O dia em que o sol não nasceu

Joga todas as suas perguntas para a lua,tantos papeis gastos em poemas não terminados,poemas dedicados a amores não começados.Uma vida cheia de tarefas interminadas,sonhos nem cogitados a serem realizados,e de uma hora pra outra o que é mais precioso se acaba,o que não depende dela pra ser concluído,terminado,termina.

Ansiosa,senta na janela e espera o sol nascer.-Mas como está demorando hoje !-pigarreia para o céu,com a cabeça jogada do lado de fora da janela,como se o sol pudesse escutar suas exclamações.Pelo jeito não podia.A garota da história cujo nome é Malu desiste de esperar,a propósito,essa é sua especialidade,desistir,não terminar,sempre começar e não encerrar.Mania feia essa !

Iniciou então seu dia,colocou um pouco de geleia em uma fatia de pão tostado,deu uma mordida e deixou ali,tomou um gole de suco de abacaxi e deixou o resto em cima da mesa.Saiu para rua para iniciar suas tarefas.Nas ruas as pessoas estavam confusas,o céu estava escuro e não era sinal de chuva,ninguém sabia o que estava acontecendo,mas muitos continuavam seu caminho de costume.A garota também continuou.Enquanto estava caminhando esbarrou em um velho conhecido,Bernardo,um antigo amor,tinha ótimas lembranças dele.Começaram a conversar,foram então a um bar,riam de tudo,lembrando dos momentos e antigas histórias.Era um dia incomum para Malu,normalmente ela apenas estudava e trabalhava,e continuava vivendo sem nenhum momento interessante em seu dia.Para Bernardo o dia também era incomum,ele tinha tantos trabalhos para concluir,ao contrário da garota ele concluía.Mas eles estavam juntos ali,um momento raro,um encontro inesperado.Resolveram sair da rotina,foram dar uma volta pela cidade,onde as coisas continuavam confusas,mas nada fora do normal.O dia já parecia noite,mas as estrelas não estavam lá.Eles se deram as mãos e correram,deixando o vento entrar pelos seus cabelos encaracolados,estavam se divertindo tanto,sendo felizes como nunca haviam sido antes.A garota sabia que algo não estava certo,ele também,mas não ligaram.

Enquanto se divertiam,tudo acontecia como em um dia qualquer,pessoas morriam por motivos banais,como se suas vidas não fossem importantes,crianças nasciam,pessoas trabalhavam,adolescentes estudavam.Nesse dia as crianças nasciam apenas para dar últimos momentos de alegria a seus pais,e para abraçarem pela primeira e última vez a vida tão curta que lhes foi dada.Os doentes do hospital se sentiam mais vivos,mas mais próximos da morte,uma ironia deliciosa...tudo como em um dia comum,mas não era um dia comum.

Todos do mundo estavam tendo sentimentos mesclados,medo,amor a vida,sensações de liberdade,sentimentos comuns do dia a dia de pessoas observadoras,apaixonadas.Mas o mundo em uma incrivel sintonia estava experimentando das mesmas sensações.

Malu e Bernardo,sentados em um banco,diziam suas últimas palavras,que pareciam cantadas para o universo.

-Sempre tenho a mania irritante de começar e não terminar,agora eu percebo que a única coisa que não depende de mim para terminar,é a mais importante,minha vida.-Diz Malu.

-Se você pudesse escolher alguém com quem ficar no seu último dia,quando tudo isso acabar,quem seria?

Ela então o beijou,e o mundo explodiu em milhões de estrelas,varrendo todo e qualquer sinal de vida da terra.

Luiza Bruun
Enviado por Luiza Bruun em 01/06/2013
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