A Torre de Esmeralda

A Torre de Esmeralda

Em uma pequena e pacata cidade havia um bondoso e gentil senhor. Ele era um excelente artesão. De suas hábeis mãos surgiam objetos dos mais variados e perfeitos, a utilidade desses objetos era alvo de expectativas e espanto dos moradores, e a fama da sabedoria do homem se espalhava rapidamente pelas redondezas. De longe vinham até ele com seus problemas para que fossem resolvidos. O homem tão eficiente na arte de resolver as situações, não tinha a ambição necessária para que seu trabalho fosse devidamente recompensado. Ele na verdade nem se preocupava com dinheiro, seus valores eram muito mais nobres. A satisfação pessoal dele se resumia a oferecer soluções para os problemas que afligiam as pessoas.

Ele possuía um único e inestimável bem que era sua preciosa filha; uma criaturinha rechonchuda macia, branca como neve, com olhos brilhantes e astutos; esta ocupava-lhe os pensamentos e ele dedicava todo tempo que lhe sobrava para cuidar e ensinar a menina. Ele brincava com ela, pegava-a no colo, passeava com ela e a exibia para que as pessoas pudessem ver como ela era preciosa e linda. Ela ia crescendo e ele ia ensinando a ela tudo que achava importante de se ensinar a uma menina. Ele queria que ela crescesse e fosse educada como uma verdadeira princesa. Queria dar a ela todo o conforto e segurança que lhe fosse possível. Trazia-lhe presentes e brinquedos, antes mesmo que ela os pedisse bem como as frutas diferentes que encontrava, para que ela conhecesse de tudo que havia para se conhecer no mundo. Ele percebeu que ela já estava uma menina crescida, notou sua magreza e se preocupou em fazê-la ganhar peso. Sabia que uma mocinha deveria ter um porte saudável. Todas as questões que envolviam seu desenvolvimento lhe interessavam. Comprou-lhe bastidores de bordados, instrumentos culinários, deu-lhes livros para ler e fez-lhe se interessar por eles lhe contando histórias de belas princesas.

Ele sonhava que sua menina se tornasse uma princesa linda e bem educada. E de fato toda sua dedicação deu frutos. A magra menina ao fazer quinze anos já se tornara uma linda e deslumbrante mulher, e por onde passava todos se admiravam de sua beleza e educação.

Ela se tornou doce e amável, pois era segura do amor de seu pai por ela. Tinha um coração puro e sonhador. Era uma criaturinha desarmada e descomplicada. Crédula na bondade das pessoas, confiava em tudo que lhe diziam. Era certa de que o mundo estava disposto a ser gentil com ela, assim como seu pai o fazia. O pai só errou em duas coisas na educação da filha: mimou-a demais e não a preparou para se defender da maldade. Ela era vulnerável e precisava que alguém a protegesse sempre. Seu pai estava sempre por perto para protegê-la, mas o que aconteceria se um dia ficasse só no mundo? Seu pai era velho, e não possuía recursos para que ela ficasse amparada. Essa passou a ser a preocupação dele. Arrumar um substituto para ocupar seu lugar nos cuidados com a filha. Mas quem estaria preparado para tão importante tarefa? E se por acaso não existisse ninguém com capacidade para isso? Ele então pensou em soltá-la aos pouquinhos, tomando o cuidado em ensinar-lhe a se proteger, pelo menos aprendendo a se defender sozinha. Disse-lhe que ela precisava sair sem ele de casa, mas que teria que tomar cuidado evitando certos lugares e situações que a poriam em risco.

Aos poucos a menina foi se soltando e cada dia se desligava um pouquinho dos cuidados de seu pai e isso o preocupava deveras. O que faria se algo ruim acontecesse a filha? Mas arriscar-se se fazia necessário, teria que ensiná-la e a única forma de aprender era se arriscando.

Um dia a menina viu ao longe a fechada vegetação que cercava a cidade. Ela sentiu a curiosidade invadir sua mente e não conseguia parar de pensar em ir até lá. E uma tarde em que estava sozinha em casa resolveu ir até a extremidade da cidade que fazia divisa com as frondosas árvores da escura e assustadora floresta, apesar de seu pai diversas vezes tê-la orientado a não chegar sequer próximo àquelas árvores. E essas recomendações ao invés de afastá-la, serviram como incentivo e estímulo daquela mente estimulada tantas vezes pelo fascínio do novo e do desconhecido. O pai desenvolvera nela a inteligência estimulando seus sentidos e isso foi justamente aquilo que foi usado para atraí-la a uma terrível armadilha.

