Não sei se era Amor...

 

            Cláudio não suportou a partida de Madalena.
            Embora o avisassem que ela era assim, de muitas noites variadas, de saídas mal orquestradas e incapaz de ser fiel, Cláudio ignorou todos os avisos e, mesmo sabendo do que poderia acontecer, aceitou-a sem pestanejar.
            - Tu tá louco, rapaz? – Disse o amigo João Marcelo – A mulher vai te chifrar do início ao fim. Sou teu amigo, cara. Não dá pra aturar o que você vai passar... Não dá!
            E conselhos como esse foram muitos e todos foram vários e solenemente ignorados. Essa história de amor é por demais confusa e coração não escolhe pela razão. Quando alguém se apaixona de verdade, é como se lhe deitasse um encanto, um sopro maligno uma fascinação que não tem mais fim.
            Dir-se-ia que o rapaz fosse feio, mas não era, ao contrário, as mulheres por ele suspiravam à passagem. Se alguma dúvida havia quanto aos dotes físicos caberia a Madalena. Longe de ser uma musa, era apenas apresentável, se muito, alguém poderia dizer, mas havia aquela química imponderável que une os opostos e que atrai os desiguais.
            O relacionamento era tão estranho que daria samba, diriam, ou uma coluna de Nelson Rodrigues, mas nada disso aconteceu.
            No entanto, dez anos depois, quando Cláudio já se refizera e vivia agora com Carmita, eis que pela porta adentro volta Madalena. Ficaram os dois pasmos, olhando para aquela mulher vulgar que entrou na casa como se fosse sua e apontou o dedo para a nova companheira do antigo consorte:
            - Quem é essa aí?
            Tudo poderia ter terminado em insultos, gritos, escândalos, mas eis que o inusitado se deu e quem partiu ofendida foi Carmita dizendo do meio da rua para quem quisesse ouvir:
            - Não entendo teu gosto por ser chifrudo.
            Bêbada e acabada, quando pôde, Madalena confessou-lhe após um banho e alguns tratos alimentares e foi, pelo menos aquela vez, absurdamente sincera:
            - Pequei AIDS e não vou durar muito! Você devia ter escolhido a outra...
            Passou algum tempo e ficou sozinho com a partida de Madalena para o lado de lá da vida. Se era amor de verdade, não sei, mas foi a escolha dele viver aquela renúncia e dizia-se que, mesmo cuidando dela, vendo-a desfazer-se aos pedaços, escapava-lhe um riso calmo e manso, digno das almas que tudo suportam, tudo esperaram e apenas amam...