Por Siempre (Parte10 - A Conclusão de Alice)

Pablo ganhou. Aparentemente, Pablo era o maioral daqui quando se falava no campeonato. Será que Pablo ganharia se não fosse pela queda de Alice? A garota parecia pensar em tudo ao mesmo tempo e não conseguia chegar a resultado menos provável. Mas vai ver é assim. Vai ver a verdade sempre está bem na nossa frente, se esfregando na nossa cara. Nós é que não queremos vê-la, pq acreditar no que nós queremos acreditar é mais conveniente. Alice também estava pensando algo assim.

- Não pode ser. Não tem como ser. Não mesmo.

Estava na sala do hotel. Pablo quis levá-la para o quarto, mas ela não quis subir e ficar sozinha lá. As outras garotas estavam todas lanchando em frente a lareira e mesmo todas elas se oferecendo para ficar com Alice no quarto, a garota achou que seria incomodo e ela poderia ficar muito bem ali embaixo com as amigas.

As pessoas já tinham parado de ficar olhando sensibilizados para Alice. A garota teve de fazer com que Bruna prometesse não ligar para os pais dela para falar que ela estava machucada. Esperava conseguir sarar ao longo da semana que restava. E queria ficar tempo suficiente para descobrir quem foi que tinha feito aquilo. Ela não contara a Pablo e suspeitou que ele não tivesse escutado o que Bruno falara. Suspeitou certo. Pablo não tinha entendido. Na verdade, não tinha prestado realmente atenção em Bruno, estava tão perdido em seus pensamentos e tantas preocupações com o que poderia acontecer com Alice. O rapaz estava feliz por ela não ter tido nenhuma complicação maior que o pé. Já vira várias pessoas que ficaram com serias seqüelas e graças a deus, Alice não seria um exemplo disso.

De todo caso, Alice ainda olhava para o pé, incrédula. Perdurava seus olhos ligeiramente para o troféu na estante e olhava para Pablo. Ela não acreditava no que estava pensando, mas não tinha quem culpar. Se sentia mal por pensar desse jeito, mas era inevitável. Ele era seu namorado, poxa. Ela deveria confiar nele. Por que se sentia assim? Será que era despeito por Pablo ter ganhado o campeonato que era pra ser dela? Será que era seu subconsciente que estava avisando que ele não era boa pessoa? O que era afinal?

Já estava tarde e aquele dia tinha sido realmente muito longo e cansativo. Aos poucos todos no lugar foram se recolhendo restando apenas Pablo e Alice na sala. O garoto se dispôs a levá-la até seu quarto para que ela finalmente descansasse. Foram. Ao chegar em sua porta, Alice a abriu, já que Pablo estava com as mãos ocupadas carregando-a. Eles seguiram para a cama da garota e quase ignoraram o fato de Marcela estar saindo do banho naquele meio tempo. Trocaram algumas palavras e Alice se manteve indiferente, distante. Como poderia? Como poderia um garoto tão nobre e lindo e fofo fazer uma coisa daquelas com a garota que ele dizia amar? Ela não queria pensar.

- O que isso está fazendo aqui? – disse Alice para Bruna e Thais que conversavam perto da janela. A garota olhava fixamente para a capa vermelha com uma flor de quatro pétalas azul como chaveiro do zíper. A capa continha os vestígios dos esquis partidos de Alice. A garota, definitivamente não queria ver aquilo. Não mesmo. Era como se seu pé formigasse e ficasse mais pesado que seu próprio corpo. Era uma tortura psicológica poderosa. Doía.

- Ah, Thais trouxe pra cá. – respondeu Bruna.

- Achei que você quisesse um suvenir dessas férias e o que melhor que seus esquis partidos para materializar as emoções vividas em Bariloche?

- Cala a boca, Thais. Tira isso daqui, por favor.

Alice não agüentou. A garota que tinha parecido muito forte até agora, despencou em lágrimas como uma criança mimada fazia quando era contrariada. Pablo não estava entendendo muita coisa da conversa. Os brasileiros tinham um jeito realmente muito estranho de falar – mas era bonitinho, ele achava. Thais, Bruna, Marcela e Carol também não estavam entendendo muita coisa, mas Carol achou quase uma insensibilidade de Thais trazer os destroços do esqui de Alice para que ela visse em um tempo tão recente. Quase estava brigando com a garota quando Alice se acalmou de repente.

- Melhor, traga-o aqui, Thais. Por favor.

Sim, agora que ninguém entendeu. Alice estava estranha. “Acho que a droga da pancada não bichou só o pé dela”, pensou Thais. Levou a capa até Alice e deu meia volta.

As outras pareceram dispersar-se. Não era de verdade, claro. Elas estavam preocupadas com Alice. Mas não queriam deixar que transparecessem o temor que tinham para que a garota ficasse ainda mais nervosa ou o que quer que estivesse sendo.

Alice pegou a flor com quatro pétalas que servia de chaveiro e abriu o zíper da capa de esquis. Chorava baixinho. Inaudivelmente, na verdade. As lágrimas simplesmente escorriam sem pedir licença, sem medir esforços. Escorriam, somente. Ela tirou os pedaços do esqui esquerdo. Realmente estava despedaçado e Alice agradeceu o fato de que nenhum deles a tenha perfurado. Seria muito pior se isso tivesse acontecido. Por ultimo, tirou o esqui direito. Sentiu um aperto no peito, fuzilou Pablo com o olhar. Voltou-se para o esqui, o retirou totalmente da capa. Olhou enojada. Não conseguiu segura-lo por muito tempo. Pablo observara tudo atenciosamente. Não queria contrariar Alice e muito menos apressar alguma coisa. Queria abraçá-la, mas sabia que aquele momento era uma coisa só dela. Contentava-se a simplesmente olhar a amada.

Quando o esqui caiu no chão, Pablo desviou seu olhar da garota ao equipamento. Achou estranho o fato de um deles estar despedaçado e o outro quase inteiro. Fez menção de pegá-lo. Queria pegá-lo, mas deteve-se. Alice tinha abandonado a atenção que dantes ministrava ao esqui sabotado para o fundo da capa vermelha. Tinha alguma coisa ali. Alguma coisa fora alguns fiapos de madeira. Alguma coisa bem pequena de plástico chamava sua atenção. Foi preciso ela enfiar o braço quase por completo para que ela conseguisse pegar aquele objeto. Assim que o tocou, cerrou a mão com ele dentro e trouxe para fora, onde a luz do quarto pudesse iluminá-lo e mostrar o que aquilo realmente era.

- Não – Alice falou como se fosse algo que somente ela pudesse ouvir – Não, não, não.

Olhou para Pablo. Não conseguia sentir raiva dele, por algum motivo isso não era algo dentro da capacidade de Alice. Mas ela estava triste. Sim, triste, muito triste. Decepcionada, desestruturada. Ela olhou para a orelha de Pablo como quando alguém faz querendo se certificar erroneamente que tudo estava bem e que não passava de um engano. Um buraco vazio. Um buraco de cinco milímetros incrivelmente vazio.

A B Queiroz
Enviado por A B Queiroz em 08/07/2012
Código do texto: T3766915
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