Sentimentos Profundos (2012)

Naquele dia ela o acompanhou e estavam ambos caminhando. Foi de repente que ela decidiu segurar a mão dele. Voltavam do centro da cidade e estavam perto do mirante da cidade, numa igreja situada no alto de um morro. As nuvens escuras seguiam eles, curiosas. Começaram a subir a longa escadaria que ligava a avenida e a igreja, enquanto a chuva estava leve e sem pressa.

Porém não tardou para que a chuva apertasse e ela escorregou em um degrau que estava tomado pelo musgo bolorento.

"Sujei toda a minha calça, droga!"

Ele estendeu sua mão para ajudá-la e ambos continuaram a longa subida até o mirante.

"Podemos nos abrigar ali até que a chuva passe."

Aponta logo em seguida para uma cobertura nos contornos da velha igreja, que ficava depois do caramanchão do jardim.

Eles sentaram ali, mas não sentaram muito perto um do outro. Apenas as estátuas dos santos que decoravam o jardim faziam companhia a eles. Ela se segurou, abraçando seus próprios braços e fez fricções com as mãos para se aquecer.

"Já está escurecendo... Você está com frio?" ele pergunta.

"Tá tudo bem..." ela responde.

"Você está tremendo."

"Já disse que estou bem!"

Ela o ignora olhando na direção contrária a ele. Nenhuma palavra mais é dita, por um tempo. Durante o silêncio, ele segurou um dos braços dela e com um puxão forte e rápido a ela caiu em seu colo. Ficou assustada, arregalou os olhos, mas quando ele a envolveu com os braços, sentiu-se bem e se ajeitou ali, requebrando os quadris sobre as coxas duras dele. Não mais tão tímida, ela passa os braços pelo pescoço dele, abraçando-o, e debruça-se sobre um dos seus ombros. As estátuas dos santos estão ainda mais curiosas e todas olham atentamente para o jovem casal.

"Vai esquentar mais rápido assim"

"Mas... A minha calça ainda está suja..."

"Você sabe que eu não ligo pra isso".

Um sentindo a respiração do outro, pareciam estar curtindo aquele momento, aquela proximidade dos corpos. O calor que emanava um do outro.

Ele suspira perto do pescoço dela, e está um pouco corado. Ela sente algo ganhando espaço entre as pernas dele e ajeita-se novamente, não queria pressionar mais aquilo.

"Algum problema?"

"Não... Nenhum problema..."

É possível sentir o nervosismo dela, e a surpresa. Apesar do pudor, ela está gostando, de tudo aquilo, claramente está gostando ainda que esteja envergonhada. As mãos estão inquietas, e ela acaricia a nuca dele, o pescoço e as costas, ainda que um pouco trêmula.

"Ei, Vinnie..."

"O que é?"

"Você... Gosta de mim?"

"Quê!?"

"Ah, droga! Eu não devia ter perguntado... Me desculpe, não precisa responder!"

"Me desculpe..."

Ele sente um pouco de pesar ao responder confuso, não esperava ter o coração confrontado justo naquele momento. Ela esta afastada, encara-o de frente, com seus olhos ansiosos e vazios de pensamentos, esperando por um complemento de resposta, que logo vem:

"Eu não... Sei. Não sei te responder o que sinto por você."

O tempo e o espaço se perdem e criam uma pausa. Num movimento lento e hesitante, ela puxa ele pra mais perto e vai colocando seus lábios perto dos dele, com a boca um pouco aberta e a língua pronta. Antes dos lábios se encontrarem, contudo, eles trocam olhares tímidos e ficam por um instante nessa meditação vazia antes de se beijarem. Por fim, beijam-se vagarosamente, como se estivessem descobrindo a boca um do outro, como se estiessem desbravando. É um dos bejios longos e dos mais delicados também. Ela abraça-o com mais força enquanto beija. Ele sobe e desce as mãos pelo ventre dela, segurando-a com força e abraçando-a ocasionalmente.

É um beijo bonito, mas há uma tristeza naqueles dois pares de lábios. Parece que se beijam apenas porque nenhum dos dois tem qualquer outra opção. Eles tem apenas um ao outro. As estátuas dos santos olham pra eles e algumas parecem gostar do que vêem e algumas outras, mais severas, parecem repreendê-los com o olhar. A verdade é que só Deus sabe o que elas estão realmente achando de tudo aquilo. A chuva para e a noite chega silenciosa e taciturna. Eles não se dão conta que o mundo já voltou a girar...

VINÍCIUS R. C.

Vinícius Risério Custódio
Enviado por Vinícius Risério Custódio em 16/03/2013
Reeditado em 12/03/2014
Código do texto: T4192424
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