Fantasias e Ironias

De fato, tenho que concordar quando João Pedro diz que para ser morador de vila é preciso vocação. Morador de vila compartilha tudo que a vida oferece de bom ou mau, inclusive, prazeres! Eu que o diga! Basta o Borges, um caixeiro viajante que Sofia conheceu numa de suas viagens para Minas Geraes chegar, para a rotina da vila mudar. De quinze em quinze dias, o tal amante lhe surpreende a porta com um ramalhete de flores numa mão, um bom vinho na outra, e um olhar sedento de saudades que dá inveja ver. As poucas noites que passa em companhia de Sofia abundam gemidos, sussurros e tantas declarações obcenas, que faz transpirar as paredes vizinhas. Vale à pena perder o sono ouvindo-os interpretar o amor mais íntimo que sentem. As noites dos amantes são mágicas, delirantes e contagiantes também. Inclusive, dizem as más linguas que o casal de amantes adora encenar suas fantasias íntimas.

Santo Expedito que me perdoe, mas casa germinada é parede com parede, impossível ignorar. Eu até que tento, mas tudo que presta e o que não presta, viola o reboco fino e me surpreende. Até confesso que a tal da fantasia íntima tem tornado minhas noites mais excitantes também. Ainda lembro da noite em que resolveram encenar o" Vampiro Tarado". Borges parecia até ator de verdade. Emitava com perfeição a gargalhada do Conde Drácula, que até me arrepiou ouvir sua voz grossa intimidando a amante indefesa prestes a ser cravada pelos dentes caninos afiados, em seu pescoço. Só de ouvir me fez corar e imaginar coisas que nunca pensei que pudesse. Daty, a vizinha da direita, disse que até teve febre naquela noite. Tem gente que só prega os olhos amanhecendo o dia! Parece seriado de TV! Mas, o tal de Borges tem mesmo talento para o negócio de sexo. A última que inventaram foi o conto do Chapeuzinho Vermelho. Encenaram a trama do clássico infantil no pequeno quintal. Deu pra ouvir os gritos de Sofia encenando a pequena chapeuzinho, apavorada de medo com as investidas do lobo mau!

Certa noite, Sampaio, chegou cansado, tomou um banho rápido, se perfumou e até dispensou o jantar e foi se sentar a sala. Enquanto desfolhava o jornal, comentou que vira o Borges passar indo em direção a casa de Sofia. Meu coração acelerou de alegria, que nem deu pra disfarçar.

_ Mulher...Contenha-se! Falou abandonando o jornal sobre a mesinha me chamando pra mais perto dele. Sentei-me ao seu colo bem de mansinho e lhe beijei o rosto com carinho...

_Não dá pra morrer não. Respondi baixinho.

Ele deslizou os dedos por entre meus seios olhando firme nos meus olhos que o ato me roubou o ar. Então, levantei-me rápido ajeitando o vestido e disfarçando a face rubra que me tría.

_ O que será que Sofia e Borges vão inventar dessa vez? Perguntei curiosa. Sampaio sorriu-me com um olhar safado e repondeu baixinho no meu ouvido:

_ Seja o que for, a noite promete!

Marisa Rosa Cabral.

Marisa Rosa
Enviado por Marisa Rosa em 02/12/2013
Reeditado em 21/05/2016
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