A menina já era agora uma mulher, com brilhantes e encaracolados cabelos castanhos. Olhos cor de mel e corpo esguio, não era apenas linda na aparência física tinha ainda a mente muito ativa e ficava o tempo todo a busca de novos saberes, sua inteligência era tão impressionante quanto sua beleza. Era muito viva , apesar de ser inocente achava que estaria pronta a identificar sozinha o que poderia lhe causar mal.

Aproximou-se da floresta e ficou maravilhada com a beleza das flores logo na entrada. O chão era forrado por perfumadas alfazemas, que com seu aveludado tom de azul fascinou e encantou a garota. Ela deu uma rápida olhadinha para trás, a fim de se certificar de que estava sozinha e entrou na floresta pensando em apenas colher algumas daquelas flores com as quais pretendia enfeitar a mesa na hora do jantar. Entraria e sairia tão depressa que nada lhe aconteceria. A abundância das alfazemas fez-lhe pensar que em questão de segundos já estaria de volta para casa e não correria nenhum risco.

Seus olhos ofuscados pela luz solar, logo se acostumaram com a escura floresta e se adaptaram revelando ainda mais a beleza escondida pela diferença de luz e sombras. Algo tão lindo não ofereceria perigo algum, seu pai devia ter se enganado. Estivera tão ocupado que nunca parara para ver como a floresta era linda. Ela pensava em trazê-lo até ali no dia seguinte, queria mostrar ao pai como eram inofensivas aquela belas e magníficas flores.

Quando se deu por si era tarde demais, ficara impressionada e cativada, olhou a frente a uns metros de onde estava uma paisagem de parar a respiração se descortinou diante de seus abismados olhos. De uma enorme pedra cercada por miosótis azuis, pequenas margaridas brancas e delicadas madressilvas, brotava uma cachoeirazinha espumante e fresca, aos seus pés formava uma pequeno lago de onde saltavam coloridos e despreocupados peixinhos brilhantes, abocanhando felizes as frutinhas que caiam da frondosa amoreira logo acima deles .Borboletas de todas as cores e tamanhos bailavam sobre as flores, pássaros barulhentos e felizes mergulhavam no laguinho e espargiam água balançando suas eriçadas e lustrosas penas. Um verdadeiro espetáculo que fez-lhe ficar em respeitoso silêncio. Ficou muda diante da beleza daquela paisagem. Quase nem queria respirar de medo de que sua respiração interferisse no espetáculo deslumbrante diante de si. Deu um longo suspiro e esqueceu-se de imediato de todas as recomendações de seu pai. Sentou-se em uma pedra e passou a tarde toda ali, meditando e sonhando. A partir daí, todos os dias ela voltava lá, e quase não agüentava mais esperar o dia amanhecer para estar naquele lugar enigmático.

A menina não sabia, mas alguém a observava de longe. Uma sinistra criatura, que era dona daquele lugar, indiferente a beleza que a conquistara tanto, pois desprezava tudo que era belo e puro; possuía invejosos olhos e uma boca distorcida num sorriso de escárnio , seu desejo era destruir a tudo e a todos e só mantinha aquele lugar a fim de atrair para perto de si as desavisadas almas inocentes como as dela. Todos os dias a criatura se esgueirava a espera do momento em que poderia tragar os sonhos e valores da menina.

