Eu amava a vida que tinha.
Festas, bebidas e mulheres eram a tônica que alimentavam minha vida.
Não me preocupava com nada. Era apenas viver intensamente e deixar que acontecesse o que eu queria.
Uma vida desregrada e sem preocupações.

Tinha meu próprio negócio que andava estabilizado sem riscos de fracassos. A área da construção civil pode ter alguns meses em baixa, mas está sempre em alta. Todo mundo quer um lugar só seu para morar, e a população só faz crescer a cada dia. Assim eu me mantinha como empreiteiro de obras, e podia me dar ao luxo de gastar parte do que ganhava sem medo de perdas financeiras.
Adorava pegar meu carro, um Maverick preto, e nas noites para realizar as minhas farras. Não pensava em um compromisso sério com nenhuma mulher. Queria me divertir e elas também. Então unia o útil ao agradável. Festas, mulheres e vinhos.
Mas ninguém está livre de uma paixão inesperada. Ninguém é imune a isso, só que eu não sabia.
E foi o que me aconteceu naquela noite quente de verão.
Eu tinha 40 anos. Estava separado há mais de um ano. Minha esposa havia me abandonado sem me dar uma única expli-cação. Simplesmente cheguei em casa e ela havia deixado um bilhete: “Adeus! Até nunca mais!” Foi um choque e tanto. Até o dia anterior parecia tudo normal e de repente ela saiu de minha vida deste modo. Naquele dia eu fiz um juramento a mim mesmo: Nunca mais me casaria, e não levaria nenhuma mulher a sério. Seria somente diversão.
Moreno, 1,72 de altura, com cabelos começando a ficar grisalhos, não era bonitão, mas tinha meus charmes e atra-tivos.
Agora estava ali naquela festa que meu amigo Ricardo havia me levado. Eu e ele somos muito unidos. Sempre saímos juntos e acabamos nos divertindo como dois jovens descom-promissados de quaisquer responsabilidades.
Meu nome? Havia me esquecido de apresentar. Me chamo Rafael Costa Amorim. Os amigos mais íntimos me chamam de Rafinha.
A festa estava a todo vapor. Só gente bonita e alegre. Logo eu estava em companhia de uma garota que se chamava Glória. Um pedaço de morena que quando andava, rebolava aquele seu belo traseiro com muita provocação.
De repente quando eu me virei para trás, vi uma garota linda acompanhada de uma outra mais nova que ela. Nunca a tinha visto antes. Morena clara, cabelos lisos e negros que desciam em suaves cachos até seus ombros. Tinha um olhar terno, e uma altura aproximadamente de 1,65 m.
Fiquei impressionado.
Deixei Gloria por alguns instantes e me aproximei daquela bela garota.
- Boa noite – disse olhando em seus olhos.
- Boa noite – respondeu mostrando surpresa e desconcertada.
- Eu me chamo Rafael. Estava ali e ao te ver não me contive. Achei que devia vir falar com você.
- Assim do nada?
- Não poderia deixar de te conhecer. Como é seu nome?
- Cláudia. Agora já me conhece, já pode voltar para a sua acompanhante.
Se ela sabia que eu estava acompanhado, então ela já havia me observado.
- Tudo bem. A gente se ver por ai. Foi m prazer te conhecer.
Voltei a ficar na companhia da Glória. Vez por outra trocava um olhar com Cláudia. Ela despistava como se não tivesse me visto olhando, e continuava conversando com sua amiga.
Acabei levando Glória para um motel onde terminei minha noite transando com ela, mas com o pensamento em Cláudia.
Passou-se uma semana sem que encontrasse Cláudia nova-mente. No domingo fui a praia com Ricardo e para a minha surpresa, dei de cara com ela. Como eu, estava acabando de chegar na praia. Me aproximei  e depois de dar um “bom dia”, perguntei se eu e Ricardo poderíamos nos sentar ao lado delas.
- Claro que podem. Não tem problema algum.
Sentamos-nos e observei quando tirei a camisa que ela olhou meu tórax com um olhar de curiosidade. Parecia querer descobrir algum defeito nele.
Ela usava um biquíni azul escuro, e a amiga usava um vermelho. Então fiquei sabendo que a amiga se chamava Flávia. Elas eram bem feitas de corpo. Os seios de Cláudia não eram grandes, e notei que eram bem duros. Passamos um dia maravilhoso. Cláudia sempre bem humorada me deixava muito à vontade para puxar assuntos.
- Se importa de dizer-me a sua idade – perguntei.
- De modo algum. Tenho 19 anos. E você?
- Tenho 40 anos.
- Já foi casado?
- Sim, e abandonado. Até hoje não sei o motivo. O divorcio ainda não pude pedir, porque não sei o paradeiro dela.
- Ela deve ter te deixado porque você andou aprontando.
- Não. Eu não a traia. Levava uma vida caseira. Realmente desconheço o que deu nela. Só então passei a levar uma vida de diversões.
