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GOLPE PERFEITO
 
          O ano velho terminara há poucos minutos. O velho Eusébio anunciou que o ano que acabara de entrar era muito significativo, pois sua filha Vilminha iria se casar com Zezão. Uma grande festa se esperava lá pelos meados do ano que se iniciava. O convite já havia se estendido para toda a região. Alguns inimigos do velho fazendeiro poderiam tentar atrapalhar tudo. O noivo era José Prata (mais conhecido como Zezão) era de pouca conversa. Velho, dentes de ouro, não dado a muita higiene. Vilma o detestava. Devido ao dinheiro, seu pai estava obrigando-a a se casar com ele.

         O inferno pra moça já havia começado. Como viver o resto da sua vida com alguém que não gostava? - Perguntava a si mesma. Lembrava com dor no coração do jovem David, filho de um empregado da fazenda; o qual foi seu colega de escola. Só porque o pai desconfiou que os dois se gostavam despachou aquela família querida de suas propriedades. Fez uma injustiça grande. Simplesmente mandou a família embora, deixando-a numa situação difícil. Mas como para todo o sacrifício há a semente de um benefício maior, conseguiu trabalho numa fazenda vizinha. Eram muito queridos na região.

         David e Vilma desde criança se amavam. Continuavam a se encontrar às escondidas. Alguns empregados sabiam, mas guardavam segredo. Os dois cresceram, amando-se cada vez mais. Os locais de encontro eram sempre no mato ou no galpão da fazenda onde o jovem trabalhava. Algumas vezes fora na casa de Juvenal, pai do rapaz, quando este não se encontrava ou estava trabalhando em outro lugar.

          Eusébio cevava alguns bois, porcos, cabritos e carneiros para a festa da filha. A alegria do velho era a tristeza de Vilminha. Quando o noivo vinha visitá-la, esta fingia que estava doente para não vê-lo.

         Zezão sabia que ela o detestava. Ele e o futuro sogro contrataram alguns jagunços para vigiar a festa de casamento. Estes tinham que ficar de prontidão, caso fosse necessário...

         Davizinho economizou algum dinheiro de seu trabalho. Um dia combinou com a namorada que iria estar ausente por alguns dias. Viajou para uma cidade grande, a qual revelou apenas para o amor da sua vida. Voltou com alguns pacotes e caixas. Vilma guardava segredo. O golpe estava tudo projetado. Era só colocar em prática.

         O noivo ricaço comprou o terno do casamento em Paris. O vestido da noiva foi comprado no Brasil mesmo. Eusébio não se casou novamente, desde que sua esposa faleceu por maus tratos, segundo o que dizem. Nenhuma mulher da região teria coragem de viver ao lado de um homem ruim que só pensava em dinheiro.

           O padre Vantuir se recusou a fazer o casamento, pois sabia de toda história. Tratou com David e Vilma que ajudaria a atrapalhar naquilo que lhe fosse possível. Combinou que iria dizer que havia convidado outro vigário para realizar o matrimônio.

         O medo e o pavor tomaram conta da noiva. O dia se aproximava. O rapaz teria que fazer algo, mesmo que isso lhe custasse a vida. Afinal de contas, os dois se amavam  muito. O plano estava pronto. Os pais de David mudaram para outro Estado. Estes sabiam de tudo. Mesmo contrariando-os, o jovem resolveu ficar. Não tinha pistoleiros aliados ao casal apaixonado. Apenas um grande amigo de Vilma, que esta o apresentou a Zezão e ao pai, como convidado seu.

         Os preparativos para o grande evento já estavam prontos. O civil e o religioso  seriam realizados ao mesmo tempo. O velho e o noivo fizeram reunião com os jagunços para delinear a trajetória para cercar a igreja, e não deixar que ninguém estranho se aproximasse. O medo do velho latifundiário era porque tinha muitos inimigos. O que este não temia era do namoradinho da sua filhinha. Este se criou em suas fazendas e era o mais fraquinho de todos os que o odiavam.

         David, Beno amigo de Vilma e o padre Vantuir reuniram-se rapidamente para combinar uma estratégia de fuga para a noiva. Arrumaram uma maquiagem para o jovem.

