Uma tarde de domingo

Em 1969, numa tarde de domingo, dia de sol...

Pelas ruas vazias caminhava com as malas nas mãos. O ponto de ônibus fica em frente à antiga rodoviária da cidade. Era três da tarde, estava calor, mas um vento refrescante assoprava.

No local onde pegaria o ônibus se encontravam algumas outras pessoas, que assim como eu também esperavam o ônibus.

Sentei em um banco, cruzei as pernas, cruzei os braços e observei as pessoas.

Do outro lado da rua um homem barbudo, de roupas velhas e rasgadas cantava uma musica. Pensava – “será que está bêbado? Será que está louco?” –

Duas meninas que andavam pela calçada desviaram o caminho, com medo do homem barbudo.

Outro rapaz estava na esquina, esse já não sabia muito bem se era homem ou mulher, o corpo era de homem, mas os gestos não. Uma senhora com as sacolas na mão, uma menina com o sorvete na boca, um pai que esperava o filho.

Era o cenário.

Do meu lado um idoso, sentado assim como eu, apenas observando, só que de maneira diferente. Eu estava ali sentado esperando o ônibus, pois se não fosse isso, não estaria ali. O senhor idoso, porém não, não esperava ônibus, ele se encontrava ali sentado por livre espontânea vontade.

Sua calça desbotada e velha, seu sapato furado, sua camisa rasgada, seu semblante cansado, tudo isso era resultado de anos e anos de experiência.

Ficava imaginando como aquele senhor enxergava aquela tarde de domingo? Será que a tarde trazia alguma lembrança a ele? Com certeza sim.

O senhor olha pro lado e me pergunta:

- Para onde você vai?

Sua voz era rouca e simpática. Respondo que esperava o ônibus para voltar pra minha cidade. Começamos a conversar e ele me contou que morava ali perto e, que todo o domingo se sentava naquele banco e ficava a tarde inteira observando as pessoas, pensando em como o mundo mudou.

- Por que o senhor faz isso? não tem nada melhor para fazer?

O senhor me disse que foi naquele banco um dia esperando um ônibus que conheceu sua esposa.

- Estava lá sentado de repente vejo a mulher mais bonita da minha vida. Disse o velho.

- Ela ia para uma cidade muito longe.

O senhor me disse algo que vou levar para toda a vida, me disse que ele ia pegar um ônibus para visitar a mãe dele que morava em uma cidadezinha pertinho dali, mas que quando viu aquela moça teve a certeza que seu destino seria outro, então entrou no mesmo ônibus que o dela, viajaram sete horas juntos, e que o tempo passou em um instante enquanto conversavam.

Casaram-se tiveram quatro filhos, viveram muito bem, 50 anos, onde os quais não se passaram se quer um dia brigados, que toda a noite antes de dormir olhavam um para outro e diziam eu te amo.

Meu ônibus chegou, parou na minha frente, abriu a porta.

Fiquei ali sentado – “você não vai entrar no ônibus?” Perguntou o velho.

Levantei, respirei fundo e corri, corri o mais rápido que podia com minhas malas na mão. Minha namorada morava apenas algumas quadras dali, fui correndo em direção a sua casa, decidi que deveria pedir ela em casamento, que já era tempo da gente se casar, porque tinha certeza que era com ela que queria viver o resto da minha vida.

Só que nem todas as historias de amor acontecem da maneira mais bonita.

Chegando em sua casa, já sem fôlego, estranhei, tinha uma motocicleta parada na frente da casa dela.

Fui entrando, quando ouvi gemidos.

Já não sabia mais se meu coração batia por causa do fôlego que tinha acabado de perder com a corrida ou se era de medo do que ia ver.

Abri a porta...

É a maior experiência de dor que já passei. Comparada com a dor de ver a terra caindo sobre o caixão de um ente querido, e a de uma faca rasgando seu peito. E olha que já passei por tudo isso.

Mas essa dor era maior, porque ela doía de maneira inexplicável, doia no meu peito, no meu estômago, na minha cabeça, dilacerava o meu coração.

Contudo, não morri.

A dor passou e hoje estou aqui contando essa história, foi ai que aprendi que ninguem morre de amor.

E com o tempo aprendi mais.

São coisas que podem acontecer em uma tarde de domingo.

Brenner Vasconcelos Alves
Enviado por Brenner Vasconcelos Alves em 05/12/2012
Reeditado em 06/01/2014
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