John da Primavera

Estávamos deitados na grama, e o sol o tocava, me tocava também, mas o vento vinha de todas as ilhas ao redor e eu não podia o ouvir, porque todos os meus sentidos se deterioraram. Então corremos até a colina para que Jhonny Letteres pudesse segurar uma mão fina e delicada e dizer todas aquelas palavras. Eu acabara de manchar o vestido criado apenas para aquela primavera e eu não o podia ver sorrir assim tão amável. Seus olhos verdes contracenavam com o entardecer e cada rajada de luz solar parecia penetrar nos seus olhos. Nunca contracenei com tantos sorrisos, um ao lado do outro, deitados na grama com cheiro de semi molhada. Eu não sentia as gotas penetrarem minha pele, mas pude sentir poucos grãos de areia roçando na minha pele. Em voz alta ele dizia – “Eu te amo, muito, muito”, ele dizia que o muito nunca acabaria, porque parecia inimaginável seu amor para mim. Eu me permanecia calma, calada e sorria quase que com uma inocência. Às vezes me sentia engraçada por não dizer que o amo também, mas tenho muitos medos, principalmente de dizer um dia que não o amo mais, e é isso que se devem dizer quando o amor acaba e o declaramos. Nesse tempo sinto me envergonhada por pensar dessa maneira, então meu rosto cora. John pensa que me sinto amável, que não tenho utilidade naquele momento a não ser amá-lo da mesma maneira. Não o vejo desconsiderar essa maneira de pensar. Colhemos alguns galhos, porque pensávamos que a noite seria fria e pretendíamos fazer uma fogueira. Eu queria por muito tempo congelar o momento na grama, porque me sinto tão triste de estar absurdamente feliz, parece injusto com a humanidade. Cantávamos e íamos até a floresta muitas vezes ao dia. Eu costumava me esconder por trás dos arbustos, mas John sempre me esperava com um sorriso de sinceridade amável, nunca me enganaria. Não pertencia a ninguém, apenas a mim, e eu a ele. Mas não podia dizer que o amável, porque conseqüentemente um dia também teria de dizer que não o amo mais.

Ao entardecer costumávamos fazer fogueiras e cantar lado a lado. Muitas vezes eu via seu olhar encontrar ao meu, mas nas noites quentes como as ultimas íamos dormir sem a fogueira. John me abraçava e arrancava de mim todas as poucas preocupações humanitárias. Ele persistia em dizer me amar mais do que qualquer coisa no mundo, ou ao menos era o que poderia entender de suas palavras, ele dizia – “Eu te amo muito, muito, muito”. O quarto permanecia na escuridão e nada mais tomaria conta desse vazio de palavras do que as que já foram pronunciadas. Eu sentia uma felicidade infinita, então me senti na obrigação de dizer que o amava também. Não como se fosse obrigada, porque o amava de certo ainda o amo, muito. Mas não podemos mais estar juntos até que o inverno chegue, sua amante não permitiria. Não o poderia dizer nada, já que eu mesma quem condicionei esses encontros. Não consigo ver o amor que ele sente por mim quando assim pronunciado, vejo-o, posso encontrá-lo, mas desejaria ser inteiramente amada por John. Muitos anos se passaram e nunca podemos estar inteiramente juntos. Às vezes ele acha que nos tornamos amigos, porque não gostaria de se sentir culpado, posso o ouvir no meio da noite dizer – “Merda, droga!”. Compreendo que seja sobre a toda essa maneira que agimos. Tenho duas vontades que se confrontam: a primeira – dizer-lhe que se vá, que jamais retorne, que nunca mais venha pronunciar meu nome e que busque sua felicidade junto ao que menos desejar inconscientemente, algo que não seja eu. A segunda – É que eu me ajoelhe lhe suplique para que se dissipe dessa situação, que me ame inteiramente apesar do “Muito, muito” que já me ama. Que poderia ser qualquer coisa por ele e que prometeria felicidade no máximo que pudesse dar-lhe. Mas então o telefone toca e todo esse confronto se paralisa. É sua voz dizendo para que não o procure das duas às dezoito horas. Corta as desculpas e apenas se mantém focado no informe. Eu penso que ele deveria mentir sobre esse informe, que diga estar trabalhando sem poder parar. Que seus dedos sangraram de tanto trabalhar e por isso busca repouso longe de tudo e de todos. Que morreu das duas às dezoito horas. Que não há vida na terra nesse tempo. Mas não, ele não se preocupa. Ele apesar me informa e acrescenta – “Peço que me espere na última estação, pouco perto da praça, pois ainda quero te ver essa noite”. Gostaria de rastejar até o buraco mais profundo. Manter-me na sua escuridão e aos poucos desaparecer dentro dela, me tornar ela, a escuridão. E não mais existir.

Queria poder ser sincera com John, porque em quase todo o tempo podemos ser felizes. Minhas mãos passam pelo seu cabelo dourado, sua pele branca em que todas as partes cabem perfeitamente em minha mão direita – não culpo a esquerda, porem meu coração bate mais forte quando a direita o toca -, quando meus lábios o tocam, e ele me abraça sem vazio algum. Às vezes eu o sinto sugar minha vida, mas em troca ele me fornece a felicidade. Queria não me importar com a necessidade de que seja inteiramente meu, mas não seria amor. Eu não o amaria, não o manteria em minha vida, em meus braços enquanto nas noites de fogueiras, nas corridas aos pinheirais, naquele lençol que me foi dado no último verão. Nada disso seria real, se não fosse por John da primavera.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 26/04/2012
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