Uma manhã em que o sol estava mais brilhante e escaldante, a menina segurou o vestido e esticou os pesinhos a fim de mergulhá-los na fresca água do laguinho. Suas águas transparentes e muito limpas refletiam as árvores e o céu azul como se fosse um espelho de cristal. A menina se viu refletida na água, sorriu para si mesma, mostrando a fileira de dentes brancos e belos. De repente levou um susto, dois olhos amarelos e malignos a encaravam refletidos no fundo do lago. Ela olhou assustada para trás e se deparou com aquela criatura estranha e feia. Sua alma nobre e gentil, logo se enterneceu e ela teve pena da criatura, que contrastava tão tristemente com a beleza ao redor. As duas se encararam por uns minutos, e a menina sorriu-lhe seu sorriso mais doce. A criatura se estremeceu por dentro, de ódio e rancor. Como era possível alguém tão belo assim existir. Teve ímpeto de lhe torcer o pescoço alvo e esguio. Pensou em como uma menina pobre podia ter aquele porte de princesa mesmo estando vestindo roupas simples de tecido barato. Não se contendo soltou um gemido de raiva, que foi confundido pela menina com um gemido de dor. Ela se aproximou da criatura preocupada com a dor que a afligia e perguntou –lhe o que lhe doía tanto. A criatura mal disfarçando seus malignos instintos, falou-lhe com sua voz gutural e rouca:

_O que me dói é pensar que, por ser só no mundo, não tenho a quem dar a guardar algo que me é muito precioso e que ladrões tentam roubar o tempo todo. Se encontrasse uma menina de boa vontade que fosse capaz de guardar consigo, sem nunca se desfazer dele, eu confiaria a ela esse meu tesouro e ficaria livre para poder viver em paz, até que fosse seguro pegar de volta!

A menina sempre fora ensinada a agradar e ajudar, ser prestativa era algo que o pai a ensinara também, e se ofereceu para cuidar daquilo, fosse o que fosse.

A sinistra criatura sorriu satisfeita pela facilidade com que enganara a menina e segurando suas mãozinhas delicadas a conduziu até o interior da floresta. Lá as árvores eram mais fechadas e suas copas maciças escureciam tudo de forma sinistra, o chão em que pisavam era úmido e forrado por folhas apodrecidas e mofadas. Por todos os lados se via a cor cinza e deprimente que lembrava a morte. O ar era irrespirável e fétido. Um frio cortante fazia a menina estremecer. Pararam em frente a uma escura e nojenta caverna. Uma gosma asquerosa cobria sua entrada, e a criatura penetrou a caverna quase como se seus pés não tocassem o chão, a menina não teve coragem de segui-la e esperou do lado de fora, olhando ressabiada para os lados, sentindo um calafrio passar por seu corpo. Estava apavorada demais e não via a hora de sair correndo dali, mas não queria magoar a sua nova amiga. Esperou pacientemente se segurando para não cair, pois estava com falta de ar e sentindo uma vertigem lhe toldar a visão. A criatura voltou e lhe estendeu uma pequena e estranha semente. Parecia uma noz. Era dourada e lisa. A menina pegou a semente nas mãos e prometeu que jamais se livraria dela, até ter a chance de devolver a sua dona novamente quando fosse seguro fazê-lo.

Continuou a visitar a entrada da floresta, e de vez em quando a criatura maligna lhe fazia companhia. Elas conversavam enquanto a criatura, com seus longos dedos secos em forma de garras fazia círculos nas águas do lago, suas palavras provocavam uma estranha sonolência e a menina quase nunca se lembrava o assunto sobre o qual conversavam. Mas a criatura aos poucos e sutilmente ia incutindo em sua mente seus valores distorcidos e maus. A menina sem perceber recebeu em seu subconsciente sentimentos de medo, ciúmes, insegurança, inferioridade e tirania.

Esses sentimentos ficavam latentes, de forma que ninguém os percebesse mas aos poucos iriam destruir em sua alma tão bela, os valores que seu dedicado pai teve tanto cuidado em formar.

Os anos foram se passando e a menina começou a sentir os efeitos das palavras malignas proferidas pela criatura e sem que ela percebesse o que causava os sentimentos negativos que a atormentavam.

Ela se sentia muito feia, tinha a impressão de que seus pés eram enormes, cada dia que se passava eles cresciam mais e mais. Suas pernas eram grossas como as de um elefante e sua boca enorme, quase lhe chegava ás orelhas. Todas as meninas da sua idade já demonstravam os sinais de que a idade adulta havia chegado, mas ela sentia-se infantil e tola.

Em todos os bailes a que era convidada os rapazes se aproximavam dela assim que a viam adentrar o salão, mas ela por se sentir tão feia e gigantesca os repelia. Ela não entendia o que eles poderiam querer com uma criatura monstruosa como ela. Aos poucos os rapazes foram se afastando desanimados por não entenderem o que se passava. Ela então começou a sentir-se sozinha e cada vez mais desanimada, acreditando que os rapazes se afastavam devido a sua feiúra. Recorria então a criatura da floresta que cada vez mais incutia nela esses valores negativos.

