A doença que mata

Posso sentí-la caminhando pelas minhas veias, eu não respiro. Nem se quer posso manipulá-la, porque caminha sobre meu querer. Outra noite Nícolas perguntou se ainda ela me impedia de respirar, disse que ela manipularia essa resposta também. Ele disse: "não sofra... Se renda". Meus ossos congelavam, e não existia se quer qualquer indício de que fosse ceder. A febre tomava o lugar no meu corpo, não sentia fome, nem vontades. Lá estava eu, deitada sobre a cama, e o mundo gritando sobre minha morte psíquica. Eu nunca considerei uma grande capacidade a substimação. E eu estava só. Nícolas já havia saído pela porta. Deixou todas as dúvidas no canto desse quarto. E eu sempre estaria só. Níc me disse algumas vezes que seria melhor que eu não entendesse agora, pra que eu não sofresse de uma razão pré determinada. Não sento fome, ele sempre perguntava sobre minha fome. Não, não sinto. A fome se foi quando outra coisa tomou seu lugar, eu perdia o lugar de mim mesma. Ele sorria, porque era só o que sabia fazer, e então outra voz se manifestava do lado de fora da casa. Gritando, essa voz sempre o fazia sorrir de um modo letárgico. Então a doença se manifestava sobre o sangue, e contraia minhas veias. Sentia que essa voz espalhava em duplas doses essa doença que mata de forma insuportável. Eu saberia conduzí-la aos meus vinte anos. Agora suponho que aos quarenta, essa maneira dolorosa de remanejar a dor seja falha.

Ele desce as escadas. Ouço seus passos, e então a porta se bate. Imagino que trinta segundos depois ele a beije e eles sigam juntos para nossa antiga casa perto do lago. Nunca tivemos tempo para ir naquela casa caindo aos pedaços. Imagino que ela possa restaurar. Ela pode restaurar qualquer coisa! - Ele diz com êxtase na voz. Então essa frase me custa meia dúzia de veias. Ela é uma restauradora de vinte e quatro anos. Não posso ser loira como ela, na minha idade. Esse tipo de tom me deixa aparentemente mais visível as estações da velhice. Esse tipo de pensamento tem se viciado na minha mente. Minhas vontades vem morrendo em doses cavalares, assim, sem um conta gotas. Dois segundos depois que imagino esse beijo, corro para a janela com meus ossos frágeis. Enquanto corro sinto meu ossos como cacos de vidro... Se quebrando por baixo da pele. Não consigo ver o rosto dela. Chego a tempo de ver ele fechando sua porta, e entrando no carro logo em seguinda. Não demora muito, e o carro arranca. Eu sabia! Sou bastante intuitiva. Vejo malas no banco trazeiro, o suficiente para três dias próximo do lago. A doença aperta meu corpo, então me arrasto novamente para o leito. Digo para mim mesma que não há uma cura, ela nunca chegará. A cura vai alcançar o prazo de válidade em três dias. E no fim de três dias o médico dirá cheio de melâncolia: A cura nunca virá.

Dois meses depois a restauração estará pronta. E ela dirá que ficarão juntos para sempre. E as malas de três dias, se multiplicaram em dois meses. Você nunca passou tanto tempo comigo na casa do lago. O tempo que nós ficamos não passou de uma semana, logo quando compramos a casa. Você me disse que teríamos nosso primeiro filho naquele quarto que concentrava a vida da casa. Você costumava correr atrás de pequenas rachaduras de pedras com seus dedos, e eu lia um livro de duas horas, junto com o chapéu azul que sua irmã me deu no último verão. E agora, ela restaura o que você um dia alegou ser vida.

Cinco dias se passam e você novamente vem ver se a doença já me finalizou. Eu peço para que não entre no quarto, enquanto você sobe as escadas. Conheço seus passos. Você não responde, mas o passos consomem o triplo do tempo que consumia antes de você me ouvir gritar. Não há voz do lado de fora da casa. Você abre a porta, e sorri com o seu rosto um pouco corado. Você se senta ao meu lado, e então eu sinto o cheio da grama. Digo: Sei que esteve em nossa casa. - Você se espanta ao ouvir "nossa casa", mas logo se conseta novamente, e diz: Passei alguns dias, enquanto tive tempo.

A doença consome meu seio, minha barriga, minha voz. Nícolas pergunta se comi algo durante esses cinco dias. Digo que estou bem, que não preciso de sua condução para sobreviver. Digo que preciso trabalhar, que estou mais forte, e evito sorrir quando ele sorri para mim. Pergunte se quero beber algo! Ele não pergunta. Todos os dias, antes de dormir, eu quem sempre perguntava se queria que subisse com sua garrafa de água. E ele sempre me conduzia com um 'sim'. Não passa mais cinco minutos comigo. Ele precisa buscar a restauradora. Ela construiu toda essa doença que hoje me consome. Ele vê nos meus olhos que quero que se sente ao meu lado, que me beije, que diga que vai ficar tudo bem. Então vou me ceder para as lágrimas. Mas não o faz. Está certo. Nunca vai voltar.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 16/09/2012
Reeditado em 15/03/2013
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