Foge comigo?

Fugi, Não me orgulho em dizer isso. Não fui sozinha. Fugimos e não nos orgulhamos em dizer isso. Estávamos com medo de tudo, não tínhamos medo um do outro. Amávamos um ao outro.

Alugamos um fusca e dirigimos até a praia. Ele não gostava de areia, mas dormimos ali mesmo, pescamos estrelas até o amanhecer e o sol nasceu para nos mostrar o quanto havíamos bebido na noite anterior. Em minha cabeça acontecia uma festa de axé com heavy metal, sem minha permissão.

Quando a água do mar subiu em nossos pés, nos levantamos. O fusca azul estava exatamente no lugar onde o deixamos, porém sem gasolina. Colocamos um pouco da bebida, que por milagre ainda tínhamos, o fusca roncou e funcionou com louvor.

Paramos para almoçar, mas com o pouco que tínhamos conseguimos comer, pão com ovo e café,que ele gostava, eu bebi um pouco, por pura necessidade.

Uma garota e um garoto, dezessete anos cada, um fusca azul alugado que bebia mais que um alcoólatra, nas mochilas algumas roupas, balas e muitos papéis de balas.

Deixamos o fusca descansando, estávamos agora no centro de uma cidade praiana, muito convidativa por sinal. Mas era mais agradável para quem tinha dinheiro. Vimos duas crianças dançando, um círculo cheio de pessoas se formou em volta delas, dançavam muito bem, mas o que ganharam não valorizava sua dança. Então prometemos ajuda los, teriam uma apresentação a duas quadras dali, dançamos com eles, ganharam mais dinheiro que antes. Nos ofereceram metade, não aceitamos nada, éramos burgueses fugitivos, eles eram filhos da rua, não tinham para onde fugir.

- Não sabia que você dançava tão bem.- disse meu cúmplice/amante/namorado.

- Eu não sabia que você dançava tão bem- disse eu.

Rimos um do outro e fomos atrás do fusca. Deuses ! Como caminhamos, a lua já estava no céu e as estrelas todas a sua volta, contemplando a.

Andávamos abraçados cantando tempo perdido, com sorrisos encantados e encantadores brilhando em nossos rostos. Encontramos o fusca. Pegamos nossas mochilas e fomos dormir na praia, mais precisamente na casinha dos salva vidas. Sob a luz do céu passamos uma noite linda juntos.

Acordei com minha mãe me chamando, abri os olhos, estava em meu quarto, fugi por uma noite, e estava com uma vontade insaciável de te chamar para fugir, de verdade, para além das estrelas e só voltar quando as histórias fossem suficientes para encher páginas e páginas de livros.

Abri a janela e lá estava você, dentro de um fusca azul alugado, me chamando para dar uma volta.

Luiza Bruun
Enviado por Luiza Bruun em 19/08/2013
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