acontecimento, acho que eu estava bem elegante.

Você chegou nos olhamos e trocamos aquele sorriso puro outra vez. Você disse que minha roupa estava bonita, devolvi o sorriso agradeci e como se aquilo fizesse parte da nossa vida nos abraçamos e nos beijamos, um beijo grande longo e que representava toda a nossa saudade, apenas um beijo, tão doce como nossos sorrisos, um beijo sem palavras, sem culpa, só de sentimentos.

Perdemo-nos novamente, você tinha um namorado firme e iria se casar em breve. Eu estava no mundo, muito longe e quando regressei soube do casamento, não tive mágoas, mas me perguntei se você teve o mesmo sentimento que eu, aquela sensação que apertava meu peito e me dava à certeza de ter perdido um tesouro tão valioso e que me faria falta o resto da vida.

Você se foi desta vida com trinta e quatro anos... Chorei sozinho num canto, pois não teria como explicar minhas lágrimas se alguém me visse. Todos estes anos depois da sua partida, aqueles momentos têm sido o meu refugio nas horas de desanimo. Quando me sinto triste procuro a visão daquele sorriso, a pureza daquele beijo e vou vivendo. Não me esqueço, e até hoje ainda acho que você foi a maior riqueza que perdi.

Algum tempo longe de alguém sempre nos faz esquecer as feições da pessoa, mas você não! Está viva na minha mente como o mais doce das minhas lembranças. Tinha que escrever isto, embora acredite que é apenas para colocar as palavras no papel, tenho certeza que você sabia que também perdera algo por não saber como eu, a forma correta de tomar posse de algo que tínhamos certeza de nos pertencer, talvez a nossa alma gêmea que teve a chance de ficar unida. Fica a pergunta:, haverá outra chance?

Trovador

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 22/04/2012
Reeditado em 23/11/2016
Código do texto: T3626478
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