Quase conto

Beija-flor era moça bonita, porém descrente. Sonhava tanto, que já conhecia mundo e meio: sabores, perfumes, flores e rapazes. Singular, “Beija” detestava o nome composto e, por isso, a carinhosa alcunha. Tinha, por casa, o sertão e, por desejo, o continente.

-Ah, quem dera! – suspirava em alto e bom som.

Apesar da ausência de fé, Beija carregava o amor nos olhos, amor que distribuíra como ninguém e a muitos, de forma inexplicável. Seria, ela, um paradoxo?

Um tanto distante de Beija, embora conhecedor de sua fama, vivia João-de-barro ou João Barros, com “B” maiúsculo para os menos íntimos. Rapaz sério e trabalhador, artesão nato e romântico confesso, João também sonhava, trancado a sete chaves, obviamente.

- Sonhar não envergonha, mas também não sustém. De que adianta? – Pensava com seus botões (e ferramentas).

A essa altura, já se imagina o encontro.

- O encontro de almas – o leitor supõe.

- Ou o total desencontro – a autora retruca.

Natália Meneses
Enviado por Natália Meneses em 23/01/2013
Código do texto: T4100379
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