O número

Joguei o meu celular contra a parede. Sim, eu fiz isso. Podia ter xingado, gritado, me estressado... mas fiz esse ato de agressão inormal com o meu celular. Quando vi, ele estava lá, jogado e falido no chão, sozinho, abandonado. Aparentemente quebrado por fora, sem solução de conserto. Fiquei a fitá-lo, mas tive que acordar. Peguei o celular, fui colocando a bateria, o chip, cada peça que estava espalhada pelo chão, montei-o. Esperava que ele tivesse ruim, como queria isso. Se estivesse ruim, ia jogá-lo fora e comprar outro algum dia. Tão descartável, fácil de ser trocado. Como queria fazer isso para certas coisas da vida... Apertei o botão de ligar. Não respondeu. Espero que eu tenha conseguido destruí-lo, não importa se eu ficar um bom tempo sem celular. Ligou!! Ligou. Nem isso fui capaz de destruir, ele ligou. Não quero ver aquele número que estava gravado em minha agenda, na minha caixa de mensagens, nas minhas recentes ligações! Que droga, não quero... Eu tinha apagado o número da minha agenda, com isso, o meu chip não tinha salvado o número ainda. Por que coloquei o número de volta? Mas o celular ligou! O número está ali. Aquele número cujo mexe com os meus pés. Sem caminhos, o número está no meu celular, salvo. Teria perdido de vez se ele tivesse quebrado por dentro também. Afinal, o número não ia me ligar ou mandar alguma notícia. Eu que quero, eu que me importo com isso.

Se a sorte tivesse comigo, eu já estaria de luto pelo meu aparelho. Mas azar o meu. Ansiedade ronda o meu ser, a dúvida me consome. Definir o indefinido? O número está ali! É resolver o irresolvido. Só?!

Se tivesse me mandado um "oi" um "adeus", ficaria bem. Tudo estaria certo. Levaria os cacos durante o tempo até colá-los de novo. Mas estaria bem, saberia o que seria do futuro. Mas não, indefinido. Sem sim sem não. Sobrou o nada, a dúvida "é para ser ou não é para ser?". Não jogarei mais o celular contra a parede, não sirvo nem para quebrar objetos. O número está ali, está aqui.