A noite cinzenta
Era quase meia noite, e eu não o via chegar, chorava incessantemente, vi a chuva cair, fechei a cortina e continuei na esperança de vê-lo, de abraçá-lo e nunca mais deixá-lo ir.
Tranquei-me no quarto, tomei três ou quatro doses de calma e imaginei que algo ruim poderia
ter acontecido, que um imprevisto surgiu, que o carro não pegou, ou que a chuva tenha o deixado em estado de repouso.
Não quis mais saber, saí desesperada, disse adeus a cada compartimento que me prendia e angustiava, na negligência que era não fazer nada para tê-lo comigo.
Peguei a capa, o guarda-chuva e fui à busca dele.
Gritei então, gritei na noite que calada me observava, e não exprimia nada, só o vento após a chuva ignóbil que acabara de parar.
De nada serviria aqueles gritos de desespero, em busca de tê-lo comigo.
Ele não ia ouvir, ele não estava ali.
E recompondo-me, caí em mim e voltei para casa, sórdida e sem esperanças.
Aquela noite pra mim acabara ali.
Foi então que acordando, com a vista embaçada, por volta de duas da madrugada, percebi que tudo aquilo era apenas um pesadelo, que deveras experimentei para nunca mais.
Foi uma demonstração mais triste do medo que eu sentiria se não tivesse mais ele do meu lado, nos meus dias, seriam como a noite pungida, vazia, inóspita, que aquela opressão sonora me fez viver uma vez, por bem, uma vez apenas.