AS PULSEIRINHAS

Deu um sono aquela segunda feira de manhã, sentado àquela carteira escolar, a lousa branca repleta de questões de química para copiar e resolver, mas o sono?, apoiou a mão num dos lados do rosto, o cotovelo fincado na mesinha, vendo aquelas letras a piloto azul ou negro?, embaralhando, Mas por que o sono?, bocejou, sentiu um beliscão, Ninguém com sono ai não né?, sussurrou aqueles olhos orientais (rasgados), A cara cômica do chinês assustado, a bicuda que deu na canela daquele funkeiro filho da..., bocejou, sorriu, mexeu nos cabelos, Vou ao banheiro, disse levantando-se empertigado. Uma menina sentada mais adiante desviou os olhos do caderno, olhou-o, piscou-lhe, ele corou sorrindo vaidoso, Pediu licença ao professor e saiu da sala. O corredor vazio, dois serventes conversando apoiados ao cabo de suas vassouras, cumprimentou-os, um perguntou, Tem fósforo ai garoto?, isqueiro?, Não fumo, respondeu abrindo as mãos num gesto como de asas. Entrou ao banheiro e ficando de frente ao mictório, abriu o zíper, e segurando pensou...pensou, quase fechando os olhos, até que uma entrada revolta perturbou-o, eram dois seres se atracando e desabalando para dentro de um dos reservatórios. Voltou-se espreitando, tentando espionar, Pederastia!, com cenho carregado, asco imaginou, Mas não, observou entrando em um reservatório ao lado, subindo ao sanitário cuidadosamente, com os olhos verdes admirados observou, Desgraçada já está se pegando com outro e dentro banheiro masculino, pensou enérgico, enfezado, lembrando daquele rostinho sardento naquele cabelinho ruivo cacheado, Ali no pátio do colégio, sentada no chão, fazendo-o se sentar também, Olha Charles , foi dizendo tirando um monte de cartelas, livros, revistas da bolsa, Vou fazer seu mapa astral, Não acredito nessas bobagens, respondeu ele num riso bobo, os cabelos nos olhos, as mãos dela tocaram, colocaram atrás de suas orelhas, Charles sentiu a pele arrepiar a leve caricia, reparou no pulso dela cheio de pulseirinhas coloridas, mas tentou se concentrar na cartela que ela espalhou entre os dois ali sentados com as pernas dobradas, Ele com uma mão em cada joelho, Ela tocou sua mão de unhas pintadas de verde no punho branquíssimo dele que tinha uma punheleira com o logotipo da banda Hammerfall, Olha aqui a sua data de nascimento, os olhos dourados dela iam dele para a cartela no chão entre os dois, Agora preciso da sua hora de nascimento, na certidão vem dizendo, Meneou os ombros indeciso, Não sei ao certo, declarou, Então não dá para continuar fazendo, disse ela recolhendo as bugigangas e colocando dentro da mochila e já se levantando, mas ele ainda sentado no chão com cara de bobo tentou puxá-la de volta pegando-a pelo pulso, arrebentando a pulseirinha verde, Safadinho, agora vai ter que fazer, disse alisando as duas mãos de unhas verdes no rostinho parvo dele, Fazer o que?, foi ele atônito com ar vago, lento, Você puxou a pulseira verde do sexo, disse pondo-se de pé, Significa..., chamou-o com a mão para que ficasse de pé, ele obedeceu, chegando o ouvido quase junto aos lábios dela, e foi arregalando os olhos, riu salivando, Eu não sabia, Tá com medo, perguntou ela, Nunca fez?, riu atrevida notando o rosto dele ficar abrasado, correndo até a parte baldia do pátio, arrastando-o pelo punho, Aqui agora, perguntou ele num tom aflito quase arfante, Ela sentindo os sapatos fechados na areia, Quando tocar o sinal, atrás da quadra, Charles percebia que os olhos dourados dela eram agora como de um amarelo, olhos de uma gata venenosa, as mãos como em garras nas unhas fincadas em seu punho, prendendo-o, Eu já, já fiz, já fiz até sexo, mentia, tremia a voz, os olhos se perdendo vagos, atônitos, mas tentando manter-se casmurro, O sinal tocou, e ouviram o tropel dos passos da turma voltando para as suas salas de aula, O coração pulsou forte, e ela sentia por estar lhe segurando agora os dois pulsos, É virgem, totalmente virgem, pensava ela lançando-lhe um sorriso com aqueles olhos feéricos nos verdes dele, Puxou-o com ela passando pelo pequeno tumulto dos que voltavam para as salas de aula, e Charles deixava-se ser levado, ainda perturbado, assustado, sentindo o pomo na garganta subir e descer. Atrás da quadra ela se deitou sobre um tapume, abriu os botões da calça arriando-a, Charles, em pé, arregalara os olhos vendo aquele fiozinho de calcinha preta na pele branca, Anda roqueiro, disse sedutora, rouca quase, Vem capricha, você não disse que é experiente, Charles caiu de joelhos estabanado com mochila e tudo entre as pernas dela. Voltou