A menina possuía em seu poder algumas pedras preciosas, que eram os dotes que deviam ser entregues ao seu futuro marido. Eram presentes que fariam com que o rapaz soubesse que ele estava destinado a casar-se com ela.

Sempre levava consigo a bolsinha com suas pedras preciosas e dentro da bolsinha estava guardada também a semente dourada que a criatura havia lhe dado para que guardasse. O grande problema dela era como saber quem seria merecedor das pedras preciosas.

A criatura se propôs a lhe ajudar a descobrir quem seria digno de ganhar as pedras. Ela orientou a menina a procurar entre os rapazes que estivessem por perto. Segundo ela quando o rapaz certo aparecesse, seu coração bateria com mais força.

Um dia ela voltava da visita a floresta, quando viu um magro e bonito rapaz que cortava o mato de um vistoso jardim. Ele virou-se para ela e lhe sorriu um belo e generoso sorriso. Imediatamente seu coração bateu em disparada e a menina teve certeza de que ele seria seu futuro marido e que a ele ela deveria entregar as pedras.

Ele também sentiu seu coração bater depressa e não conseguiu desviar os olhos da menina. Atraído por sua beleza ele tomou coragem e veio falar com ela.

Quem é você menina? Onde mora?

Moro aqui mesmo nessa cidade, no final da rua.

Como é possível que eu nunca a tenha visto por aqui?

Porque haveria você de ver-me, nossa cidade nem é tão pequena.

Mas com certeza uma menina como você eu teria visto.

Ela imediatamente pensou que ele estava se referindo a sua monstruosa feiúra.

E tristemente perguntou:

O que tenho eu de tão diferente das outras meninas?

Com certeza você não faz idéia do quanto é bonita não é verdade?

Realmente não sei se de fato sou bela. Mas se aos seus olhos sou bonita é o quanto me baste.

Poderia receber uma pedra preciosa de minha bolsinha. Pois tenho certeza de que serás meu futuro marido. O rapaz ficou feliz e segurou com entusiasmo a preciosa pedrinha em suas mãos. Não acreditava que a menina fosse –lhe destinada por esposa, ela era linda demais e ele jamais sonhara que um dia poderia ter como esposa uma criatura tão linda.

Eles passaram a se encontrar todos os dias, passeavam de mãos dadas. Olhavam as flores e riam e brincavam juntos. Tanta era a alegria da menina que se esquecera totalmente de sua feiúra e também de visitar a criatura da floresta. Ela estava se sentindo feliz e leve e aos poucos se tornava de novo a criaturinha confiante de outrora. Mas a criatura estava insatisfeita, sentia que seu poder sobre a menina estava se desfazendo e começou a pensar em uma forma de voltar a dominar sua mente.

Uma noite usando seus malignos poderes visitou a menina em um sonho e pediu-lhe que presenteasse o rapaz com a semente dourada que se encontrava em seu poder.

A menina na manhã seguinte, ao encontrar-se com o rapaz mostrou-lhe a semente e ele a guardou no bolso da calça, esquecendo-se em seguida e embevecido com a menina e sua voz suave e delicada passou a tarde toda indiferente a tudo o mais.

Quando chegou em casa no final do dia e um sentimento de medo começou a ganhar forma em sua mente. Ele não sabia bem porque mas não parava de pensar na menina. Não da maneira que estava acostumado, mas de uma forma dolorida e preocupada.

Sua mente começou a se perguntar:

Onde estaria a menina?

Com quem ela estaria?

O que estaria ela fazendo?

E a cada uma dessas perguntas uma agonia profunda tomava conta dele. Ele não conseguia mais trabalhar, e cuidar da menina passou a ser como uma obsessão.

Ele sentia que estava enlouquecendo de ciúmes, como se a menina estive enamorada de outro. Embora soubesse que ela o amava, o medo era paralisante. Chegou a um ponto em que não dormia mais, não comia mais e só ficava um pouco tranqüilo quando estava segurando suas mãozinhas. Ele era covarde e temia não conseguir viver dessa forma. Procurou a menina e disse –lhe que precisava parar de vê-la, se desligar dela e esquecer-se dela para sempre, não queria parar sua vida por causa dela.

