Consolado por um espírito Final

- Você parece bem chateado, há uma festa lá embaixo e você aqui?

Armando a olhou. Não se assustou, e não deixou de notar a beleza da jovem, pele branca, cabelos castanhos, olhos cor de mel, estatura mediana, nariz pequeno.

- Eu só queria ficar sozinho – respondeu – E o que faz uma moça sozinha aqui em cima?

- Já estava aqui há muito tempo, o vi chegando e pensei que poderíamos conversar. Conversar faz bem, especialmente quando se está chateado, e você está chateado.

- Repito, só queria ficar sozinho - disse o rapaz com voz triste.

- Entendo, há certas chateações que em primeiro momento parecem difíceis de superar.

Armando a olhou com as sobranceiras arqueadas, até parecia saber que ele não estava bem.

- Posso me sentar também? – perguntou a moça.

- Claro – respondeu com indiferença

- Me chamo Fernanda – disse lhe estendendo a mão direita.

- Armando – apertou-a.

- Sabe – ela começou – a vida é tão maravilhosa e tão curta, e às vezes a desperdiçamos sofrendo por pessoas que não iriam contribuir tanto assim, rapazes como você são especiais, não devem se lamuriar por alguém, devem apenas ser aquilo que são, entender como o mundo é, e não se permitir mudar por ele. Domine o ódio que abraça o seu coração, não seja dominado por ele.

De cara fechada Armando a olhava com ar de interrogação, como aquela estranha podia saber o que ele estava sentindo? Que sentia o ódio transbordar de seu peito? E ainda fazer todo aquele discurso filosófico sobre a vida?

- Por que está dizendo isso?

- Um jovem está só, em um local isolado quando deveria estar com os amigos aproveitando a noite, não é preciso ser vidente para saber que tem uma garota envolvida.

- Você acertou. Saí da festa porque vi a menina que eu gostava com outro. Uma pena, eu alimentava um sentimento por ela há muito tempo, nunca fui muito bom com as meninas. Nunca gostaram de mim. Desculpe pelo discurso derrotista, mas achei que com esta podia ser diferente.

- Não vou repetir que a sua ainda vai chegar porque sei que isso é irritante – disse Fernanda – mas um rapaz como você deve continuar sendo quem você é. Esse mundo está repleto de pessoas horríveis que só querem ver mais um se corromper, não seja mais um, seja diferente sendo você, logo terá seu valor reconhecido pela garota que tanto espera, e verá como valeu apena esperar.

Armando a olhava. Já tinha ouvido discursos semelhantes àquele, mas essas palavras pareciam ser diferentes, não sabia o porquê, mas eram repletas de significado. Sentiu-se repentinamente melhor.

- Obrigado, você ajudou muito – concluiu.

- De nada, que bom que pude ajudar – acrescentou Fernanda.

Ao olhar no relógio e ver que já era 2h00 Armando decidiu ir embora.

- Deixe-me leva-la até a sua casa, não é próprio que uma moça fique desacompanhada em um local como este. Vamos comigo?

- Obrigada, mas estou bem, vim por outro caminho e voltarei por ele.

A olhou nos olhos por um minuto. Nunca a tinha visto antes, teve uma espécie de compreensão repentina e estranhamente calma da situação.

- Então, acho que nunca te verei de novo – disse Armando.

- Não – ela respondeu.

- Adeus.

- Adeus.

Com um simples abraço os dois se despediram.

Ele desceu as escadas caminhando calmamente, sentindo-se reconfortado e um pouco idiota por toda a raiva que sentiu até minutos antes. Após olha-lo por alguns segundos, Fernanda virou-se e caminhou em direção à escuridão. Desapareceu. Os dois nunca mais se viram.

FIM.