         Bigode e barba postiça, óculos com lentes fundos de garrafa, uma peruca e um chapéu, que nem foi necessário usar. Todos estavam arriscando a vida,, inclusive o padre. Algumas mortes eram quase na certa. Uma trajetória foi Beno fazer amizade com os guarda-costas.

         Chegou à hora do casamento, o vigário não estava. Os noivos, os  padrinhos e convidados na igreja. A noiva aguardava na porta, .. Nem de Vantuir, nem do outro padre, conforme havia se falado. O que fora convidado para a realização do mesmo.  De repente... surge um carro. No veículo se encontrava Beno no volante em companhia do padre Vantuir. O automóvel ficou ligado. Os capangas não fizeram nada, porque nem desconfiaram que um golpe estava prestes para acontecer..

       No altar, vindo da sacristia, surgiu alguém trajado de padre, com paramentos, mas estranho de todos.  A noiva e seus aliados sabiam quem era.  O estranho vigário: magro, estatura mediana, de barba, bigode, peruca loira e curta usando óculos com lentes grossas. Após a saudação com sotaque diferente aos “querridos irrmons”, apresentou-se como padre Bernardes, convidado do seu grande amigo e colega, o sacerdote responsável por aquele rebanho de fiéis.

     
      - É uma alegrria mui grrande realizar a unión destes marravilhossos irrmóns, José Parrata e Villma Ferrera. - Disse o “vigário”, com um tom de voz diferente, bem disfarçado e pausadamente.

         Quando falou isso, o pai de Vilma e Zezão  abriram um largo sorriso. A noiva ficou séria, e apreensiva... Havia chegada  sua hora...  Em seguida um coral contratado pelo noivo cantava a versão de uma música alemã, propícia para o dia. O estranho padre entrou como quem iria para a sacristia, saiu pela porta dos fundos e foi até ao carro de Beno. Sem que ninguém notasse, saiu a noiva e entrou no veículo. O amigo de Vilminha saiu cantando pneus. Só depois de um tempo é que os presentes se deram conta da falta da noiva e do padre na paróquia.

         Os pistoleiros começaram a discutir entre si. Um acusava o outro de incompetente. Nisso o velho endiabrado gritou:
         - Seus covardes! O que estavam fazendo que deixaram isso acontecer? Hein? O dinheiro que paguei para vocês, como é que fica?

         Tanto o velho como Sr José Prata, o noivo, sabiam que se não pagassem o combinado, morreriam. Aí com muita raiva, Eusébio fez um cheque para cada um, e os mandou embora. Estava pago o restante, mesmo com o serviço inacabado...

         - Se trouxerem um daqueles cães morto, vocês vão ter mais dinheiro e emprego nas nossas fazendas. Caso contrário, esqueçam...

         Os bandidos foram atrás, mas não sabiam que rumo pegar. A equipe do carro da fuga foi até ao aeroporto, aproximadamente a cinquenta quilômetros do local que seria realizado o matrimônio. Quando chegaram, esperava por eles, um bi motor do amigo de Vilma, que os levou para outro Estado. O carro dali em diante foi dirigido pelo próprio padre, que seguiu um destino combinado com Beno e o casal apaixonado.

         O padre Vantuir renunciou o celibato. A paróquia ficou abandonada, toda quebrada de balas. O velho fazendeiro deserdou a filha, não a considerando mais como tal. David e Vilma se uniram. O amor venceu. Foi mais forte. Os dois passaram a viver humildemente, sustentando-se apenas do fruto do trabalho de uma pequena fazenda.

         A tão pomposa e milionária festa acabou acontecendo o contrário. Tantos cuidados... Jagunços perigosos... Tantas reuniões com pistoleiros e empregados... Dinheiro e mais dinheiro...  Mas o que ninguém imaginava que disfarçadamente de barba, bigode, peruca e óculos, David estava entre todos os presentes, sem que ninguém desconfiasse e conseguiu roubar a noiva da igreja. O jovem se escondeu de todos, dentro da batina e paramentos...
 
(Christiano Nunes)
 
 
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