HOMEM TAMBÉM CHORA

 
          As lágrimas que caíam copiosamente dos seus olhos se misturavam às gotas de chuva do temporal. Os relâmpagos e trovões que rasgavam o céu nebuloso expressavam o desespero de uma alma destroçada por um amor não correspondido. O jovem agia como criança, desfazendo o senso comum que "homem não chora".

          Minutos atrás, Amadeo teria as expectativas e os sonhos de amor - desenhados durante todo o ano - rasgados e jogados ao vento. Conhecera Fernanda quando iniciaram o curso de letras; apaixonou-se à primeira vista ao perceber aqueles lindos olhos verdes e largo sorriso (moldado por lábios carnudos e sensuais); sonhava acordado, vendo-os tocar sua boca e trocando fluidos de amor.

          O sentimento crescia no coração imaturo de Amadeo entre estudos em grupo, conversas descontraídas, saídas para cinemas e barzinhos, romances emprestados, sorrisos trocados, presentes de aniversário; tudo alimentava a esperança do jovem rapaz. A ansiedade o dominou nos dias que antecederam uma festa de confraternização de sua turma; seria o momento da grande declaração de amor.

          A chácara do professor de literatura foi o cenário da primeira desilusão de Amadeo. Embora toda a turma estivesse reunida, muita música tocando, gente dançando e a alegria contagiasse o lugar, ele não conseguia desviar o pensamento de Fernanda. Já havia tomado vários copos de cerveja, sentiu-se o homem mais corajoso e destemido do mundo, partiu com determinação em direção à moça, e a chamou para conversarem distante do barulho, pois teria algo muito importante para lhe dizer.

          Fernanda o acompanhou meio desconfiada, mas não resistiu, confiava em Amadeo como se fosse um irmão. Com os lábios trêmulos e os olhos já marejados - visivelmente emocionado - o rapaz disparou:

          --- Sempre quis dizer isto, mas nunca tive coragem. Desde o primeiro dia em que te vi, me apaixonei por você, pelo teu jeito, pelos teus olhos, teu sorriso, por tudo. Amo você e sei que você também sente algo por mim. Quer namorar comigo?

          As primeiras gotas de chuva do temporal que estava por vir começaram a cair. Surpresa, pálida e constrangida, com poucas palavras, a garota dissipou pela raiz qualquer perspectiva de relacionamento com o rapaz:

          --- Amadeo, adoro você, sempre gostei de ti, você sabe o quanto nos damos bem, mas não temos nada a ver um com outro. O amor que eu tenho por você é - e sempre será - de amigo, de irmão. Inclusive, já estou ficando com um cara que gosto muito. Agora vamos voltar para a festa e esquecer o que aconteceu.

          Fernanda voltou para junto dos amigos; Amadeo ficou atônito, imóvel, sem saber o que fazer. Aquelas palavras atingiram o rapaz como se uma espada atravessasse seu peito e o cortasse todo o corpo; nem em seus piores pesadelos imaginaria que isso pudesse acontecer; tinha certeza que a garota também estava apaixonada por ele. Enquanto os colegas, longe da chuva, se amontoavam - já embriagados - no salão de festas da chácara, Amadeo se encharcava, encolhido aos prantos, sofrendo de amor.

          Aquele triste dia passou, as lágrimas do rapaz enxugaram, a amizade com Fernanda continuou, e ele viveu para chorar por muitos outros amores: correspondidos, compartilhados, desprezados e contrariados. Amadeo, ainda cedo, aprendeu uma bela lição de vida, compreendeu que homem também chora, e quando é por amor...

(Imagem: Internet)

 
Robson Alves Costa
Enviado por Robson Alves Costa em 27/04/2013
Reeditado em 09/05/2013
Código do texto: T4262478
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.