A menina chorou muito e não entendeu o que poderia ter acontecido. O rapaz lhe devolveu a semente dourada e a pequena pedrinha vermelha que ela lhe havia dado, a menina segurou a semente dourada e nem se lembrava que a esquecera com ele.Mas a pequena pedrinha ela não poderia aceitar de volta. Seria dele para sempre e seu marido não receberia mais aquela pedrinha. Teria que aceitar ficar sem ela e ela temia que nunca mais conseguisse que seu marido a perdoasse por ter dado a pedrinha dele a uma outra pessoa. Ela lamentava ter sido tão tola e precipitada, e não tinha idéia de como faria para proteger as pedrinhas que restavam e saber quem era o verdadeiro dono delas

Correu então chorando para a floresta e debruçou-se na pedra e chorou a tarde toda. A criatura maligna ao longe ria-se do desespero dela. E se deliciava por ela ter sido tão tola. Aproximou-se da menina e tocou-lhe os cabelos de forma carinhosa e foi ministrando sentimentos ruins e sutilmente tomando-lhe novamente a mente.

Quando a menina se levantou enxugou as lágrimas e um novo sentimento foi se desenvolvendo. Ela ainda se achava feia e gigantesca, mas se o rapaz a tinha amado mesmo que por pouco tempo sabia que poderia ser amada por outros rapazes, tinha várias pedrinhas vermelhas iguais aquela e passou a distribuí-las a todo rapaz que se aproximava, não tinha paciência para esperar e saber se aquele era o dono da pedrinha e como elas eram várias achou que não teria problema em distribuí-las. Ela não sabia mas esse era um sentimento que a criatura da floresta lhe presenteara.

Os rapazes estavam felizes e se gabavam mostrando a todos os que quisessem ver a pedrinha que a menina tolamente lhes dera.

Ela passou a ficar vaidosa e a usar vestidos provocantes coloridos e chamativos, tentava com eles disfarçar a feiúra e quem sabe enganar os rapazes dos bailes que avidamente passou a freqüentar. Já estava quase sem pedrinhas vermelhas e logo teria que começar a distribuir as maiores brancas e brilhantes.

Uma noite arrumou-se toda com todo cuidado, pintou os lábios com as amoras vermelhas, vestiu um bonito vestido verde, que em contraste com sua pele branca ganhou uma beleza incomparável. A menina olhando –se no espelho não via a beleza que possuía, pelo contrário a imagem refletida era horrorosa. Quando chegou no baile todos se admiraram com a bela e radiante mulher que entrou o salão, mas ninguém percebia que ela estava encolhida e temia que descobrissem sua feiúra. Entrou decidida a entregar ao primeiro rapaz que se aproximasse todas as pedrinhas brancas que tinha na bolsinha. Ela encostou-se languidamente no balcão do jardim e perdeu-se em seus pensamentos, observando as flores que na pouca claridade da lua, pareciam sem cor. O dono daquela casa deveria ser rico e poderoso pois a enorme casa se erguia magestosa e diante dela se estendia o gramado bem cuidado. Aqui e ali os canteiros de rosas perfumadas e orgulhosas balaçavam a tênue brisa que soprava. Ela vestia um vestido de seda, com ombros a mostra, a saia rodada e longa não a protegiam do friozinho e ela estremeceu de leve. De dentro vinha a música do baile e ela sentia-se desanimada. Sentia-se também solitária e triste. Ouviu passos atrás de si e virou-se assustada. Um belo rapaz olhava para ela sorrindo.

Ele se aproximou e colocou sobre seus ombros uma capa vermelha e segurando suas mãos a puxou para a varanda coberta da casa. Ela estava parada sob as trepadeiras floridas e a luz do luar se refletia sobre seus cabelos castanhos. A imagem era a coisa mais linda que ele já vira. Como poderia existir pessoa tão linda e ao mesmo tempo tão indiferente. Perguntou a menina o que ela estava pensando no balcão e ela respondeu...

CONTINUA

Rosahoney
Enviado por Rosahoney em 27/02/2013
Reeditado em 27/02/2013
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