para a sala de aula, tonto, cabelos em desalinho como que agarrado pelo rosto, e disse a professora, Tou me sentindo mal posso ir embora?,Sentindo o que, perguntou a mulherzinha dentuça e de óculos entre o nariz, intrigada com todo aquele desarranjo no rosto dele, suando, Acho que é diarréia, disse contraindo o rosto, mexendo na barriga, rindo também no que provocara risos nos outros. E Anderson lhe oferecera um sanduba, X - tudo quer?, foi apertando junto aos seus olhos, entrando a sala, outro dia, aquela mostarda e maionese explodindo entre os dois pães apertados!, Ele a procurou, achando-a na biblioteca, em frente a um computador, e ela sorriu, virando-se na cadeira para fitá-lo ali empertigado a sua frente, Virgem!, disse-lhe sorrindo, Posso puxar outra, pediu, e ela acedeu, Ele foi tirando a mão do bolso, mas antes que os dedos dele com anéis de caveira chegassem, ela recuou, De olhos fechados, disse pondo condição, Ele arriscou, Branca, o que significa?, Eu escolho o que desejo, o pomo pareceu mais saliente no gogo subindo e descendo com o rosto abrasado. A professora (a mesma), Diarréia de novo?, Sim senhora, disse suando, dessa vez tremendo. Thiago levantou-se oferecendo para levá-lo, Ele não pode ir sozinho professora, disse cínico querendo fugir da aula, Chama um taxi, disse a professora séria, e Charles em convulsão quase, suando, pedindo, Por favor dona Ruth, e ouvia a risada da turma. Ela acabou acedendo que o outro a acompanhasse. Apaixonou-se?, ou só queria tirar a pulseira certa, Na saída da aula seguiu-a, empertigado, mas dono de si, e ela andando em companhia de uma amiga morena com maquiagem roxa, as duas conversando, mas se voltava por sobre os ombros e via que Charles as seguia, e inclinando-se próximo ao rosto da amiga pareceu cochichar ambas em risadinhas, Charles sentiu o rosto em brasa, mas disfarçou vagando os olhos para o outro lado, carregando o semblante como se estivesse enfezado. Próximo a uma quadra (ou terreno baldio?), alguns garotos jogavam bola em grande agitação, Você não mora naquela direção, disse ela voltando-se para ele, aqueles olhos de tigre!, Parou perto dela, olhou-lhe o pulso, puxou a pulseira, Roxa, Viu aqueles olhos de tigre sorrirem, aproximar-se, agarrar-lhe pelo pescoço, encostou-o ao muro – a amiga distanciou-se – Charles sentiu a língua dela dentro da sua boca, ficou ofegante, excitado, e ela logo se desvencilhou correndo para o encontro da amiga, ele foi atrás e agarrou-lhe o pulso arrancando outra pulseira, Azul!, Ela arregalou os olhos de tigre, agarrou os punhos da amiga pegando a correr junto com ela, ele foi mais veloz, alcançou-as pondo-se bem a frente deles, rindo empertigado, E agora?, queria saber afogueado, Nem pensar, disse ela, Chega!, Puxou-a para um canto, longe da amiga, abraçando-a, falou bem de pertinho, baixinho, A vantagem é minha agora, hem, foi franzindo levemente um canto dos lábios, A mão dela levantou na ameaça de esbofeteá-lo, mas ele agiu veloz contendo-a, apertou-a contra o muro, Para Charles, pediu se debatendo um pouco, Eu sou virgem, e nem quero deixar de ser virgem, nem vou fazer sexo oral em você, Seu rosto bem próximo ao do dela, hálito com hálito, ofegantes, Olhos de tigre!, tapou a boca dela com a sua, Ela comentou rindo sarcástica, Beija mal, Mentirosa!, disse ele de lábios crispados, você adorou, esta louquinha por mim, Eu sou gamada no Vinicius, desencana, Charles, você é muito branquelo, afastou-o quase o empurrando, Ele saiu de nariz empinado, queixo erguido, cara enfezada, mas dois ou três dias depois entrou na sala em que ele estudava, em pleno horário de aula de Literatura, palestra sobre Realismo-naturalismo, Colocou uma maça em cima da mesa dele, bem a frente dos seus olhos, Morde eu tou mandando!, falou alto e sorriu vendo o rosto encabulado dele e as risadas dos outros da turma, e até mesmo a professora de Literatura. Mordeu?, mordeu, e ficaram abraçadinhos, mais tarde, sentados a praça, trocando caricias, beijinhos, Vamos ficar?, perguntou ela, e ele disse, Claro, claro, mas depois nem ligou, nem ela nem ele, chegou a evitá-lo, e agora agarrada ali dentro do banheiro da escola com um carinha de óculos com cabelinho de Pokémon, “Não gosto de branquelo”, havia dito, e aquele era o que?, saiu do banheiro, inclinou-se em um bebedouro, voltou para a sala de aula, para a carteira, cambalear de sono a aula de Química.

Rodney Aragão

Rodney Dos Santos Aragão
Enviado por Rodney Dos Santos Aragão em 27/06/2012
Código do texto: T3747594
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