A breve vida do Frederico

Janela que se abre, o gato não sabe

se vai ou se voa.

Alice Ruiz.

A breve vida do Frederico

Já era noite. Estava chegando em meu ateliê de pintura, para mais uma noite de inspiração. Quando abria a porta do prédio no centro da cidade (Rio antigo-RJ), percebi que um gatinho miava ardido. Entrei no prédio e o convidei para vir comigo. Ele veio. Já no ateliê dei água e comida. Olhei bem nos olhos dele e batizei-o de Frida, (homenagem a pintora, Frida Kahlo)!...Estava num encantamento com a beleza daquele felino, cor de carmelo e expressivos olhares, que nem olhei o sexo. Naquela noite não trabalhei, fiquei brincando e namorando o bichano.

No dia seguinte, quando acordei, ele estava se espreguiçando na minha cama, fazendo charme pra me conquistar, ficou de barriga pra cima e percebi que era macho. Imediatamente, mudei o nome de Frida para Frederico. (Fredinho para os íntimos!)...

Já tive dois gatos siameses e tinha certo hábito de lidar com felino. ( Duque e Meg. Duque fazia xixi no vaso sanitário e Meg abria a porta do quarto da minha mãe num salto, (puxando a maçaneta com as patas)!.

Fredinho fazia xixi no ralo do banheiro e cocô no seu banheiro de areia.

Ficamos amigos em tempo recorde. Ele adorava me dar sustos pulando nos sofás, até chegar à janela. Ficava na janela olhando o movimento na rua.

Belo dia, uma vizinha, me gritou lá da rua: Cuidado o Fredinho está na janela...Agradeci e respondi: Ele gosta de observar o movimento dos transeuntes...Atendendo a um pedido dela, fechei a janela, pra me sentir mais seguro.

Certo dia, saí e esqueci a janela aberta. O arteiro do Fred, foi para janela se distrair, com a loucura do mundo...

Nesse dia deu um vendaval e acho que o vento, fez ele perder o equilíbrio e caiu do quarto andar do prédio.

Chegando à noite, para pintar, encontrei a porta do apartamento da vizinha aberta. O Frederico tinha sido recolhido pelo marido dela. Estava vivo mas deitado no chão perto da porta. Ela me contou que quando o pegou na rua, o coração pulsava, quase saindo pela boca.

Peguei meu bicho no colo, sentei numa poltrona da sala do ateliê, sentindo que minh'alma estava indo embora com a dele. Ele estava indo ao encontro dos meus outros bichos, que não habitam mais esse plano, mas não ia. Ele me amava e queria ficar comigo. Percebi que havia quebrado as quatro patinhas...Ele sofria muito e implorei à Deus que o levasse. Acho que Deus achou que ainda não era a hora da carruagem levá-lo.

Coloquei-o em sua casinha, passei a noite ajoelhado, fazendo carinho em seu corpo, esperando o dia amanhecer para levá-lo ao veterinário.Talvez a noite mais longa que vivi. Cedinho no veterinário a péssima notícia, nada a fazer...a não ser dar umas injeções contra dor...

Fredinho passou um mês tentando sobreviver a má sorte. Eu dava água e comidinha na boca com seringa. Eu, tão acostumado a perdas, estava velando mais uma.

Ele fazia as necessidades em sua casinha, mas não sentia dor, devido as injeções. Peguei-o para dar um banho, ele sentiu dor imensa e tentou me morder por defesa... Tocou meu braço e me lambeu. Choro agora. Alguns dias depois quando fui alimentá-lo, estava morto. Aqueles olhinhos que falavam estavam abertos e estáticos. Senti alívio, mas acho que preferiria que tivesse acontecido comigo. Perder o bicho de estimação é perder o amor do melhor amigo.

Esteja em paz Fred, mas acho que estás comigo, novamente. Adotei um cão, encontrado na rua, com um mês, mais ou menos, sem um olho, acho que levou uma pedrada de algum assassino que anda à solta machucando bicho e gente. (Seu nome? Bolinha)!... Foi operado do olho e enxerga com dois, possui a "Terceira visão"!...me ama da mesma forma, não gosta de rua, de gente, não sai de casa e se lambe, como se fosse gato.

Tony Bahi@.

Tony Bahia
Enviado por Tony Bahia em 12/03/2013
Reeditado em 12/03/2013
Código do texto: T4184851
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