Pecado venial

No amplo adro de paralelepípedo que emoldura toda a lateral daquele imponente templo sagrado, após haver acabado nossa aula preparatória para o vestibular, caminhávamos rumo ao ponto de ônibus que nos levaria para nossas casas.

Eu, como de costume, seguia para a esquerda, onde ficava o ponto final do 357 e ela, para a direita, para pegar o 455, que a deixava na porta de casa.

A sombra do crepúsculo já havia encoberto toda a cidade. Já era noite. A brisa noturna que soprava naquela fria noite de setembro, obrigava-nos a manter nossos corpos bem agasalhados por grossos casacos. Caminhávamos lado a lado, em silêncio, em lentos passos, como a querer que nunca se chegasse a lugar nenhum.

De repente, paramos. Agarrando-a pela mão esquerda, puxei-a em outra direção, diferente àquela que tomava todas as noites.

- Pra onde tu estás me levando? – perguntou com um sorriso maroto nos lábios

- Como és medrosa – falei.

- Sou mesma. Pra onde queres me levar?

- E se eu quiser te levar para um lugar muito especial?

- Olha que eu vou....- respondeu apertando minha mão com força.

- Vai mesmo? – insisti

- Contigo eu vou pra qualquer lugar...- e, apertando outra vez minha mão, levou-a até seus seios. Parou um instante e, de frente pra mim, fitou-me com um olhar terno e carinhoso e, com a outra mão, acariciou meu rosto.

Fiquei estático.

- E teu marido? – perguntei já com o coração disparado, querendo saltar pela boca.

- Ele hoje está de plantão e só volta pra casa amanhã, lá pelas dez horas.....

- Não! – retruquei - Essa condução que vamos tomar vai te deixar no mesmo lugar onde saltas todas as noites.

O raio não é mais rápido do que a vontade de uma mulher em seu querer:

- Vás perder essa chance?

Uma angustia tomou conta de mim. Ocultar a dor, vergonha e tantas outras coisas mais é um artifício banal às mulheres mas para nós homens é muito difícil.

- Estou liso, leso e louco – murmurei, baixando o olhar para o chão e, com a cabeça, balançava em sinal negativo.

- Eu pago! – ela afirmou imperativa.

“Que vergonha, meu Deus – pensei comigo mesmo – Que vergonha!”

À seco engulhi aquele vexame e consumi calado minha vergonha.

E ela, percebendo o abatimento de minha alto-estima, murmurou:

- O próximo, fica por tua conta.

E nesses instantes feitos de encantamento, é difícil resistir aos desejos da carne.

Naquele instante penetramos nos céus do amor, mas percebendo, à certa distância, o inferno.

E lá fui eu desfrutar daquele corpo que, pela lei divina, me era proibido.

Dmir Pessoa
Enviado por Dmir Pessoa em 08/11/2012
Reeditado em 01/06/2017
Código do texto: T3975259
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