A primeira vez de Eunice
 
Detestava as muito seguras. Tão chatas! Mulher para ele tinha de ter um quê de insegurança. Uma pitada de indecisão. Certo não sei bem, se quero ou não quero. Um talvez. Um não nada categórico, querendo dizer sim. Essa era a mulher ideal. Aquela que despertava ansiedade e que se deixava conduzir sempre. Eunice.
 
- Não sei amor, nunca fiz. Tenho medo.
 
- Vou devagar, não receie. Não vou machucar.
 
- Será que dói?
 
- Entro um pouquinho. Quando você vir uma estrelinha, trago a constelação inteira.
 
- Não sei...
 
- Sabe sim... Deixa, vai... Só um pouquinho.
 
- Não sei, acho que não...
 
- Mas agora já estamos aqui... Você vai me deixar assim?
 
- Assim como?
 
- Assim, veja, em ponto de bala.
 
- Ai, que coisa! Você me incendeia.
 
- Então vamos...
 
- Então venha, mas devagar meu bem.
 
- Devagar, então... Olhe a estrelinha...
 
- A estrela, amor, que linda! Ai, amor, a constelação toda... Você prometeu, ai...

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N. do A. - Na ilustração, O Abraço do Pierrot de Guillaume Seignac (França, 1870-1924).
João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 05/01/2013
Reeditado em 30/06/2020
Código do texto: T4068458
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