Como o Amor Acontece ?

Carlo me tinha como um bom amigo . Digamos que eu nunca dera motivos para não ser . O amigo ideal , digamos, pois sua mulher , sua jovem noiva não me agradava em nenhum aspecto . Era uma pessoa repugnante , glorificava seu rabo como se fosse o melhor traseiro do planeta , tinha a certeza de que era muito mais capaz que os demais amigos do casal , tudo que tocava de alguma forma era melhor e muito mais que o resto . Eu não a suportava e ela sabia disso , logo me tratava bem , tudo para mostrar que era superior a mim , que não se tratava de qualquer uma sem classe . Certa vez , bebado , alguma coisa que fizera me tirara do serio , logo indaguei se ela se achava assim tão melhor que meu amigo , se ele não lhe servia como deixava claro em suas discussões publicas , porque não deixa o homem em paz ? Porque não lhe dar a liberdade ?

'' Eu o amo ''

Foi o que disse . Mas não senti firmeza em sua resposta . Sim , ela podia até achar que o amava, talvez até mesmo acreditar , assim como Carlo cegamente acreditava , deixando até mesmo seu bom emprego como empacotador numa fabrica de sabão para trabalhar em casa , junto do irmão , fazendo bolsas de couro sintetico , longe de mulheres e acima de tudo distante palavras ofensivas a respeito da vagabunda . Mas eles não se amavam , Deus sabe que não , apenas haviam criado um laço doentio de dor do qual não conseguiam se desvencilhar . Eram masoquistas , a dor apagara todas as outras sensações da vida ; haviam se esquecido de que e possivel viver sem pontadas no coração . O resto dos amigos escondiam suas opiniões a respeito do assunto . Eu , por outro lado , deixava bem claro . Sabia que quando aquela bomba explodisse Carlo estaria sozinho , pois todos se afastariam , sem saber o que dizer , mas não eu . Eu poderia lhe olhar nos olhos e falar ' eu te avisei ' . então não inacreditavelmente a coisa aconteceu . A briga durou uma noite , e eu presenciei o inicio . Tudo começou por causa de um cigarro . Carlo tinha se transformado num babaca , impunha ordens a garota e se contrariado armava uma tremenda filha da putice . O convivio a dois o tinha trasnformado numa pessoa igual ou mais desprezivel que a propria piranha.

'' Amor, tinhamos combinado em parar de fumar ''

Disse ele quando entreguei um prego a noiva .

'' ha , a gente para depois ''

Disse ela , pondo fogo no pavil .

Apartir dai a coisa fugiu do controle e da compreensão . O barraco se armou . Eu estava acompanhado de Laiz , a garçonete do bar onde estavamos . Uma boa garota que sem nada melhor para fazer no lugar praticamente vazio aceitou minha proposta em sentar se a mesa comigo e os outros dois

'' Vi essa garota , essa empregadinha olhando para você ! ''

Disse a noiva , insinuando que Laiz estava dando em cima de Carlo .Disse a ela para não se preocupar , que eram dois idiotas . Mas Laiz não gostou de ser chamada de vagabunda e se levantou . Fiquei sozinho ali na mesa , sentado entre as feras , bebericando minha Pina Colada e apreciando o show .

'' Porra , cara , porque deu o cigarro para ela ? Eu não disse que tinhamos parado de fumar ? ''

'' Sinto muito , Carlo ''

Falei .

'' Meu deus , vocÊ trouxe aquela vagabunda aqui so para dar em cima dele , não foi ? Foi um golpe baixo esse o seu . Sei que não gosta de mim , mas agiu como criança ...''

Esbravejou a noiva .

'' Que se danem os dois ''

Falei . Me levantei e fui em direção a garçonete , ela não queria olhar nos meus olhos , tambem estava fudida comigo . Sobre o balcão estavam os talheres , peguei duas facas e voltei para mesa .

'' Toma ''

Disse eu , botando os cortantes sobre a mesa .

'' Façam o que acharem melhor ''

Falei , me virando e indo embora . Quando entrei no carro ouvi a noiva gritando alguma coisa sobre a conta .

'' Pague com seu sangue , piranha ! ''

Gritei de volta . Carlo não gostou e disse algo .

