Anos Dourados - Parte 1

Um quartinho em cima de uma cafeteria - Apresentação

O cheirinho de café recém-preparado invade o quarto alugado logo acima da cafeteria. Marcos acorda com o cheiro forte lhe invadindo as narinas e sua boca enche de água ao sentir este magnifico odor. Ficou deitado sem vontade de levantar por mais alguns minutos e então tomou coragem e se dirigiu ao banheiro para lavar o rosto. Parou em frente ao espelho e fitou seu rosto ainda sonolento, reparou assustado de como estava ficando velho, e que seus olhos não tinham o mesmo vigor que antes ostentavam. Na sua juventude tinha sido um belo rapaz e cheio de energia, era muito galanteador e todas as menininhas caiam aos seus pés, até que uma o encantou (não vamos com pressa logo chego lá). Sentiu saudade dos anos dourados e tudo o que tinha vivido, sem duvidas ele sabia que estava envelhecendo rápido demais e que enfim chegaria o dia que encontraria sua amada novamente. Quando terminou de se arrumar desceu as escadas e se acomodou no lugar de sempre na cafeteria, uma mesinha encostada no canto perto da vitrine, onde ele podia observar a rua e ler seu jornal matinal sem ser incomodado. A garçonete que já conhecia Marcos e seus costumes levou uma xícara de café preto forte com adoçante e um bolinho de baunilha, que ele dava só uma mordida e largava quase inteiro no pratinho.

- Bom dia Seu Marcos! Tudo bem com o senhor? - cumprimentou a garçonete toda radiante.

- Bom dia Sabrina. Tudo igual como sempre. E com você? - perguntou rabugento como de costume. Parecia que ele nunca estava feliz, mas por dentro ele era uma doce pessoa. Então acrescentou. - Vejo que esta feliz hoje minha jovem. Aconteceu algo de especial?

- Estou muito bem - e respondeu muito entusiasmada - Hoje irei jantar com aquele rapaz que comentei com você estes dia atrás - e reparando que Marcos não lembrava acrescentou - O da loja de equipamentos esportivos que me ficava "secando" com os olhos.

- Sim, eu sei quem ele é. Muito bom para você, mas não se alimente com muitas esperanças, na minha juventude era igual ele, não queria nada com nada e só queria saber de dar uns bons "pegas", como vocês hoje em dia dizem, no cinema. Lógico que isso até eu conhecer a fabulosa Isabelli.

Sabrina já conhecia esta história. Isabelli foi a primeira namorada séria de Marcos, tanto que eles se casaram. Uma história de amor como nos livros de Nicholas Sparks, que ela por sinal amava, cheia de paixão, carinho e aventura. Pena que no final desta história a "mocinha" acaba enferma e morre deixando o apaixonado Marcos sem ninguém para amar e assim amargurando sua vida. Sabrina tinha compaixão por Marcos e entendia, de certa forma, porque ele era assim meio carrasco. A vida tinha pregado uma peça muito triste levando a única pessoa que ele realmente amou embora.

- Pode deixar Seu Marcos não irei me iludir de novo, não quero nada sério apenas me divertir um pouco. - respondeu sem ligar para o comentário dele.

- Se você esta falando. - insinuou sabendo que ela ia se iludir e viria pedir conselhos dele, como era normal acontecer com a coitada. Ele até entendia porque isso acontecia, Sabrina era uma garota muito bonita, de cabelos encaracolados e olhos castanhos profundos, com uma pele branca por falta de sol. E não era bonita só por fora, mas por dentro também, cheia de simpatia e alegria, muito sonhadora, isto por causa destes livros baratos que ela lia, pensava Marcos, sendo assim vitima perfeita para cafajestes. - Espero que de certo desta vez. - concluiu antes que acabasse com os sonhos da pobre coitada.

Terminado o café ele foi caminhar pelas ruas como fazia habitualmente. Passava pela padaria do Seu Luís e conversava um pouco e logo em seguida ia até a praça tomar um pouco de ar. Ficava por lá uns 30 minutos e retornava para seu quarto em cima da cafeteria.

Chegou ao quarto cansado pela caminhada e sentou em sua cadeira almofadada na sacada do quarto. Já fazia uns 10 anos que ele morava neste quartinho, que conseguiu alugar por um preço bem baixo graças a amizade com o proprietário. Não era muito grande, mas bem confortável com um banheiro limpo, uma cozinha mediana e o melhor de tudo, a sacada que tinha uma visão muito boa da rua e proporcionava uma bela vista do telhado das casas da vizinhança e uma parte da praça local. Sentado lá Marcos revivia seus melhores momentos, tudo o que lhe fez feliz e todos os dias pegava umas poucas fotos que tinha e ficava olhando-as nostálgico.

Submerso em lembranças observou que sua vida era igual todos os dias, nos últimos 10 anos, deste de que perdera Isabelli e que o único acontecimento diferente eram as histórias de Sabrina enquanto era atendido. Momentaneamente deve uma vontade de voltar a viver e seguir em frente e ser feliz. Tinha vários anos na costa e não podia desperdiçar toda sua experiência, então uma ideia lhe veio a mente.

Levantou-se rapidamente e desceu mais rápido ainda. Adentrou meio afobado na cafeteria e procurou Sabrina com o olhar, localizando-a foi em sua direção. Ela estava no balcão arrumando algumas xícaras. Parou em sua frente e perguntou:

- Você me acha chato?

- Não Seu Marcos - respondeu assustada.

- Você gosta das histórias que conto para você? - perguntou apressadamente.

- Adoro suas histórias. Porque Seu Marcos? - perguntou preocupada em ter feito ou falado algo de ruim para ele.

- Por nada. É que tive uma ideia e estas eram as repostas que precisava. - e saiu apressado sem esperar uma resposta de Sabrina.

Foi à uma pequena papelaria e comprou um caderninho de anotação simples e duas canetas. Voltou até a cafeteria e correu para o quarto sem perceber que Sabrina estava lhe chamando. Sentou na cadeira e começou a escrever sem pensar muito. Sem titubear começou a escrever sua história no caderno. Começou com o titulo e uma dedicatória.

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Continua...

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Henrique Simão de Oliveira

Henrique S de Oliveira
Enviado por Henrique S de Oliveira em 12/11/2013
Reeditado em 19/11/2013
Código do texto: T4567963
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