- Então ela devia ter alguém.
- Também pensei nisso. Fazer o que? Não podemos obrigar a ninguém a gostar da gente.  
- Por isso eu evito gostar de alguém. Não confio muito nos homens.
- E em mim você confia?
- Não. Conheço a sua fama. Está sempre mudando de namoradas.
Isso que ela disse me deixou desconcertado. Bem feito para mim. Realmente andei mudando de namoradas constan-temente.
- Não pretendia ter nenhum relacionamento sério. Por que então eu iria me amarrar? – me defendi na esperança de fazê-la mudar de idéia a meu respeito.
- Acha que outra mulher na sua vida te seria infiel?
- Não se trata disso. Apenas quis dar um tempo.
Durante a conversa que se seguiu notei que ela estava mais confiante ao meu respeito. Mudamos aquele assunto chato de infidelidade, e passamos a conversar de coisas mais interes-santes.
Ao final, marcamos de nos encontrar a noite em sua casa. Senti que eu estava sendo correspondido e isso me deixou mais seguro.
E foi assim que começamos a namorar.
Nunca mais eu andei com outra mulher. Para mim só existia Cláudia, e isso me bastava.
Durante seis meses eu só saia com Cláudia. Fizemos amor aos 4 meses de namoro. Foi um dia que eu senti realmente ser feliz ao seu lado. Nunca ia esquecer aquele lindo momento.
Foi então que o destino aprontou uma peça contra as minhas pretensões.
Sai com Ricardo para uma festa e não levei Cláudia. Bebi além da conta, e estava agarrado com uma garota quando vejo Cláudia diante de mim. Seus olhos estavam vermelhos e cheios de lágrimas.
Não disse uma única palavra. Virou as costas desapareceu.
- Nunca mais a vi. Não atendia as minhas ligações. Se eu ia à sua casa, a mãe aparecia e dizia que ela não estava. Depois passou a me dizer que ela havia viajado.
Larguei aquela vida de farras. Estava me sentindo um crápula e nada mais me interessava.
15 anos se passaram e eu sem nunca mais querer saber de outra mulher. Também não tinha uma única noticias de Cláudia.
Um dia tive que fazer uma viagem de negócios em Belo Horizonte. Deveria passar alguns dias naquela cidade. No segundo dia que estava lá, tive que ir a um supermercado comprar creme de barba e aparelho de barbear.
Resolvi que deveria comprar alguns biscoitos e fui até a seção para escolher. Não notei quem estava ao me lado também comprando biscoitos, até que ao me virar para pegar um pacote, dei de cara com Cláudia, bem ali ao meu lado. Linda como nunca eu imaginei ver.
Ficamos ali parados nos olhando sem trocar uma só palavra. Pude ver o quanto ela estava assustada ao me encontrar, e eu também estava, talvez até mais que ela.
Falamos ao mesmo tempo:
- Você?
Isso fez com que a tensão baixasse e um sorriso escapasse de nossos lábios.
- Oi Cláudia. Que bom te encontrar novamente – as palavras saíram aos pedaços, tal a minha emoção.
- Como tem passado Rafael? Estou surpresa em te encontrar.
- Eu também. Nunca pensei que depois de 15 anos ia te encontrar, e logo num supermercado.
Ela deu um lindo sorriso e perguntou:
- Você se casou?
- Não. Nunca esqueci uma mulher que amei, mas ela não quis saber de mim...
- Tolice Rafael. Pode encontrar alguém que te faça feliz.
- Só seria feliz com ela. E você se casou?
- Como um dia eu te disse, não confio nos homens.
Ela disse estar com pressa e quando ia se despedir eu entreguei-lhe meu cartão e falei:
- Se aceitar jantar comigo, me ligue que terei o maior prazer.
Nos despedimos e voltei para o hotel cheio de esperanças. Naquela noite ela não me ligou, mas na noite seguinte, às 19:15 horas meu celular tocou.
Era Cláudia.
- O convite para jantar ainda está de pé?
Respondi que sim com o coração aos pulos. Combinei pegá-la as 20:00 horas, e exatamente neste horário eu estacionei o carro diante do prédio dela. Não demorou e ela desceu... Vinha com mais alguém. Uma outra mulher. Fiquei extasiado olhando elas se aproximarem. Quando Claudia chegou perto do carro falou:
- Esta é a Márcia. Minha namorada...
Não esperei que ela terminasse. Dei partida no carro e sai de lá em alta velocidade.
Aquilo era demais. Não podia acreditar no que acabava de ver. Não podia aceitar que isso estava acontecendo. Tudo podia acontecer, menos isso. Assim já seria um castigo em dobro...
A namorada de Cláudia, a tal Márcia, era nada mais que a minha ex-mulher... Aquela que havia me abandonado sem uma explicação... 

Carlos Neves
Carlos Neves
Enviado por Carlos Neves em 14/08/2013
Código do texto: T4433998
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