'' Seria melhor que você transasse com sua mãe a ficar com essa mulher , amigo . Mas agora ja e tarde demais ''

Dei a partida e fui para casa . Precisei tomar duas doses de tequila antes de dormir . Aquela cena havia acabado comigo . Eu estava no almoço quando a secretaria da D.S.T apareceu na minha sala e disse que tinha uma garota chorando na recepção .

'' O que você aprontou a ela ? ''

Soltou a secretaria sem ressentimentos . Me levantei e fui ver quem era . E para minha surpresa era a noiva .

Estava fedendo a bebida barata e a maquiagem escorria por seu rosto .

'' Ele terminou comigo ! ''

Soluçou ela , caindo sobre meus braços . Bem , em meus sonhos aquela seria uma cena que me alegraria o espirito . Mas não foi bem assim . Aquilo causou um reboliço na boca do estomago . Não foi tão divertido ve la sofrer daquele jeito . A secretaria me olhava de uma forma acusadora . Passei por ela e informei .

'' Não fui eu ''

Ela não gostava muito de mim desde que sai com sua irma depois de terminar com propria . Levei a noiva até a cozinha e servi um copo de agua . Estava tremendo .

'' Não sabia o que fazer . Liguei para alguns amigos mas todos estavam ocupados demais para me ouvir ''

soltou ela entre soluços e espasmos nervosos . A acomodei numa cadeira e me sentei a sua frente do outro lado da mesa . Eu não sabia o que falar .

'' Sabe , acho que eles não gostam de mim , acho que nunca gostaram . ''

'' E verdade ''

Falei . Ela não ouviu .

'' Pelo menos você nunca mentiu . Sempre deixou bem claro sua opinião .deve estar feliz me vendo assim ...''

'' Eu queria estar feliz , mas não estou . ''

Falei , e ela se pos a chorar mais . Na porta a secretaria estava pregada observando tudo .

'' Não vale a pena chorar por esse filha da puta , garota . Ele não merece suas lagrimas .''

Me levantei e fui até a porta . Pensei em dar uma cusparada no seu rosto , mas achei melhor não .

'' De o fora ''

Disse eu .

'' Quem pensa que é para mandar em mim ? Nunca deixarei vocÊ sozinho com essa menina ...''

'' Diabos ''

Falei batendo a borta no seu nariz .

Quando me virei a noiva estava de pe atras de mim .voltou a cair nos meus braços .

'' Opa , espera ai ''

'' Eu o amo , o amo tanto ...''

'' Mas ele não ama você . Na verdade e tudo mentira . Os dois iriam acabar se matando . Carlo é um cara bom e você o estava transformando num porco . Você e uma piranha , mas não uma vagabunda , uma puta , se me entende . Quando digo que é uma piranha me refiro ao animal , pois devora todos que tem um pouco de vida a sua volta e os transfoma em carniça ...''

Não sei porque falei essas coisas , mas elas acalmaram a noiva .

'' Ninguem nunca me disse isso ''

'' Desculpa . ''

'' Não , eu gostei ''

'' Gostou ? ''

'' Estranho , mas ouvir essas coisas ...se alguem tivesse me dito isso antes eu poderia ter mudado ...''

Foi ai que senti pena dela . Era apenas mais uma mente perdida no mundo . Agia como agia porque todos fingem ser alguem ou gostar de alguem . Ja mais calma ajudei a lavar seu rosto na pia . A maquiagem escorria por cima de pratos e copos sujos e engordurados .

'' Descobri que Carlo tem outra ''

Contou , tranquilamente .

'' Sabia disso ? ''

Perguntou . Falei que não .

'' Bem , ele me disse ontem depois que me deixou em casa . ''

'' O direito e mutuo''

Falei .

'' Não sei não . Acho que vai demorar para conseguir me relacionar com alguem seriamente ''

Acendi dois cigarros e passei um para ela .

'' Agora você não precisa mais se preocupar , não estão mais juntos ...''

Ela riu puxou o Nariz . Vi outra pessoa diante dos meus olhos . Ja não me era mais alguem repugnante como antes .

'' Prazer , Walesca ''

Disse ela , quebrando o silencio estendo a mão .

'' Como ? ''

Perguntei , sem entender .

'' Acho que não e tarde para recomeçar ''

Falou , com o verde de seus olhos se misturando com o vermelho das lagrimas . Senti que poderia gostar daquela pessoa .

Ficção é a vida melhorada - Charles Bukowski

18/06/2013

09h59m

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 18/06/2013
Reeditado em 18/06/2013
Código do texto: T4346981
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