O basta partiu dele e o aplauso de mim.

"E, agora, eu realmente não estou mais afim."

Belíssimas palavras. Sábia colocação no meio do meu ataque de fúria e palavrões. De repente toda a minha sede por vingança cessou. A mágoa que eu inventei, os argumentos furados, as agressões que eu planejei... Tudo perdeu a graça e o sentido. Aquela frase me fez, vejam só, querer aplaudi-lo.

Eu engoli meu orgulho desnecessário, ri, me rendi e recuei. O atrevimento dele me fez voltar a realidade: é só uma criança. Um pouco ingênuo, a que se admitir, pensar que pode dizer isso, pra mim ou qualquer outra pessoa, e sair ileso, mas foi digno. Qualquer um dos outros boys lixos com os quais eu costumo lidar teria feito voltas e mais voltas, teria me dobrado, teria me mantido por perto, mas ele não, ergueu a cabeça e foi integro e verdadeiro. É como eu já havia falado, ele não precisa, não quer e nem consegue me encarar. Eu encanei nessa história, como encanei em várias outras, por birra, falta de algo mais consistente, mas essa tirada dele me fez ver que eu não tenho mais idade pra fazer isso.

Comigo é sempre sim ou não, ele ainda está naquela fase linda em que o talvez reina absoluto fazendo o jogo render mais, até porque ele tem tempo suficiente para isso. Ele é discípulo das etapas: conhecer bem, conquistar primeiro, "ficar", se apaixonar, etc e etc, comigo o atropelo é o que tempera. Eu tive que passar por tudo isso, hoje acho totalmente desnecessário, mas não posso interferir, ele também tem que aprender com a vida.

E eu fiquei pensando no quanto os olhinhos dele brilharam, no quanto ele tentou ser sutil com o meu "qual é a sua?", no quanto ele se esforçou para me dar o seu melhor, no quanto ele riu sempre das minhas piadas rudes e batidas. Eu fiquei pensando em tudo o que eu causei, o mal que fiz, nas voltas que o mundo dá, no tempo ele vai demorar para se dar conta que isso não se diz pra ninguém, porque a vida é pilantra demais, vai fazer ele sentir falta, vai fazer ele voltar querendo de volta o que nunca teve.

Eu respondi, dando uma última lição, o melhor conselho que eu poderia dar, "você não está errado não, é isso aí, não se arrependa."

E fui embora, da mesma forma que cheguei, sem trazer, levar, dar ou pedir nada.

Denyse Barrêto
Enviado por Denyse Barrêto em 29/08/2012
Reeditado em 29/08/2012
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