Quase conto
Beija-flor era moça bonita, porém descrente. Sonhava tanto, que já conhecia mundo e meio: sabores, perfumes, flores e rapazes. Singular, “Beija” detestava o nome composto e, por isso, a carinhosa alcunha. Tinha, por casa, o sertão e, por desejo, o continente.
-Ah, quem dera! – suspirava em alto e bom som.
Apesar da ausência de fé, Beija carregava o amor nos olhos, amor que distribuíra como ninguém e a muitos, de forma inexplicável. Seria, ela, um paradoxo?
Um tanto distante de Beija, embora conhecedor de sua fama, vivia João-de-barro ou João Barros, com “B” maiúsculo para os menos íntimos. Rapaz sério e trabalhador, artesão nato e romântico confesso, João também sonhava, trancado a sete chaves, obviamente.
- Sonhar não envergonha, mas também não sustém. De que adianta? – Pensava com seus botões (e ferramentas).
A essa altura, já se imagina o encontro.
- O encontro de almas – o leitor supõe.
- Ou o total desencontro – a autora retruca.