Um começo novo em folha

Sensação de déjà vu, era isso o que eu sentia naquele momento. Ali estava eu, sentado no mesmo banco alto, apoiado no mesmo balcão do bar depois de cinco anos desde que a conheci ali. Quem era ela? A bartender.

Há cinco anos eu havia chegado aqui para beber com uns amigos e logo em seguida ela chegou.

- Desculpa o atraso – disse sorrindo para o cara que talvez fosse seu chefe.

Ela tirou o casaco pesado e longo já que, por mais que do lado de fora daquele estabelecimento fizesse frio, ali dentro parecia outra estação. Por baixo daquele casaco ela vestida o uniforme e com certeza ele ficava mais sexy nela do que naquele cara que vestia um igualzinho. Não era curto nem exagerado, era apenas uma calça preta justa e a camisa verde com um decote não muito grande, mas já que por si só ela já era linda e sexy...

Era até engraçado ver como os caras davam em cima dela, principalmente os que já estavam bêbados. Eles a chamavam de gostosa e coisas assim. Ignorando eles, ela se debruçou sobre o balcão na minha direção.

- E você, talvez o único que não tenha me cantado, vai querer o que?

Pedi qualquer coisa e depois de um tempo não resisti a pedir o número do telefone dela. Deu certo já que hoje faz cinco anos que estamos juntos.

Alice gosta de fazer isso todo ano. Ela volta aqui comigo todo dia 16 de julho – ela diz que é como se fosse um começo novo em folha – nós fingimos que não nos conhecemos e realmente fazemos um novo começo. Depois de dois anos, ela terminou sua faculdade de arquitetura e agora trabalha aqui quando quer já que é amiga do dono e gosta de ser bartender, fazer drinks e essas coisas. Por esse motivo consegue voltar todo dia 16 de julho.

Por mais que seja clichê, durante anos eu pensei que era loucura esse lance de amor (e talvez realmente seja, não?). Observando e ouvindo outras pessoas, acabei vendo ele como um barco que vai afundando aos poucos, mas depois que Alice apareceu... Bom, ela me fez mudar meu pensamento.

Lembro-me como se fosse hoje de quando ela finalmente conseguiu um emprego na área que queria e eu comecei a pensar em como ficaríamos cada vez mais distantes, nos vendo menos e coisas assim. Ela me abraçou e disse que eu deveria enxergar essa mudança de um jeito diferente. Seria a oportunidade para morarmos juntos finalmente e que essa mudança seria ótima pros dois. Tive que concordar que não seria ali que nosso barco afundaria.

Nós brigávamos, ela era ciumenta demais e eu também não ficava muito para trás, ela me fazia rir e chorar e vice-versa, nós criamos os móveis da nossa casa, nós construímos muita coisa juntos.

Sentado ali, depois de cinco anos, eu a vi chegar e tirar seu pesado casaco, sorrir e começar a preparar os drinks. Eu ria vendo aqueles caras cantando a minha mulher porque eu sabia que era eu quem levaria ela para casa. Com aqueles cabelos castanhos encaracolados, pele morena e um sorriso lindo e brilhante, ela provocava aqueles homens sem precisar fazer muita coisa, era só estar ali para atrair olhares.

Enquanto observava ela trabalhando, eu tinha a certeza de duas coisas. Primeiro: eu era abençoado por saber que ela era minha. Segundo: não há nenhuma amante como a que eu tenho.

Debora Santos
Enviado por Debora Santos em 18/07/2013
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