O desolar noturno

Eram quatro horas da madrugada, e eu ainda estava sentada na varanda, segurando uma taça de vinho. A vista era linda, dali, algo que qualquer pessoa pagaria para ver. Mas eu já me adaptara á ela, e isso fez com que eu nem reparasse mais na bela vista que estava diante de meus olhos. Queria dormir, aliás, eu precisava descansar meus nervos para o novo dia que iria chegar, mas esta noite parecia interminável. Cada momento que olhava para o relógio, as horas só haviam mudado um ou dois minutos. Mas o vinho, este se esvaziou da taça até me obrigar a abrir a terceira garrafa, que estava na metade, neste momento.

Muitos pensamentos me cercavam, neste momento, fazendo com que meu cérebro ficasse um pouco confuso e transtornado. Em dado momento, já não sabia se agira certo ou errado, se minhas convicções e planos estavam seguindo uma linha emotiva ou justificativa. A Bíblia aberta em um canto me fazia lembrar de tudo o que li, tudo o que aprendi ao longo dos anos. Eram muitos paradigmas, muitas questões em jogo, e eu não queria, eu não posso perder. Mas o meu coração me manda seguir em outra direção, me manda jogar esses paradigmas pela janela, e faze-los alcançar o mar, para morrerem afogados. Mas eu não posso me desprender de tudo, como se eu fosse uma espécie não sentimental. Embora com meus erros e com as minhas iras, eu tenho amor dentro deste coração que tanto está machucado e com cicatrizes mais profundas quanto as de um soldado que volta da guerra.

Encho mas uma taça de vinho e penso, penso, até cansar de pensar. O que a vida quer de nós? O que ela quer de mim, será? São quase cinco da manhã, eu já desisti de dormir. Cedi novamente à insônia e ao vinho, e com eles vou até o sol nascer do mar. Meu cão pastor, enquanto isso, dorme por mim, no sofá da varanda. Um sono tão pesado, tão bom e tão puro. Um sono que eu não me lembro de já ter tido na vida. De que me vale tudo isso que tenho, se não tenho a mim mesma? De que me vale poder fazer tanta coisa, se não posso nem mesmo descansar em paz, sem que o sono me atormente, me faça lembrar de meus erros e falhas? Sim, falhei, errei e pequei, mas quem não o faz na vida? Ao menos estou disposta à mudanças, estou querendo algo novo e puro no caminho. Eu, atormentada ou não, posso dizer que fiz o meu caminho e que enfrentei a vida com o peito de um soldado. Lutei, sim, e me disponho à faze-lo novamente, se preciso for. Tenho coragem para enfrentar a vida mas não tenho para enfrentar a mim mesma.

O relógio, como de costume, parece não ter alterado as suas horas. E eu nesta desolação, do da noite inteira ter passada e o dia ainda não te amanhecido. Termino minha taça de vinho, coloco a garrafa de vinho na estante, e vou para o mar, lavar a minha alma, enquanto o bel prazer do Sol não me visita.

Camilla Lima,17/01/2013

Anita Ferraz
Enviado por Anita Ferraz em 22/01/2013
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