DIA DE SÃO JOÃO - OS BACAMATEIROS

O mês de junho no nordeste se reveste de uma alegria sem igual. É inverno, tempo da colheita, colhe milho, colhe feijão, colhe tudo que dá no chão. A seca que maltrata vai e vem, ao governo não convém resolver problema sacular, deixa a seca secar, deixa o mundo acabar, para mais tarde, na eleição ganhar...

O Rio São Francisco para a extinção caminha, exposto ao descaso e ao abandono, mesmo assim, nesta rinha, Lula impera e determina: sem grande confusão, aconteça a transposição, logo logo a seca termina, do nordeste será a redenção. O tempo passa, continua a mesma desgraça, a transposição, feito fumaça, se evaporou...

São João, festa de tradição, com seca ou sem seca, segue a mesma devoção. Surge voz inclemente, condena a fogueirinha da gente, alegando desmatamento, utilizando argumento de quem nada tem a fazer. Quem disto fala, nem por isto se abala para uma pesquisa tecer, nunca viu uma fogueira, nunca esteve no nordeste, terra de cabra da peste, e nem constatou uma verdade: o asfalto tomou a cidade, onde havia a claridade da fogueira de são João, brilha a luz de Paulo Afonso, falta mente clara neste articulista, em protesto populista, se auto proclama como o salvador da pátria, da pátria Brasil do nordeste. Saia da frente seu moço, não se avexe não, galhos secos a gente encontra, gravetos além da conta, pois a seca determina quando começa e termina a fogueira de São João! É melhor calar a boca, fechar essa cabecinha oca, prá não entrar no facão!

São João, festa de tradição, a fogueira foi queimada, a quadrilha já dançada, a moçada já refeita, ainda tem muita coisa a ser feita, porque o nordestino é especialista na arte de fazer o que não se espera, ele é matreiro, ele é arteiro, é hora do bacamarteiro. Que maravilha nos espera, o coração acelera quando a reiuna dispara! Homens perfilados, todos uniformizados, surgidos de anos infindos, do fim da Guerra da Paraguai (1864-1870), no fim do século 19. Tiros disparam e as pessoas aplaudem, a emoção é grande pois eles preservam a tradição. Disfilam ao som de forró pelas ruas de vilas e cidades, é um vivo passado, cultura de pai para filho testamentado. Mantendo o costume da regra, mulher fica na contra regra, no front dá muito trabalho, na refrega é ato falho, complicam a função de guerra. Mulher presença contrita, mantenedora da escrita, incorpora Maria Bonita neste moderno cangaço. Hoje é dia do Bacamarteiro, 24 de junho, no dia de São João!

Bacamarte é uma arma de fogo, de cano curto e largo, também conhecida como granadeira, reiuna, reuna ou riuna, principalmente neste nosso Nordeste brasileiro. Claro que estas armas foram modificadas para que se prestassem ao uso dos bacamarteiros nas festas do interior pernambucano.

Não dá para acreditar que uma festa tão bonita, tão nordestina, ainda não tenha um destaque devido.

Em meio a tanto folguedo, tanto arranjo, tanto enredo, Mariazinha em segredo, saindo do meio da festa, foi parar no meio do mato, deitada na grama seca, fez amor incondicional com Lulu da Serra Negra, também bacamarteiro. Foi gostoso o encochamento, ela sem constrangimento, queria mais e mais viver aquele momento. Menino bom de serviço, vendo a menina no viço, aquele corpo formoso, foi muito beijo e muito gozo, até não aguentar mais. Terminada a folia, mal o dia amanecia, seu Dirceu, o capataz, encontrou Mariazinha despida e quietinha, agarrada ao corpo do rapaz. Ainda ela teve tempo, depois do contratempo, dormir em sua caminha para depois, bem descansada e calminha, ver Lulu da Serra Negra, desfilando entre os bacamarteiros...

Carlos Lira

clira
Enviado por clira em 24/06/2012
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