Verde dos seus olhos

Não gosto de elevadores. Sinto a pressão me levar. Não suporto ser levado por algo além da minha capacidade própria. Além de algo que eu possa dominar.. Ter o controle. Me despeço nesse fim de tarde sabendo tudo o que sempre soube: que sua capacidade de defesa é doentia, exagerada. Demasiadamente desnecessária quando contra alguém que te ama. É... Alguém que te ama. Por que mesmo sabendo que dentro de você viveu uma mentira, ou um conjunto delas, por três anos te amou mesmo assim. Mas agora não sabe por quanto tempo pode durar. Sei que me faço enganar o tempo, os dias. Que para você é satisfatório, e tudo, apenas o que você possa alcançar. Que não sabe se descobriu o amor nesse vácuo absoluto do tempo. E então entramos no tempo de novo. Somos novamente três anos. Descascado, amargurado, doloso, perdido. Mas nada muda. Não sei mais o que é ter coragem sobre você, já que não posso mais sobreviver sobre mim. Perdido nos dias, tudo o que sei fazer é mecânico. Foi imposto por uma ordem complicada. Então posso ler sua mente. Você vai dizer que o curso de direito é para quem não sabe o que quer. Não adianta tentar esconder que você escutou isso de alguém, leu numa revista, ou numa série, ou filme. Agora lembro que alguém tenha dito isso e você reproduz como uma opinião sua. Lembro porque estava do seu lado quando alguém disse. Coisa de bar. E você carrega isso, já que não produz opinião. Nesse momento você vai me ofender. Sei, porque você se sentiu acuado agora. Então você nega novamente. Alguém vai dizer que seu jogo baixo é porque você não sabe perder. Mas, vamos deixar essa sua história de defesa de lado. Vamos falar sobre as outras pessoas: costumo ouvir que você não se ama. Deve ser por esse motivo que tenho a sensação de sujeira e fracasso quando estamos juntos. E por esse motivo desisti de esperar algo de você. Sinto sua vontade perdida. E que você não tem mais que o tempo. O tempo de esperar seus pais morrem, e você dividir a casa de três cômodos com seu irmão fracassado. E nesse meio tempo você por-livre-e-espontânea-força, ganhar dez reais à cada dois dias do seu pai que se aposentou por cansaço de você, e da 'outra coisa' que ele chama de filho. Nessa noite, ele me confessou que morreria feliz longe de vocês dois. Só ele e um barco que o levasse mais longe ainda. Sorri e dei a maior força. Se ainda tivesse algum dinheiro guardado o ajudaria. Mesmo sabendo que ele voltaria com medo de vocês brincarem de assassinos, traficantes e vertentes. Ele sempre me conta histórias de como sempre tentou fazer o melhor por vocês todos. Mesmo errado, e ainda querendo errar, porque foi ensinado dessa forma. Não o culpo por você ser quem é. Seria honroso você ser um terço do que ele é. Mas você hereditáriou-se de si mesmo. Um veneno para você mesmo e para quem se aproximar de você. Por isso me despeço. Tenho a intenção de nunca voltar. Não quero esperar que desgaste mais o que já foi desgastado. Ou ficar em um lugar por ficar. Ou comer por comer. Gosto de sentir fome. Gosto de comer mesmo quando você diz que engordei. Quando como me sinto preenchido, sem espaço para você. Nesse espaço preenchido pela comida, não preencho com desculpas, ou histórias que me façam voltar nessa cidade. Então como todos os dias. Sinto algo se recuperando dentro de mim enquanto a comida desce ao longo da semana. Mas para o desespero de algumas pessoas, existe o domingo. Nesse dia não há alimento. Ninguém se prepara para cozinhar no domingo. Então você liga. Te atendo. Você está com a voz calma. Conversamos como amigos. Desligamos como amantes. Não haverá comida no dia seguinte. Nem trabalho. Nem prova. Nem nada. Nem você. Não há retorno seu. Não existem respostas. Algum dia vou receber uma mensagem sua dizendo que foi tudo um erro. Que você se precipitou sem saber. E eu vou rir. Vou manipular o desespero nas minhas vontades. Você me odiará. Voltamos ao fim.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 04/07/2013
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