A Moça do Poente
 
 
            Quando a vi, sobre aquela ponte e sua visão era sonho, soube que encontrara a mulher da minha vida. Queria interromper a viagem e voltar bruscamente, mas como deter a disparada do ônibus? Gritei ao motorista do fundo do corredor e fui, nitidamente, ignorado. Os outros rapazes riram:
            - É cedo ainda, Paraguaio. Em breve chegaremos.
            Será que ninguém mais viu a moça? Não repararam em seu vestido branco esvoaçando e nos seus negros cabelos dançando ao vento? Assim que cheguei à cidade, não quis saber do Congresso de Estudantes e busquei de alguma forma um acesso à ponte. Tive que deixar para o dia seguinte, à hora do poente, pois já era noite e, certamente, ela não estaria lá.
            Aluguei uma motocicleta e a esperei. O poente chegara e eu estava postado sob a sombra de uma árvore. Vi-a de longe, saindo por entre as matas e se postando no meio da ponte, diante do sol que se deitava. O mesmo vestido branco, a silhueta esbelta, os cabelos em voo aberto eram asas de graúna. Deixei a moto e fui andando, para não assustá-la.
            Toquei-lhe no ombro e sumiu esfumaçando-se. No seu lugar, no assoalho da velha ponte, uma acácia branca, orvalhada por gotas cintilantes, exalando um inebriante odor de vida. Soube, depois, entre o povo velho da antiga cidade, repleta de casas e histórias de eras esquecidas, que a moça morrera ali, ao observar o poente, na espera do noivo que fora para a guerra e nunca mais voltara.
            - E como se deu a sua morte? – Perguntei. Olhando para longe, uma velha senhora disse:
            - Ela, diante de todos, simplesmente sumiu no ar, pegando carona na tristeza do poente...