Sob a luz do luar

Ele atravessou a sala, indo sentar-se ao lado dela no, pequeno e relativamente velho, sofá. Ela lia um livro. Os óculos quase escorregando por sobre aquele pequenino e lindo nariz, o mesmo que ele tocava delicadamente todas as manhãs, antes de beijar-lhe a testa, as bochechas e os lábios.

Ah, os lábios... Aqueles belos, macios, vermelhos e carnudos lábios no qual ele depositava beijos apaixonados; os mesmo lábios que agora ora contraídos ora balbuciando silenciosamente,demonstravam a concentração dela na tal leitura.

Ela demorou à o perceber lhe admirando. Sorriu tímida, fechou o livro - sem se importar em marcá-lo - e foi aninhar-se nos braços dele.

Lutaram contra a lei da física que diz que dois não ocupam o mesmo lugar no espaço, ainda mais que tentavam encaixar-se em um lugar de tão pouco espaço, mas acabou dando certo: terminaram abraçados, com as pernas encolhidas e entrelaçadas e o livro, acabou indo parar no tapete felpudo do chão.

Eles se entreolharam. Tentaram manter uma expressão séria, mas não adiantava, eles sempre sorriam, bobos, ao se encararem.

Carinhosamente ele lhe retirou os óculos colocando-os sobre a mesinha ao lado do sofá.

Ela só sorria. Estava achando aquilo tão romântico. Aliás, sempre achara, desde o princípio, o seu namoro muito romântico e jamais pudera imaginar que mesmo após um ano convivendo juntos esse romantismo, tão adolescente, perduraria, já que passaram a conhecer melhor os defeitos de cada um e a perceber que haviam coisas que não suportavam um no outro.

Agora, ambos sorriam juntos. Não se entreolhavam nesse momento, estavam de olhos fechados e nem sabiam que pensavam a mesma coisa: "Há muitos defeitos que eu não suporto, mas o amor supera tudo." - era esse o pensamento que os faziam sorrir intensamente.

- Te amo! - exclamou ela, ainda de olhos fechados.

- Também te amo muito! - respondeu ele, dando-lhe logo após um beijo no alto da cabeça de sua amada, mas sem abrir os olhos.

- Não trocaria esse momento por nada, sabia?

- Eu também não! Não imagino lugar melhor para estar neste momento...

Finalmente ela abriu os olhos. Virou-se, na medida do possível, por sobre ele e lhe deu um beijo. O mais belo beijo dos dois, ela pensou.

Ele acariciava carinhosamente as costas daquela garota. "A garota que eu vi transformar-se em mulher."- lembrava ele em pensamento.

Os olhos de ambos brilhavam.

- Meu bem, tenho algo muito importante pra te dizer, e acho que este é o momento mais apropriado para eu lhe falar...

- Com cara de surpreso, ele fez um leve esforço e pegou os óculos dela, que estavam na mesinha e os pôs em seu próprio rosto.

- Pode falar, estou totalmente atento... - falou ele, enquanto sua expressão denotava curiosidade.

Ela riu. Se ajustou nos braços, pernas e corpo dele. Suspirou e enfim lhe falou.

A notícia causou tão grande impacto, que ele, rindo descontroladamente, a pôs nos braços e saiu dando voltas com ela pela casa.

Riram. Riram muito. Choraram também. Choraram muito. Devido à tamanha felicidade choraram.

As horas correram e por conta do cansaço, foram deitar-se.

Dormiram. Mas no meio da noite, ele acordou e sem pensar que já eram altas horas da madrugada nem que ela já dormia profundamente, ele a acordou. Sonolenta, ela esfregou os olhos, bocejou e perguntou se havia acontecido algo.

Ele ignorou a pergunta, e tocando-lhe o rosto ele disse:

- Seremos eu e você pra sempre, não é?

Com os olhos inchados de sono, ela sorriu e falou baixinho:

- Pra sempre.

Tranquilizado pela resposta, ele voltou a dormir.

No quarto, a luz da lua, que entrava pela janela aberta, iluminava tudo com a sua cor prateada.

Passados alguns meses, ela estava naquele mesmo quarto, iluminado pela luz da lua, apoiada sobre as grades de madeira do berço que ele havia comprado para o bebê.

Ela estava ali, olhando a criança, chorando e lembrando de todos os momentos que vivera com ele. Todas as promessas, todos os sorrisos, os planos, os sonhos, o amor... E principalmente o desejo que tinham de criar aquele pequeno ser que agora dormia, tranquilamente, sem saber da dor que sua mãe sentia.

Tinha sido assim nos últimos dois meses, desde que ele, o amor de sua vida, morrera. Ela vinha passando quase todas as noites em claro, lembrando do dia em que lhe contara a tão feliz notícia de sua gravidez. Sorria lembrando-se de como festejaram...

E agora ela chorava porque tudo havia acabado.

"Pra sempre" - murmurava ela baixinho, enquanto a luz do luar lhe iluminava a triste face.

"Você estará em mim pra sempre... eu e você pra sempre".

Lá fora, a lua prateada, era a testemunha muda de toda aquela dor...

Ingridy Oliveira
Enviado por Ingridy Oliveira em 09/12/2012
Código do texto: T4026623
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